Capítulo 16

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Eu achei que não fosse dormir, mas a prova evidente de que era só amizade foi exatamente essa: tive a melhor noite de sono da minha vida. Dormi que nem uma criança. Não tive sonhos, não acordei de noite, só deitei e abri os olhos pela manhã, ou pelo menos eu achava que era de manhã. Meu celular apitou um barulho de mensagem. Eu normalmente não olharia, mas pela primeira vez fiquei curiosa, mesmo que ainda sonolenta. Era do Henrique; "olha pela janela". Por mais que parecesse ridículo, eu olhei. Ele estava lá em baixo treinando algum discurso sobre coisas que ele não gostava, pelo menos isso eu pude ouvir. Abri a janela por inteiro, sentei na beirada, coloquei os pés no telhado e me apoiei na sacada. Ele estava com um papel na mão e tinha umas flores também.

– Essas flores são pra mim?

– É, ah, ahm, não! Claro que não! Eu só achei elas aqui no chão e resolvi pegar, mas já vou devolver. – E as jogou pra trás num ato de "sumam!"

– Entendi... E são 5 horas da manhã... Posso saber a que devo a ilustre presença? Amanhã é domingo, o último dia do feriado, e qualquer pessoa normal estaria dormindo.

– Na verdade, hoje já é domingo, o último dia do feriado, e por pura sorte é o dia em que acontece alguma coisa com os planetas, eu vi no jornal, mas não entendi. E essa coisa superlegal vai nos proporcionar o nascer do sol mais bonito que você já pode ter visto... Então, vamos?

– Eu estou de pijama, meu cabelo está parecendo uma juba de leão, e eu não vou descer. E mesmo que eu fosse descer, não ficaria pronta em menos de 30 minutos.

– Ma, tu já olhou pra minha roupa? – Ele também estava de pijama. – É pra ser engraçado, por favor, vem logo.

– Só porque você pediu por favor...Desci bem rapidinho, de pantufa mesmo. Pra quem já está molhado, um pingo é besteira.

– Esse papel é pra você. É uma lista de tudo o que gosto e do que não gosto.

– E pra que me serve isso?

– Pra você nunca me dar um queijo, por exemplo.

– Ah, poxa, Henrique, tô muito frustrada, comprei um queijo ontem pra você!

– Sempre tão cômica!– Desculpa se eu ainda consigo ter bom humor de manhã.

– Ainda está de noite, só fica de manhã depois que o sol chega.

– Desculpe, Garoto do Tempo, eu não queria ferir seus conhecimentos.

– Não estraga o momento, tá?

Ele me colocou no carro e saiu dirigindo que nem um louco, extremamente rápido. Eu quase não conseguia ver a paisagem, só vultos. Pedi umas mil vezes pra ele ir com mais calma, mas ele só ria e acelerava. Tudo bem, se eu morresse, minha mãe mataria ele, já seria uma ótima vingança. Pela quantidade de vultos verdes, a gente devia estar na Amazônia, mas não questionei. Ele foi desacelerando, até que a gente ficou em cima de uma espécie de morro enorme, que nos proporcionava a melhor visão do céu que poderia haver no mundo. Meu coração quase doeu quando olhei a altura.

– Bem-vinda à minha terceira casa. Eu geralmente venho aqui pra escrever mús... quer dizer, escrever coisas, pensar, e ver o sol nascer.

– É lindo, mas muito alto.

Ele voltou ao carro, pegou um edredom, uma garrafa térmica, duas xícaras grandes e um cobertor fininho. Com o edredom ele forrou o chão, nós sentamos em cima. Ele meio que cobriu nós dois com a cobertinha de criança e colocou um café bem quentinho na minha xícara de borboleta. Eu não gostava de café, mas confesso que aquele era bom, não sei por quê, mas era.

Nem Todos Os Amores Se Chamam HenriqueWhere stories live. Discover now