Cheguei em casa e, em questão de minutos, já estava pronta pra dormir. As casas aqui eram estilo americanas; tem uma janela que te da acesso ao telhado, o telhado é virado pra casa do vizinho, não tem muros nesse condomínio, então fica tudo bem aberto e sem privacidade. Sentei no meu telhado, peguei meu violão e tentei tocar alguma coisa, faço isso quando to meio confusa, ou sem nada pra fazer. Comecei a tocar uma música que eu tinha feito há um tempo, essas músicas que são mais sonhadoras que a gente mesmo. Eu cantei como se houvesse uma multidão lá em baixo, até que uma voz que eu não queria ouvir me interrompeu.
- Tu canta bem guria.
- Pedro, eu vou começar a achar que você ta apaixonado, falando sério mesmo.
- Que mal agradecida! Eu podia te tacar um balde d'água por você ter me acordado com essa barulheira.
- Ou podia ter voltado a dormir.
- Gostei desse refrão, "entre nós dois, aah".
- Nossa, você canta tão bem que já pode parar.
- Invejosa.
- Eu vou entrar, preciso dormir, a semana mal começou e eu já to sofrendo por que sexta nunca chega.
- Vê se acorda cedo amanhã, você demora demais.
- Vai cagar.
- Ta bom, eu vou, mas, acorda cedo, ok? Sonha comigo.
- Eu não.
- Eu sei que você vai sonhar.
- Beleza. Dorme com Deus!
- Tu também, guria.
Que mania feia de chamar os outros de guria, na verdade, os outros não, eu. Mas, eu gostava do Pedro. Eu não sei por que, mas, era sempre muito bom ter ele por perto, parecia que a gente já se conhecia a bastante tempo, ele me entendia sem que eu precisasse me explicar demais. Tudo entre nós dois caía como uma luva, Maria Alice e Pedro, uma amizade entre pessoas de sexo oposto e sem complicação, as câmeras já podem aparecer, né? Por que deve ser pegadinha. Enfim, não vou zombar da sorte, finalmente ficamos amigas. As coisas estão dando certo, isso me conforta, por que eu preciso dizer, já to cansada de mudanças.
- Boa noite filha.
- Boa noite mãe.
Ela sempre ia ao meu quarto desejar uma boa noite, me abençoar, dar aqueles beijinhos de mãe e me cobrir. Às vezes ela deitava comigo, conversava sobre como tinha sido o dia, mas, eu sabia que aquilo era só um pretexto pra me fazer ficar com sono e nem perceber que ela dormiria ali. Fazer o que, ela tinha aprendido com a melhor, eu sempre o fazia também. Eu tava bem cansada, tentei evitar as coisas que tinham acontecido hoje e dormi. Dormi um sono maravilhosamente bom.
- ACORDA FLORZINHA!
- Mãe, você e o Pedro tem algum tipo de acordo pra me irritar de manhã?
- Você vai se atrasar.
Infelizmente ela tava certa, me arrumei na velocidade da luz, comi alguma coisa que tinha gosto de nada e assim que eu tava saindo de casa o Pedro tava chegando. Ele pensou em dizer algo, certeza que pensou, mas, não disse, só riu e continuou andando. Nós cantamos the strokes até uma quadra antes de chegar na escola, depois ficamos conversando sobre as aulas de tarde que teriam início na semana seguinte e fomos pra sala. Quarta feira, dia qualquer um, aula de matemática. Depois reclamam que a gente não curte matemática, porra, colocam uma múmia pra dar aula. Certeza que minha professora tinha mais de cem anos, e ela gritava como se não houvesse amanhã, falava cuspindo e ainda cutucava os alunos. Que merda. Eu e o Pedro passamos mil bilhetinhos durante a aula, eu não tava nem ai pra delta, ela que me desculpe, mas, na boa, b²-4.a.c? E agora x ainda tem linha? Minha filha, saudades de quando matemática era só numero. Dormi em umas aulas, participei de outras, ri muito em outras, fiz o cabelo, a unha, cinco filhos, um frango, construí uma muralha e o dia ainda não tinha acabado. Nem o intervalo tinha chegado, alguém me explica? O Henrique tava conversando com umas pessoas, daí ele veio até o Pedro, que tava do meu lado e disse:
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Nem Todos Os Amores Se Chamam Henrique
RomanceMaria Alice passa por uma série de mudanças e, no meio de todas elas, conhece pessoas que mudam sua vida - pra sempre.