Nem Todos Os Amores Se Chamam Henrique

Capítulo 20

Ela era ruiva, mas não natural, e bem magra. Tudo nela, até o jeito de se mexer, me fazer não querer conhecê-la, e agradeci muito por não termos sido apresentadas antes. Deus me livrou desse mal. E ela era grudenta. Primeira pergunta: quem cumprimenta um ex-namorado com um beijo? E o pior é que o Pedro é todo amoroso com ela, e ela toda oferecida. Ela deu oito abraços nele, tentou beijar, ficou fazendo ceninha, perguntando "quem eu era na vida dele". Sou a Mulher Maravilha, agora já pode ir andando e sair de perto da gente. Eu sentia uma vontade tão grande de gritar com ela a cada vez que ela chamava ele de lindo, ou de alguma coisa melosinha. ELE TEM NOME. Aguentei até que, mentira, não aguentei.

– Você vai ficar aqui, Pedro? Porque eu tô indo nessa.

– Tchau, fofinha! Eu e Pedro temos mesmo uns assuntinhos pendentes. – Ela riu como se houvesse alguma piada. Piada ia ser quando eu arrancasse o cabelo dela fio a fio.

– Ma, pode ir na frente... Eu vou conversar com a Mari e te encontro na sorveteria, pode ser?

Meus pensamentos mais sensatos foram interrompidos por outro soco na barriga. Não, claro que não podia ser! Você veio pra cá comigo e vai me largar no meio do caminho por causa dessa aí? Você vai vir agora e espero que nós nunca mais na vida tenhamos esse tipo de discussão! Parei de simular respostas e nem respondi. Só fui andando... E pra minha sorte começou a chover. A Chéri ficou desesperada e saiu correndo pro primeiro lugar coberto. Pra variar, não era a minha casa, era a sorveteria. Umas duas horas depois, parou de chover. Assim que eu estava saindo de lá, o Pedro chegou, rindo como se tivesse ganhado na loteria.

– Onde você vai, Ma?

Não respondi. Segui andando com todo o meu ódio sem motivo. Por que ele não aproveitou e ficou lá com a Mari linda dele?

– Tô falando com você! – ele insistiu.

– Aham!

– Ué, Ma, ela é minha ex, você sabe, essas coisas de ex... – Ele riu.

– Não sei de nada, agora da licença que eu preciso ir pra minha casa.

– Ma, para...

– Eu estou parada sabe, tô tentando andar e você não está deixando. Vou ter que mandar a Chéri te morder?

– Ela me ama.

– Que pena, eu não, e eu sei morder, socar, chutar... e tenho unhas grandes e letais também.

– Por que você está assim? Não foi legal eu te deixar esperando, mas precisa mesmo disso tudo?

Travei na hora e pensei: por que eu estava daquele jeito? Eu não tinha nada com ele. Ele sim era meu amigo. Por que eu estava estressada por ver ele com aquela garota? Pela primeira vez, não me reconheci. Eu podia abraçar a Natália, mas não conseguia ficar perto da Mariana.

– Devo estar ficando louca. Dá pra irmos pra casa? 

A gente não conversou nada durante o caminho, mas ele ficou rindo até chegar.

– Ma, você estava com ciúmes?

– Eu nem sei o que é isso.

E de fato eu não sabia, mas será que tinha alguma chance de ser? Claro que não. Ciúmes minha avó sentia do meu avô; minha mãe do meu pai; e eu dos meus cachorros. Eu só tenho alguma sensação de perda quando se trata de animais. Talvez o Pedro fosse um animal, mas não eram ciúmes. Pronto, decretado: não eram!

– Segundo o dicionário, ciúme é "um zelo amoroso", "emulação", "inveja".

– Você está insinuando que eu estava com inveja da Mariana?