Capítulo 2

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Tudo fica sem sentido se a gente não explica como aconteceu e como começou, se a gente não exagera no meio e coloca uma cereja no final. Mania boba de gente inocente, de gente que fica a vida toda esperando pelo final feliz de cada historinha, um conselho? O final nem sempre é a melhor parte, muita das vezes, é a pior. Por que, sendo sincera, se fosse bom não acabava. Meu nome é Maria Alice, mas, todo mundo me chama de Ma. Deve ter um duplo sentido, por que eu nunca fui "boazinha", mas, não me importa. Eu cresci e vivi a melhor parte da minha vida no interior, porém, nem tudo na vida é doce e eu tive que me mudar. Me mudei pro Sul, mas na verdade acho que fui enganada e me jogaram no polo norte. Hoje, por exemplo, estão fazendo cinco graus. O frio é bom, ou costumava ser, hoje em dia já ficou sem graça. Eu vim pra essa cidade com uns quinze anos, entrei em uma escola enorme, mais fácil de ninguém me perceber. O primeiro dia de aula não podia ficar pior, ai choveu, só pra me contrariar. Cheguei pingando na sala de aula, todo mundo riu, bando de desocupados, se o quadro estivesse cheio de dever ninguém perderia tempo de vida olhando pra mim. Só um não olhou, só um não riu, e ai vocês me perguntam: "É o Henrique?" Não, o Henrique foi o primeiro a rir, o menino no canto da sala com cara ruim era o pedro, o meu melhor amigo, apesar de que, naquele dia, ele ainda era só o Pedro.

- Atrasada em, mocinha.

- Pois é professor, eu tive que vir nadando, desculpa...

A sala toda riu, acho que eu era a única que não estava achando graça em muita coisa ali, nem ali e nem em lugar nenhum, naquele dia tinha batido uma saudade da minha escolinha bobinha que fazia o maior calor do mundo. Eu procurei um lugar pra sentar, só tinha uma cadeira na sala, do lado do Pedro. Eu sentei.

- Qual o seu nome?

- Maria Alice, mas pode me chamar de Ma.

- Você é má?

- Todo mundo aqui tem esse senso de humor incrível na segunda de manhã?

- Com certeza, má.

Ele riu.

- Você tem covinhas, que bonitinho.

- Eu sou todo lindo.

- Concordo, começando pela sua modéstia.

- Chega atrasada e ainda atrapalha a aula? Muito bom Maria Alice...

- Eu estava pegando a matéria, desculpa.

O filho da mãe ficou rindo da minha cara, o Pedro é desses que não satisfeito em te fazer se lascar, ele tem que rir da sua desgraça. Eu copiei algumas coisas, fiz umas anotações do que não fazer na aula do professor queridíssimo de física e, pra alegria geral da nação, tinha chegado a hora do intervalo. Na minha antiga escola todo mundo saia correndo, aqui eles, provavelmente, tinham problema na perna ou algo do gênero, por que se arrastavam pra fora da sala. Ruim pra eles né, eu sai correndo por que queria ir no banheiro ligar pra Mariel. Ela era a minha melhor amiga da antiga cidade, só ela pra me entender. O intervalo era de 20 minutos e passou como 20 milésimos, num piscar de olhos tive que voltar pra sala. Quando eu cheguei, um garoto que, provavelmente não tinha penteado o cabelo, havia sentado no lugar do Pedro.

- Prazer, Ma, meu nome é Henrique.

- Que intimidade...

Era só pra eu ter pensando mas acabei falando alto.

- Você é sempre assim?

- Assim como?

- Mal humorada?

- Eu não sei se você entendeu o duplo sentido de "má"...

- Eu gosto de garotas más.

Ele riu a aula toda da própria piada, patético, mas quando eu olhei pro sorriso dele... Não era como os outros vários sorrisos que eu havia visto durante o dia, me parecia mais largo e feliz. Eu comecei a rir também, mesmo sem achar graça, foi inevitável. Ele ficou meio sem graça, me recompus, era só o que me faltava, ficar de mimimi no primeiro dia de aula com o garoto que riu de mim quando eu entrei na sala. E, além do mais, ele não era aquilo que parecia ser, dava pra ver que pra ser o engraçado da turma, no mínimo, era mais idiota também. Ele passou o resto da aula falando de como lá era o melhor lugar do mundo e eu pensando num jeito de voltar pra minha cidade. Mas, eu já podia desistir, era impossível. O dia na escola tinha acabado, eu ouvi um amém? Fui pra casa ou, pelo menos, tentei ir. (Kimberlly Cavalcante - "Nem todos os amores se chamam Henrique, mas, os problemas, com certeza.")

Nem Todos Os Amores Se Chamam HenriqueWhere stories live. Discover now