Capítulo 18

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Fui pra escola com o Pedro, como eu nunca deveria ter deixado de ter feito, e tive que aguentar as piadinhas.

– Então quer dizer que a Ma se apaixona?

– Não sabia que animal falava.

– Ui, tá bravinha? – disse a Natália.

– Não, mas eu não tinha dúvidas de que cachorro latia.

Olhei pro Pedro e ri. Eu já havia me esquecido de como ele fazia tudo parecer melhor, mesmo sem saber. Eu tinha sentido uma saudade enorme dele. Infelizmente a escola não era tão grande como eu desejei que ela fosse: cruzei com o Henrique.

– Olha, eu não vou ficar correndo atrás de você pra te explicar o que aconteceu. No começo, era uma aposta, pra ser engraçado, sabe? Mas depois... Você sabe que foi tudo de verdade.

– Eu sei que foi, só não quero ficar perto de alguém que aposta que "me ganha", mesmo que depois fique feliz por isso. Eu não quero ficar perto de alguém que minta pra mim, Henrique. Naquela lista de coisas sobre você, não havia a palavra "mentiroso", e você disse que não iria me desapontar. Eu só estou decepcionada. Podia sentir muito, mas agora não sinto nada por você, exceto pena. Por que eu? Eu te ouvi, te abracei, e abracei com o coração, não menti pra você. Tentei mesmo ser sua amiga... achei que você podia ser diferente. E agora eu só não quero do meu lado quem um dia vai me fazer quebrar a cara de novo. Volta pra sua namorada e pros seus amiguinhos. Eles são como você. Eu, não. E se era para ser engraçado, menos um ponto: você falhou. Acho que não tem ninguém rindo agora.

Saí. O Pedro ficou do meu lado o tempo todo, e depois de ter falado tudo, eu tive que sair correndo. Fui pro ginásio da escola e chorei o que não tinha chorado antes. Terça-feira, sete da manhã, última cadeira da primeira fila... Foi aquele o lugar que eu tinha escolhido pra chorar todas as minhas decepções.

– Não chora por isso não...

– Eu estou brava comigo, sabe, Pedro? Eu sempre soube como ele era, e o que ele fez não me machucou. O que me irrita é a cara de pau dele de ainda tentar se explicar, como se houvesse explicação pra ser filho da mãe.

O Pedro meu deu a garrafinha de água dele e eu bebi praticamente tudo. Nós matamos as três primeiras aulas ali. Depois do intervalo, entramos na sala. O professor tinha faltado. Mais uma aula livre. Até que o dia estava ficando bom. Peguei outro copo d'água. Chorar me dava sede.

– Mais um pra te iludir, Ma? – A Natália já estava passando dos limites. Peguei o copo d'água que estava na minha mão e joguei na cara dela.

– Pra você, querida, é Maria Alice Dietrich. Eu não sou sua amiga, nem colega, somente sua conhecida, infelizmente. Não me dirija a palavra quando eu não estiver falando com você. E pra dar início a uma ótima campanha, vamos começar com cada um cuidando da sua vida?

Amassei o copo e o deixei na mesa dessa babaca. Assim que sentei na minha carteira a sala toda começou a rir. Não achei nada engraçado; então dividi meu fone com o Pedro e ficamos até a aula seguinte ouvindo Selah Sue. Ele até aprendeu a gostar. O Henrique me mandou outra mensagem, falando que eu estava certa e que ele não iria mais me incomodar. Aleluia! Ele havia entendido. O resto da semana foi tranquilo. Depois do meu papinho com a Natália, a turma toda mudou de assunto. E finalmente (já que o Pedro não parava de falar disso) tinha chegado o fim de semana.O Pedro foi me buscar em casa antes de o sol nascer. Fala sério, só fui por que ele implorou a semana toda! Entrei no carro e ele dirigiu até um campo, um campo enorme e lindo. Mas ainda estava escuro. Ele pegou uma cesta cheia de coisas gostosas pra comer e nós entramos num big-cesto de fibras trançadas. Eu não estava entendendo nada, mas compreendi quando vi aquele fogo e senti que estávamos saindo do chão. O Pedro tinha me levado pra passear de balão! Eu me lembro de ter comentado que era o meu sonho, mas nem percebi que ele havia prestado atenção.

– Pronta pra ir pro céu?!

Ele era a melhor coisa que eu podia ter na vida.

– Pronta pra ir pra qualquer lugar com você... obrigada! Você sabia que andar de balão era o meu sonho? – Ri e segurei a mão dele. Eu estava nervosa; acabei tendo que admitir meu medo de altura.Nós comemos uns biscoitinhos que ele disse ter feito. Duvidei e impliquei com ele por isso, mas acabei me dando por vencida. Nós vimos o sol nascer. Foi lindo, mas nem se comparou ao sol que eu vi naquela montanha úmida e sem graça. E era terrível ter que admitir isso também.

– Ver o sol nascer daqui de cima é lindo, né?

– Um sonho!

– Trouxe o nosso almoço também. A gente vai descer, andar de barco e depois voltar pra ver o sol indo embora.

Nessa hora o abracei.

– Você é o melhor, sem sombra de dúvidas.

– Eu sei.

– Era brincadeira, você é podre.

– Sai, Ma, não vou te dar uma chance comigo.

– Eu é que não quero nada com você.

– Também te amo, emburradinha.

– Sai pra lá!

– Não dá, só se eu pular daqui. – Rimos da piada ridícula, depois voltamos pra terra firme, almoçamos, andamos de barco e subimos de novo. E essa foi a parte em que as coisas ficaram estranhas. Graças a mim e à minha boca grande.

– Pedro, posso te fazer uma pergunta?

– Pode.

– Qual é o seu maior sonho?

– Me formar em arquitetura, construir uma casa pra mim e curtir a vida. Por quê?

– Nada, só queria saber.

– E os seu? Qual é o seu maior sonho?

– Ser feliz, mas sem muita coisa, sabe? Ter uma história incrível em cada dia da minha vida. Quero que cada hora seja única, não sei... Quero viver coisas inesquecivelmente lindas.

– Eu amo isso.

– Isso o quê?

– O teu modo de sonhar.

– Por quê? É tão comum...

– O sonho de vida da minha ex era ter uma Chanel. -  Gargalhei.

– Ué, normal.

– Sim, normal. Você é que é diferente, Ma, e é uma diferença boa, linda de verdade.

Fiquei meio sem graça e ele percebeu. Foi engraçado ver o jeito que ele tentou contornar, pegando chiclete azedo e fazendo competição de caretas entre nós dois e o cara do balão.

– Primeira estrela do céu! Vamos fazer um pedido?

– Ma, tu acredita mesmo que pode se realizar?

– Acredito!

– Então, ok, pode pedir. Mas pede em voz alta, por que se acontecer, eu vou passar a acreditar também.

– Ok... Eu quero que essa minha mudança de vida seja inesquecível, pro lado bom. Sua vez!

– Eu não quero nada. Tudo o que pedi, acho que agora está aqui.

Perdi as palavras e o ar. O chão eu já tinha perdido há algumas horas. Será que os ciúmes do Pedro ativaram alguma parte romântica dele? Fiquei confusa. Ele me abraçou e depois, na hora de descer, me pegou no colo e me tirou da cesta imensa. Fomos pra casa cantando Love Song, mas eu não deixei de pensar no que ele falou. Meus pensamentos entraram em ordem depois que ele começou a implicar e ser o mesmo Pedro de sempre, e tudo se normalizou quando nós jogamos videogame e ele não me deixou ganhar. Só que de noite ele me mandou uma mensagem me chamando de "Meu anjo". Qual era a dos garotos desta cidade? E eu que me achava tripolar.

Nem Todos Os Amores Se Chamam HenriqueWhere stories live. Discover now