O resto da tarde foi bem normal, conversei com umas amigas por vídeoconferência, e com o meu pai também, e confesso que isso me deixou com um pouquinho de saudade até dos dias de briga do ano passado. Respirei fundo, e bola pra frente. Mudanças são coisas legais, por mais que às vezes não pareçam. De noitinha, o Pedro passou lá em casa. Ele disse que o pai dele tinha chegado. Fiquei meio tensa com o fato de ele me chamar pra conhecer o cara, mas fui.
– Boa-noite, senhor!
– Boa-noite, senhorita!
E ele riu, o mesmo sorrisinho do Pedro, e assim me pareceu familiar.
– É um prazer te conhecer. O Pedro fala bastante do senhor.
– Que mentira, Ma, eu nunca falo dele.
– Então, como eu estava falando com o seu pai...
– Obrigado pela defesa, Maria Alice.
– O pai dele suspirou.
– Só Ma, por favor.
– Combinado, mas só se você esquecer a parte do senhor, ok?
– Fechado!
A mãe dele tinha pedido comida dessa vez, certeza. Estava muito bom. Nós jantamos, vi o pai do Pedro dar uma surra nele no videogame, e depois ele me deixou ganhar. Vou esfregar isso na cara do Pedro pra sempre. O pai dele falou umas coisas em relação ao Pedro ter bom-gosto e eu torci pra ele não achar que existia possibilidade de nós termos alguma ligação, exceto as que acontecem pelo celular.O Pedro foi me levar em casa e eu vi o pai dele espiando pela janela. Que feio, porém hilário! Ele pediu desculpas pelo constrangimento, e eu disse que só precisava agradecer. Aquela noite tinha sido incrível. Lavei o rosto, deitei e dormi. O dia tinha sido cheio.
– Ma, acorda, está chovendo e hoje a mãe do Pedro vai levar vocês dois na escola, corre!
– Tá, mãe! Já vai!
No mínimo, a mãe dele iria nos levar em uma canoa, porque não estava chovendo: estava acontecendo um dilúvio. Minha mãe tinha tentado ser básica. Me arrumei literalmente correndo, coloquei um casaco pesado e uma capa de chuva... E adivinha? Eu estava gripada. No mínimo, eu iria matar o Henrique por aquele banho que ele fez o favor de me dar. Entrei correndo no carro e chegamos super-rápido na escola. Desci correndo. Se pegasse mais uma gota de chuva, minha gripe não iria agradecer.
– Bom-dia, Henrique! Só queria agradecer pelo banho de ontem, viu? Tem uma terra que não sai do meu uniforme e eu estou mais do que gripada.
– Eu te falei pra fechar a janela do banheiro, Mah. Tomar banho quente com a janela aberta não faz bem. E quanto à terra, eu te disse pra não tirar a roupa no jardim, pra deixar o uniforme pelo menos na sala, porque no jardim ia sujar, mas você não me ouviu, né...
– Você tá passando bem?
– Vai dizer que se esqueceu do nosso banho?
– Ridículo, espero que sua gripe tarde mas não falhe.
– Também adoro você, amor.
Ri um sorriso que mandava ele ir pastar e saí andando. Ele sabia que eu tinha falado do banho que ele me deu com o carro, mas confesso que a piada foi bem pensada. Não tinha ninguém por perto pra ouvir. Foi bem interna.
– Bom-dia, nova preferida do meu pai!
– Bom-dia, ciúme!
– Não é ciúme, mas ele falou com você mais vezes do que falou comigo em uma vida toda.
– Também, você é um chato.
– Cala a boca, Ma! Adivinha?
– Eu não.
– Então... vai ter um acampamento do pessoal da minha família. Vai ser nesse feriado agora, durante uma semana. Eu vou ter que ir... Quer ir comigo?
– Não. Apesar de que eu sei que vai ser superlegal, eu não posso. Não quero deixar minha mãe sozinha.
– Tudo bem, mas se prepara pra ficar uma semana sem mim.
– Nossa, vai ser realmente tão difícil... nem sei como sobrevivi até hoje...
– HAHAHA! Eu sei que você vai sentir saudades.
– Talvez.
Ele riu e a gente fez um teste que o professor tinha passado, uns deveres, e conversamos mais um pouco. Hoje finalmente o dia tinha passado bem rápido. Na hora de ir embora, fomos, e como o feriado iria emendar, eu não tinha mais aula na semana. Fiquei tão feliz pelos dias de folga que ajudei o Pedro a arrumar a mochila que ele levaria pra viagem, e ele me ajudou a lavar a louça. Nada mais justo... Ele foi com os pais dele e eu fiquei. Seria deprimente se eu não tivesse uma lista de filmes e lugares pra ir.Fui ao centro da cidade, a um restaurante que tinha todo tipo de comida de todos os lugares do mundo. Achei bem interessante e entrei. Parecia um shopping de tão grande. Fiquei na parte japonesa. Confesso que não resisto, mas me arrependi.
– Pelo visto, quem está me seguindo é você, né?
– Sem sonhar, Henrique.
– Senta aí, você não vai achar muito lugar pra sentar.
– Eu não, você é muito letal. Em menos de um mês já consegui uma gripe e um uniforme manchado graças a você. Deus que me livre de mais um dano!
– Prometo não te machucar.
– Vou acreditar só porque não tem mais lugar mesmo pra sentar.
– E eu vou acreditar só porque discutir com você me dá preguiça.
– Enfim, quero um Hot-Filadélfia.
– Então pede.
– Que educado, você.
– Que mimada, você.
– Oi, moço! Você pode me trazer uma porção de Hot-Filadélfia?
– Claro, algo mais?
– Traz um suco de maracujá pra ela também, pra ver se esse estresse some.
– Traz uma faca pra gente ver se o Henrique some também, tá?
– Mais alguma coisa, senhores?
A gente riu, coitado do garçom.
– Só isso – falamos ao mesmo tempo. Comemos, brigamos, bebemos, brigamos, brigamos, brigamos, rimos, brigamos... e ele me levou em casa.
– Obrigada por hoje. Acho que eu não ria tanto assim desde quando me mudei.
– Obrigado também, só não se apaixona.
– Vou me esforçar bastante, obrigada pela dica.
– Sério?!
– Não. – Ri descontroladamente. – Não me apaixono, muito menos por pessoas que nem você. Desculpa te decepcionar.
– Combinado, então, só amigos, sem mais.
– Colegas... Ainda não me convenci de que te quero como amigo.
– Como você quiser, daqui a pouco você não vai viver sem mim.
– Só quando você se chamar oxigênio.
– Se cuida, malcriada!
– Eu sempre me cuido.
Achei que a noite sem o Pedro seria um fracasso, confesso, mas mais uma vez fui surpreendida. Além de mudanças, há surpresas que vêm pro bem, assim espero.
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Nem Todos Os Amores Se Chamam Henrique
RomanceMaria Alice passa por uma série de mudanças e, no meio de todas elas, conhece pessoas que mudam sua vida - pra sempre.