Capítulo 6

7 0 0
                                    


Sábado de manhã é o dia sagrado da soneca, mas, no mínimo contaram isso pro Pedro, e eu acordei com uma mensagem dele falando "não se esquece de hoje à noite"... Era pra eu entender? Ignorei e voltei a dormir, mas, era o Pedro, ele mandou mais trinta mensagens e depois me ligou.

- ATENDE GURIA!

- Oi.

- Te acordei?

- Não, sábado sete horas da manhã eu costumo a pescar.

- Sério?

- Não, tu me acordou, tchau.

- Pera, não esquece hoje à noite, a festa.

- Que festa meu filho?

- A do Henrique.

- Eu não vou.

- Claro que vai Ma, todo mundo vai, e vai ser bom pra você conhecer o pessoal legal aqui da cidade, vai bastante gente da faculdade, até te apresento minha ex, vocês vão se dar bem.

- Em que nível de desespero você acha que eu tô pra querer ser amiga da sua ex?

- Anda Ma, você vai e eu vou te buscar 20:00 horas.

- De bicicleta? Que mané me buscar!

- Final de semana o carro é meu, anda e não enche o saco, a casa dele é pertinho daqui, uma grandona que tem no final da rua. E as festas dele são sempre as mais legais. Por favor Mazinha lindinha.

- Só se você prometer nunca mais me chamar disso, que horror.

- Prometo.

- Insuportável.

- Gata.

- Me erra, tchau, e nunca mais me acorda.

- Combinado.

Desliguei, ninguém era mais chato que o Pedro, nem meus três irmãos juntos com um toque especial da minha mãe. O dia passou voando e contra a minha vontade, é claro, me arrumei pra tal festa. Era desesperador me arrumar pra qualquer tipo de evento sem a Mari, por que por mim eu iria de moletom, chinelo e meia pra qualquer lugar. Abri o guarda-roupas com o total de 0 confiança, mas achei uma roupa que a Mari sempre insistiu pra que eu usasse, e se é pra ter um novo começo, talvez eu devesse pelo menos tentar ser uma versão "melhor" de mim. O Pedro chegou e, notoriamente, tinha alguma sujeira na minha cara, por que ele não parava de me encarar. 

- Meu dente ta sujo?

- Não. - Ele disse com a voz falhando.

- E você ta olhando o que?

- Nada ué.

Estranho. Peguei minha bolsa, entrei no carro e quando a gente chegou à casa do Henrique, percebi que era a casa que eu havia visto antes. Respirei fundo três vezes, tava lotado, desci do carro e fiquei surpresa. De fato não era uma festa qualquer, a música era boa, tinha gente que, aparentemente, valia a pena conhecer. A casa, por fora, tinha um jardim bem bonito e iluminado. Quando a gente entrou tinha uns bêbados na sala, um pessoal no sofá, mas, a maioria tava dançando. Varri aquele espaço com os olhos, não sou muito de festas, sei lá, as pessoas se arrumam pra beber e vomitar... Não faz muito sentido. Mas eu gostei, gostei por que, eu precisava rir, mesmo que fosse dos outros. Umas meninas me olharam com cara feia, um grupo bem grandes de meninos ficou me olhando com aquela cara de "você é de comer?" e eu fiquei completamente desconfortável, mas, o Pedro riu tanto de tudo que faz parecer comum. O Henrique tava naquele grupo, alguns guris da sala também, algumas pessoas que eu conhecia de vista, uma imitação do Henrique com 21 anos que provavelmente era o irmão dele, a loira com cara de poste que provavelmente era a namorada do Henrique, se é que menino que nem ele namora. E, finalmente, um rosto tão perdido quanto o meu, o do Pedro me procurando. Ele tinha trago algo pra eu beber, mas, eu não bebo, então fiquei a festa toda segurando um copo, bem minha cara. Tentei dar um gole, mas cerveja definitivamente não foi feita pro meu paladar. Alguns meninos vieram falar comigo, uns pediram meu número, foi bem engraçado. Depois que eu parei de olhar para aquela rodinha e fui dançar, o Henrique chegou perto de mim, tentou meio que "dançar comigo", só que aquilo ficava mais estranho a cada segundo que acontecia. Eu disse que precisava tomar um ar e fui lá pra fora, escutei uns amigos dele falando qualquer coisa e rindo, mas, não era da minha conta. O Pedro já tinha sumido de novo, mas que merda, eu queria ir pra casa. A festa tava boa, a comida e bebida estavam ótimas, porém, meu sofá sempre foi o melhor lugar do mundo. Quando eu decidi ir embora andando e sozinha o Pedro apareceu, nossa ligação mental é bem forte, quando eu quero muito mandar ele ir pra merda ele aparece pra eu realizar o meu desejo, bem coisa de filme mesmo.

- "Novata gostosa" – Ele fez as aspas com as mãos.

- Que isso?

- É como tão te chamando lá dentro.

- Por quê?

- Ouvi uns meninos falando "nossa essa novata é muito gostosa, pegava fácil"...

- Falando desse jeito a única coisa que ele ia pegar era o meu ranço, que merda. – Eu ri por que eu precisava rir daquilo, me senti cercada de animais.

- Pois é novata gostosa, entra ai no meu possante que hoje a noite vai ser quente.

- Quente vai ser eu te atropelando com esse carro, fofinho. – O Pedro ficou rindo, me olhando, parado que nem uma anta. Eu já tava sem paciência e, sei lá por que, não sei receber elogios. Depois de ter ficado vermelha e desconcertada, fui andando. O Pedro tentou me fazer entrar no carro, mas, fiz birra mesmo, acontece. Chegamos em casa juntos por que ele ficou andando a um por hora, entrei e troquei de roupa. Minha mãe não tinha chegado, não me atendia, bem normal. Coloquei um moletom e fui correr, pra onde eu não sei, mas, não importa tanto assim também, eu sempre corro pra fugir do mundo. Corri pra longe daquela festa, eu não gostei do jeito que aquelas pessoas ficavam me olhando, sei lá, me senti o prato do dia na promoção. E, além do mais, meu pulmão tinha fumado muito sem querer. Acho que nunca inalei tanta fumaça numa festa. Corri até perder as forças, por que o fôlego eu perdi quando vi alguém correndo atrás de mim. Que merda essa cidade, mania escrota de ficar correndo atrás dos outros, mas, eu sabia que não era o Pedro, não tinha cheiro de Pedro. E o que me irritou? Ele não me cutucou e nem me gritou, só me seguiu, como se fosse um maníaco, ou só um desocupado mesmo. (Kimberlly Cavalcante - "Nem todos os amores se chamam Henrique, mas, os problemas, com certeza.")

Nem Todos Os Amores Se Chamam HenriqueWhere stories live. Discover now