Capítulo 19 - A Entrega das Flores

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Ana estava tão confusa.

Ela não sabia a mistura de sentimentos que sentia: ora perdia o fôlego de nervosismo de ta perto do rapaz que a observava da janela e dele nada pode descobrir. Ora respirava aliviada, pois tinha certeza que ele não era um psicopata que a qualquer momento iria atacá—la. Isso ela pode constatar na floricultura. Não tinha um perfil agressivo, ao menos ali, como vendedor e ela como cliente. Mas, e eu como vizinha?

Bem, isso ela não podia ficar martelando na sua cabeça. Se tivesse acontecido algo vindo de algum membro da família Aomi, eles não teriam um grande comércio na cidade e a senhora Mércia iria falar pra ela caso tivesse algum histórico de tragédia na família. Pequenas cidades adoram esses tipos casos.

Ana chegou em casa e tomou um banho relaxante. Ainda conseguiu trabalhar um pouco. Estava mais focada e disciplinada agora na casa nova com suas tarefas. Naquele momento, ficou ansiosa para a chegada de suas flores e plantas para decorar a casa. Era uma animação ingênua dela, que ainda não tinha sentido desde que se mudara, ainda mais com algo tão simples como flores para decoração. Nunca se interessou por essas coisas desarrumar cantos da casa. Para ela, na cidade grande, seu espaço contendo uma cama, uma geladeira, uma mesa e um computador, era tudo o que se preocupava. Qualquer coisa a mais disso eram caprichos que não gostava de perder tempo. Não se lembrava a ultima vez em que comprou alguma peça decorativa para a casa onde morava na cidade. Desde que se mudara para o apartamento alugado na cidade, ela já entrou lá com quase tudo pronto.

Mas agora era diferente, ali na casinha que era dela, o ânimo de poder arrumar e fazer do seu jeito a animou muito. Vovó, será que a senhora iria gostar de tulipas roxas?

Já era noite quando Ana voltou a realidade. Estava mergulhada em pensamentos de como ficará sua casa, com flores, plantas e, claro, Juca Aomi. Ela, de fato, não tinha conseguido todas as informações que esperava que iria ter indo à floricultura. Juca foi preciso e não a ofereceu quase nada sobre ele, apenas dando respostas vazias. Sequer ele sabia o nome da Ana, com isso ela não sabia se ficava aliviada ou decepcionada, e ria sozinha. Meu deus, que dia louco foi esse?

Estava sem apetite para janta. Comeu um lanche rápido e subiu para seu quarto. Naquele momento, não teve coragem de ir até a varanda. Afastou só um pouco a cortinha e colocou metade de sua cabeça para fora. A casa da família Aomi estava toda escura. Deviam estar todos dormindo já, já passou da hora da jantar. Na janela do segundo andar, Ana não viu Juca a espiar, estava fechada. Ela foi dormir tranquila aquele dia.

*****

Ana abre os olhos e se estressa ao acordar de um profundo e gostoso sono. Ouvia um barulho. Mas que droga, é essa?

Quando fecha os olhos novamente para tentar voltar a dormir de novo, percebe que o barulho vinha da parte de baixo da casa. Alguém estava batendo na porta com força. Ela olhou seu celular; ainda era tão cedo para seus parâmetros de horários.

— Qual o problema com essa cidade? – ela resmungou, tentando achar o chinelo que estava embaixo da cama e esfregando seus olhos que ainda estavam pesados de sono.

Enquanto descia as escadas, arrumou como pode os cabelos e esfregou o rosto a ponto de deixar mais apresentável. Estava usando seu pijama azul claro com um shortinho e uma regata confortável de tecido leve. Arrastava os pés até chegar à porta.

Assim que ela abre a porta, a claridade do dia irrita seus olhos, o que a faz colocar a mão na frente e tentar focar para ver quem batia na porta.

— Oi, bom dia – ela ouviu primeiro antes de ver quem seria. Mas só pela voz ela já pode saber quem era; era Juca Aomi.

Na hora ela arregalou os olhos e pode focar sua visão nele, ali parado na porta da sua casa. Estava sério como Ana já estava acostumada em vê—lo.

— Oi – ela falou, ainda confusa das idéias e de ter acordado tão cedo.

Vendo a confusão no semblante de Ana, Juca falou:

— As flores. Esqueceu? Lembra que você comprou flores onde na loja? Vim entregar suas compras.

— Claro que eu lembro – Ana falou, tentando arrumar o melhor que pode seu pijama. Sentia—se desleixada e com a aparência péssima. – Só não entendo pra que entregar tão cedo.

— São nove e meia da manhã, Ana – Juca disse calmo, porém Ana notou uma certa e leve bronca de sua parte.

— E isso não é cedo pra você? – Ana o desafiou, tentando manter—se séria, para não passar imagem de preguiçosa.

— Nem para mim nem para a cidade. Todos já estão acordados.

— Porque não sabem viver – Ana falou em protesto e ainda muito séria, sem dar o braço a torcer. – Não sabem viver, só pode. Onde já se viu fazer entrega a essa hora da manhã nas casas dos outros.

— Bem – Juca falou. – As flores e plantas estão aqui. Quer que as leve de volta e as entregue outro horário... tipo mais tarde?

— Não – Ana falou ríspida. – As flores são minhas e você já está aqui e já me acordou.

— Você ainda estava dormindo?

— O que foi? Agora além de entregar minhas flores vai me entregar multa por acordar depois das nove da manhã.

— Você esta muito nervosa. Vou pegar as plantas – Juca falou, se afastando um pouco e se aproximando de uma bicicleta com um grande cesto cheio de plantas e flores.

— Claro que estou nervosa – Ana falou. – Não tomei café ainda.

— E por que não vai fazer e tomar? – argumentou Juca, se aproximando dela com um grande vaso de planta. Ficou parado em frente a Ana, como se pedisse licença e perguntasse aonde colocaria aquele objeto. Ana revirou os olhos, virou—se para dentro de casa e falou:

— Vem, coloca esse ai aqui na sala. Vou preparar um café enquanto você traz as outras plantas.


Todas as Paixões de Juca AomiOnde histórias criam vida. Descubra agora