Capítulo 14 - Amores e Doces

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Chocolate, brigadeiro, cocada, doce de abacaxi com vinho, doce de mamão ou abobora... era uma infinidade de sabores que Evelyn fazia. Era uma confeiteira de primeira. Receitas da sua avó, ela falaria caso alguém perguntasse.

Evelyn, nos finais de semana, montava sua barraquinha e ali vendia doces em potes. Durante a semana, trabalhava com a mãe e com o pai na lojinha de doces que a família tinha na cidade vizinha. Ela era uma moça simples, tinha apenas 22 anos. Sempre atendia seus clientes com um grande sorriso ali na barraquinha ao lado da igreja.

Mas ela notou algo: aquele rapaz da floricultura estava sentando em um bando na frente do café e estava observando ela. E não era a primeira vez que ele fazia isso. Outros finais de semana já tinha feito aquilo. Mas Evelyn não se sentiu ameaçada, nem naquele dia nem nos outros anteriores. As primeiras vezes, ela até sorriu para ele, mas ele não respondeu, ficou com a cara fechada ali, mas sem tirar os olhos de sua direção.

A principio, Evelyn achou estranho, mas não deu importância. Ignorou as ultimas vezes em que ele fazia aquilo, mas deveria ser porque estava com muitos clientes na barraca de doces. Mas, naquele momento, estava mais tranqüila e pode dar mais atenção ao rapaz que a observava. Deu de ombro, mas ele não se manifestou.

Mas não demorou muito para que Juca visse a vendedora de doces indo para trás as sua barraquinha e voltando breves segundos depois. Tinha nas mãos um pequeno pote e uma colher. Ela caminhava em direção a Juca, com calma e tranqüila.

Juca ficou estupefato, tenso, segurou a respiração. Ela estava indo em direção à ele? Sim ela estava, caminhava em direção ao banco em que Juca estava ao lado do café.

Por quê? O que ela está fazendo? Juca pensou, quase ficando sem fôlego, de tanto que ficou nervoso com a atitude da vendedora de doce.

Evelyn se aproximou de Juca. Sem pedir licença ou falar algo, ela sentou—se ao lado dele no banco. Juca, neste momento, já estava suando de nervosismo e respirava ofegante.

— Doce? – Evelyn falou sem encarar Juca, mas olhando pra sua barraca de doce. Ela ofereceu o pote que estava em sua mão. – É de abóbora, meu favorito.

Juca olhou o pote na mão de Evelyn. Pra ele, passaram horas naquela situação, mas foram breves segundos. Ele não pegou nem falou nada sobre a oferta da confeiteira.

— Não gosta de abóbora? – Evelyn falou sorrindo. Ela abriu o potinho e pegou um pouco com a colher. – É minha receita favorita. Aprendi com minha vó. E ela diz que aprendeu com a avó dela. Ou seja, é uma receita de várias gerações na família.

Evelyn comeu a porção de doce. Juca não conseguia encarar Evelyn, era mais fácil à distância, ali, com ela ao seu lado, era doloroso encarar a pessoa que ele admirava tanto. Olhou da mão de Evelyn para o pote com o doce. Suspirou e pegou o pote e a colher.

Serviu-se de uma boa porção do doce e comeu. Caramba, que delicia! Comeu um pouco mais do doce e depois um pouco mais.

— Que bom que gostou da receita da minha.... ta tataravó?

Evelyn riu de novo. E finalmente Juca deu um sorrisinho de canto de boca.

— Meu nome é Evelyn.

— Eu sei – Juca falou de pressa e logo em seguida ficando em silêncio, comendo um pouco mais do doce.

— Sabe? – Evelyn perguntou curiosa.

Juca encarou, finalmente, ela. Estava com os lábios pressionados. A respiração voltou a ficar ofegante. O silêncio de ambos foi um pouco maior. Juca acenou positivamente com a cabeça.

— E como você sabe meu nome? – Evelyn voltou a perguntar.

Juca suspirou fundo e, depois de mais alguns segundos de silêncio, mostrou o pote de doces em suas mãos e mostrou o rótulo.

Evelyn riu.

— Claro – ela falou. – Tem meu nome no rótulo com minhas redes sociais. Que bom saber que você já é meu cliente, então.

Juca deu um segundo sorriso para ela.

— Desculpa – Juca falou, limpando a boca. – Acho que deve achar estranho eu ficar te olhando. Mas é que eu venho pra cá alguns sábados e você sempre está na barraquinha.

— Achei estranho sim. Mas, assim como eu estar todo sábado aqui, toda a cidade também vem. Então não é estranho você estar por aqui nos finais de semana, não é?

— Gosto de te ver vendendo os doces – Juca falou, tirando, novamente, o olhar dos olhos de Evelyn e encarando o pote de doce em suas mãos. Ele ofereceu o doce para que ela pudesse comer mais.

— E como vai na floricultura?

Juca olhou surpreso Evelyn.

— Você acha que só você que tem seus métodos de saber quem são as pessoas? – Evelyn falou sorrindo e comendo um pouco do doce de abóbora.

Juca riu também, era o terceiro sorrio que dava no dia, seu pai iria ficar satisfeito disso. Ele disse que tudo ia bem na floricultura.

— Que bom – Evelyn disse. – Eu estou de mudança com minha família.

— Mudança? – Juca perguntou surpreso, quase se engasgou. Aquilo o havia pego de surpresa e ele sentiu um calor tomar seu corpo.

— Sim. Semana que vem vamos nos mudar para a cidade vizinha. Temos nossa loja de doces lá, então ficará melhor para todos nós. Já compramos nossa casa e tudo o mais por lá. Estou bem ansiosa.

Juca engoliu a seco, sentiu seu corpo suar novamente e seu coração disparar. Não conseguia falar, era como se algo estivesse entalado em sua garganta, uma onda de um sentimento o invadiu.

— Chegou cliente – Evelyn falou. – Foi ótimo esse papo rápido com você...?

— Juca – ele respondeu.

— Juca. Foi ótimo esse papo. Tome – ela falou entregando o pode com o restante do doce para Juca. – Este é meu último final de semana na barraquinha, mas sei onde te encontrar. Qualquer coisa vou me despedir de você na floricultura.

Despedir. Essa palavra magoava, destruía Juca de tal forma que o dilacerava por dentro. Ele estava em um choque com aquilo tudo. Viu Evelyn se afastar dele e ir pra sua barraquinha de doces. Juca ficou estático, com o mundo girando em torno dele, sentindo uma vertigem que poucas vezes sentira. Já passou por isso algumas poucas vezes e, cada vez, era como uma morte. Ele olhou o pote de doce em suas mãos. Precisava ir pra casa. Não estava bem.


Todas as Paixões de Juca AomiOnde histórias criam vida. Descubra agora