Capítulo 10

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O resto da tarde foi bem normal, conversei com umas amigas por vídeoconferência, e com o meu pai também, e confesso que isso me deixou com um pouquinho de saudade até dos dias de briga do ano passado. Respirei fundo, e bola pra frente. Mudanças são coisas legais, por mais que às vezes não pareçam. De noitinha, o Pedro passou lá em casa. Ele disse que o pai dele tinha chegado. Fiquei meio tensa com o fato de ele me chamar pra conhecer o cara, mas fui.

– Boa-noite, senhor!

– Boa-noite, senhorita!

E ele riu, o mesmo sorrisinho do Pedro, e assim me pareceu familiar.

– É um prazer te conhecer. O Pedro fala bastante do senhor.

– Que mentira, Ma, eu nunca falo dele.

– Então, como eu estava falando com o seu pai...

– Obrigado pela defesa, Maria Alice.

– O pai dele suspirou.

– Só Ma, por favor.

– Combinado, mas só se você esquecer a parte do senhor, ok?

– Fechado!

A mãe dele tinha pedido comida dessa vez, certeza. Estava muito bom. Nós jantamos, vi o pai do Pedro dar uma surra nele no videogame, e depois ele me deixou ganhar. Vou esfregar isso na cara do Pedro pra sempre. O pai dele falou umas coisas em relação ao Pedro ter bom-gosto e eu torci pra ele não achar que existia possibilidade de nós termos alguma ligação, exceto as que acontecem pelo celular.O Pedro foi me levar em casa e eu vi o pai dele espiando pela janela. Que feio, porém hilário! Ele pediu desculpas pelo constrangimento, e eu disse que só precisava agradecer. Aquela noite tinha sido incrível. Lavei o rosto, deitei e dormi. O dia tinha sido cheio.

– Ma, acorda, está chovendo e hoje a mãe do Pedro vai levar vocês dois na escola, corre!

– Tá, mãe! Já vai!

No mínimo, a mãe dele iria nos levar em uma canoa, porque não estava chovendo: estava acontecendo um dilúvio. Minha mãe tinha tentado ser básica. Me arrumei literalmente correndo, coloquei um casaco pesado e uma capa de chuva... E adivinha? Eu estava gripada. No mínimo, eu iria matar o Henrique por aquele banho que ele fez o favor de me dar. Entrei correndo no carro e chegamos super-rápido na escola. Desci correndo. Se pegasse mais uma gota de chuva, minha gripe não iria agradecer.

– Bom-dia, Henrique! Só queria agradecer pelo banho de ontem, viu? Tem uma terra que não sai do meu uniforme e eu estou mais do que gripada.

– Eu te falei pra fechar a janela do banheiro, Mah. Tomar banho quente com a janela aberta não faz bem. E quanto à terra, eu te disse pra não tirar a roupa no jardim, pra deixar o uniforme pelo menos na sala, porque no jardim ia sujar, mas você não me ouviu, né...

– Você tá passando bem?

– Vai dizer que se esqueceu do nosso banho?

– Ridículo, espero que sua gripe tarde mas não falhe.

– Também adoro você, amor.

Ri um sorriso que mandava ele ir pastar e saí andando. Ele sabia que eu tinha falado do banho que ele me deu com o carro, mas confesso que a piada foi bem pensada. Não tinha ninguém por perto pra ouvir. Foi bem interna.

– Bom-dia, nova preferida do meu pai!

– Bom-dia, ciúme!

– Não é ciúme, mas ele falou com você mais vezes do que falou comigo em uma vida toda.

– Também, você é um chato.

– Cala a boca, Ma! Adivinha?

– Eu não.

– Então... vai ter um acampamento do pessoal da minha família. Vai ser nesse feriado agora, durante uma semana. Eu vou ter que ir... Quer ir comigo?

– Não. Apesar de que eu sei que vai ser superlegal, eu não posso. Não quero deixar minha mãe sozinha.

– Tudo bem, mas se prepara pra ficar uma semana sem mim.

– Nossa, vai ser realmente tão difícil... nem sei como sobrevivi até hoje...

– HAHAHA! Eu sei que você vai sentir saudades.

– Talvez.

Ele riu e a gente fez um teste que o professor tinha passado, uns deveres, e conversamos mais um pouco. Hoje finalmente o dia tinha passado bem rápido. Na hora de ir embora, fomos, e como o feriado iria emendar, eu não tinha mais aula na semana. Fiquei tão feliz pelos dias de folga que ajudei o Pedro a arrumar a mochila que ele levaria pra viagem, e ele me ajudou a lavar a louça. Nada mais justo... Ele foi com os pais dele e eu fiquei. Seria deprimente se eu não tivesse uma lista de filmes e lugares pra ir.Fui ao centro da cidade, a um restaurante que tinha todo tipo de comida de todos os lugares do mundo. Achei bem interessante e entrei. Parecia um shopping de tão grande. Fiquei na parte japonesa. Confesso que não resisto, mas me arrependi.

– Pelo visto, quem está me seguindo é você, né?

– Sem sonhar, Henrique.

– Senta aí, você não vai achar muito lugar pra sentar.

– Eu não, você é muito letal. Em menos de um mês já consegui uma gripe e um uniforme manchado graças a você. Deus que me livre de mais um dano!

– Prometo não te machucar.

– Vou acreditar só porque não tem mais lugar mesmo pra sentar.

– E eu vou acreditar só porque discutir com você me dá preguiça.

– Enfim, quero um Hot-Filadélfia.

– Então pede.

– Que educado, você.

– Que mimada, você.

– Oi, moço! Você pode me trazer uma porção de Hot-Filadélfia?

– Claro, algo mais?

– Traz um suco de maracujá pra ela também, pra ver se esse estresse some.

– Traz uma faca pra gente ver se o Henrique some também, tá?

– Mais alguma coisa, senhores? 

A gente riu, coitado do garçom.

– Só isso – falamos ao mesmo tempo. Comemos, brigamos, bebemos, brigamos, brigamos, brigamos, rimos, brigamos... e ele me levou em casa.

– Obrigada por hoje. Acho que eu não ria tanto assim desde quando me mudei.

– Obrigado também, só não se apaixona.

– Vou me esforçar bastante, obrigada pela dica.

– Sério?!

– Não. – Ri descontroladamente. – Não me apaixono, muito menos por pessoas que nem você. Desculpa te decepcionar.

– Combinado, então, só amigos, sem mais.

– Colegas... Ainda não me convenci de que te quero como amigo.

– Como você quiser, daqui a pouco você não vai viver sem mim.

– Só quando você se chamar oxigênio.

– Se cuida, malcriada!

– Eu sempre me cuido.

Achei que a noite sem o Pedro seria um fracasso, confesso, mas mais uma vez fui surpreendida. Além de mudanças, há surpresas que vêm pro bem, assim espero.

Nem Todos Os Amores Se Chamam HenriqueWhere stories live. Discover now