Minha blusa, por algum azar do destino, havia sumido. Na verdade, era por pura ironia mesmo. Eu tinha certeza de que devia ter alguém rindo da minha cara. O Henrique me emprestou a blusa dele, que de tão grande parecia um lençol. Estava frio, não desdenhei. Ficamos esperando o ônibus por um bom tempo, conversamos sobre bastante coisas, inclusive sobre o fato de a Mariel estar chegando e eu querer ele a, no mínimo, vinte quilômetros dela.
– Isso tudo são ciúmes?
– Essa palavra não existe no meu vocabulário, muito menos esse sentimento dentro de mim... só quero evitar desastres.
– Então, como eu dizia, ciúmes.
– Vai se lascar!
– Não, hoje estou sem clima.
Idiota. E mais idiota ainda era eu que ria dessas piadinhas. Eu conheço a Mariel, e se ela veio pra cá é porque brigou com o Lucas... E se brigou com ele, está praticamente no cio, e estando assim, com o Henrique sendo como é... bom, digamos que eu prefira admitir uma porção de coisas a ver os dois juntos.
– É sério, não quero nada entre vocês. Ela vai vir e ficar até o dia da nossa apresentação, depois vai embora. Não é tão difícil, né? Afinal de contas, você tem namorada.
– Ah, é verdade, é que as vezes eu esqueço... Obrigado por me lembrar. – Rimos.
– Seu avô costuma demorar?
– Sempre.
E interrompendo minha crítica, ele chegou.
– Bonita a sua namorada, filho.
– Ela não é minha namorada, vô, apesar de ser o sonho de consumo dela.
– Ah, claro. Não sei nem como consigo ficar perto de você sem te agarrar... Você é tão irresistível!
– Você consegue?
– Discutir o relacionamento é só da oitava cadeira pra trás.
– Não tem relacionamento, moço.
– É, eu estou percebendo que não. – Ele gargalhou. Por incrível que pareça, sentamos exatamente na oitava cadeira, o que foi um tanto quando engraçado. Tinha uma frase daquelas que te fazem refletir sobre relacionamentos, escrita debaixo da janela. Ele leu e ficou me dizendo o quão imatura eu era... claro! Um longo tempo depois, ele parou na ponte, "aquela ponte"... Acho que minha vida ganhava um cenário agora. Descemos e continuamos o percurso. Só uma coisa atrapalhou aquele momento: esbarramos com o Pedro. Normalmente ele me olharia com cara de insatisfação por eu estar com o Henrique, mas dessa vez me olhou como quem estava feliz por mim; cumprimentou o Henrique e saiu. Eu preciso dizer, isso não feriu só o meu ego.
– Oi, Ma... Henrique...
– Iaê, cara, beleza?!
– Tranquilo. Ma, essa roupa te caiu muito bem. - Ele riu um riso sem ironia, o que deveria ter me deixado bem, porém me confrontou. Não sorri, eu não falava mais com ele.
– Vou indo gente, hoje vou conhecer os pais da Mari.
– Boa sorte, cara!
O Henrique era tão cínico que me fazia ficar brava com ele, outra vez. Ele foi andando e a gente também. Me despedi do Henrique, cumprimentei a Júlia e fui pra casa. Cheguei emburrada, sei lá por quê. Eu deveria estar muito bem conformada. Ele sabia que ela era uma víbora. E eu deveria estar mais do que indignada com ele. Ele tinha sido um babaca comigo. Depois vem, me encontra na rua, age como se nada tivesse acontecido e vai embora.
– Filha?
Cheguei em casa tão atordoada que nem percebi que minha mãe estava lá. Também nem percebi que... A MARIEL TINHA CHEGADO!
– MARIEEEELL!!!
– AMIIIIGA!!!
– Que saudades, cara! Eu preciso tanto contar tudo pra você!
Abracei ela com força... Como eu amava aquele abraço!
– E eu preciso mesmo ouvir tudo; afinal, preciso me distrair... Terminei com o Lucas.
– Imaginei, pra você ter vindo...
– Mas já vi muito cara lindo por aqui, até já me senti melhor.
– Claro!
Subimos pro meu quarto rindo, mas eu ainda estava pensando se contava tudo mesmo pra ela. Enfim, contei.
– Então você gosta do Pedro?
– Claro que não, só não quero que ele se machuque.
– Ma, eu te conheço... Com ele é diferente.
– Talvez, mas não importa. Ele não acredita, e eu tenho literalmente mais o que fazer.
– HUMM! Então você está preocupada com a apresentação?
– Ai, que nojo, Mariel!
– Qual é! Esse Henrique é um gato!
Ela pegou meu notebook e começou a mexer nas redes sociais de todos os meus "amigos".
– É um ogro, isso sim. Não quero nada com ele, de verdade.
– Então isso é um "vou te apresentar, porque você é minha melhor amiga e eu te amo?"
NÃO, LÓGICO QUE NÃO! EU ACABEI DE TE FALAR SOBRE TUDO O QUE ACONTECEU, MARIEL. ME AJUDA A TE AJUDAR, NÉ?
– Pode ser...
– Ótimo! Acabei de criar um evento no Facebook chamando todo mundo pra praia, inclusive a Mariana. Preciso saber se ela é uma víbora com V maiúsculo.
– Não, sério! Que mané praia, Mari...
– Sem mais.
– Tá.
– Vamos sair pra jantar?
– E adianta dizer não pra você?
– Ainda bem que você me conhece!
Fomos. Eu amo a Mariel, amo mesmo, mas na maioria das vezes, ela é a irmã mais nova em quem eu tenho vontade de bater.
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Nem Todos Os Amores Se Chamam Henrique
RomanceMaria Alice passa por uma série de mudanças e, no meio de todas elas, conhece pessoas que mudam sua vida - pra sempre.