Capítulo 1

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Eu gosto das suas mentiras, não por que elas me iludem, mas, por que são muito bem contadas. Quando o cara te conhece na segunda e diz que te ama na sexta, você já sabe, é furada. Mas, quando ele te conhece em um ano e diz que te ama no outro, a pulga fica atrás da orelha. Quando alguém demonstra muito interesse, logo de cara, eu sempre dou 20 passos pra trás, mas, quando alguém chega de fininho, criando espaço onde você nem sabia haver, parece certo.  E você sempre foi assim, igualzinho a todos os babacas que dizem "eu te amo" nas primeiras três horas, mas, a diferença é que eles querem sexo, já você, prefere algum tipo de jogo doentio. E hoje, pra falar a verdade, deve ser uma merda ser você. Por que é claro que de tanto partir corações alheios, um dia alguém ia partir sua cara. Se o rosto é reflexo do coração, tenho certeza absoluta que toda ação gera uma reação. Você sempre foi conquistador, o cara que chega e se faz notar, nunca teve valor, sempre foi aquilo que todo mundo olhava, mas, que ninguém queria levar pra casa. Eu me lembro de te dizer que molduras boas não salvam quadros ruins, e você sempre foi isso, uma capa linda que escondia uma porcaria por dentro. E o problema é que, eu sempre gostei dessa porcaria, desse quadro ruim, e dessas mentiras babacas que você conta. Você sempre é minha promessa de ano novo, aquela que a gente diz que vai esquecer e superar. Mas, depois, quando os foguetes artificiais acabam, quando a bebida acaba, quando todo mundo já foi embora, é na minha porta que você bate. Sempre é. E você bate sem dó, bate por que sabe que eu vou abrir, mas, hoje é diferente, por que eu vou abrir, e você não vai entrar. Não vai por que, nessa virada de ano eu percebi que você não ligou, não procurou. passou a virada com qualquer pessoa, e eu não senti falta, ficou tudo bem. Você pode insistir, não vai entrar.

- Eu vou ter que bater até quando?

- Até eu chamar a polícia é um tempo legal pra você?

- Para com isso.

- Da um tempo, só nessa rua devem ter umas cem portas, vai bater na casa de alguém que tenha pena dessa sua cara de menino sozinho.

- Eu não quero entrar, só quero conversar.

- Eu não falo com bêbados.

- Eu não bebi.

Então ele gargalhou, riu como se eu tivesse contado alguma piada bem engraçada, mas, não tinha graça, não tinha nada, só um babaca na minha porta.

- Sai daqui!

- Eu não vou sair.

E eu sabia que ele, de fato, não iria. Que mania escrota de insistência, ele podia insistir em sair da minha vida e me presentear com uma chance incrível de viver sem essa sobra, sem essa insistência, sem essa relutância no meu caminho. Eu abri.

- Que cara de merda.

- É a única que eu tenho.

- Grossa.

- Não me importa, cara, vai embora!

- Não sei como chegar em casa, o único endereço que eu sei de cor é o seu, ai falei pro taxista vir.

- Ta, sua casa fica descendo a rua, eu te ensino.

Então eu bati a porta, fez um barulho tão alto que até ele deu uma acordada. Eu segui andando, batendo o pé no chão que nem uma guria mimada, não importava, eu só queria deixar ele naquela maldita porta marrom escuro e ir embora.

- Já ta chegando?

- Quando chegar tu vai saber.

- Você fica bonita assim.

- Assim como? Te detestando? Também acho, as pessoas comentam.

- Preocupada.

A gente chegou, o cachorro dele tava dormindo, os pais dele viajando, ele tava sozinho, e dessa vez, redondamente sozinho, por que eu já estava de saída.

Nem Todos Os Amores Se Chamam HenriqueWhere stories live. Discover now