É hoje que eu morro.

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    O restaurante de seu tio não estava tão cheio naquele dia. Sua mãe teve a grande ideia de tomar um café lá sendo que tinha uma cafeteria bem perto. Não dá pra entender essa velha. O aroma do local era sempre agradável, será que era por isso que tinha tantos clientes? Geralmente, os restaurantes têm o cheiro desagradável de queimado ou de fumaça.
    Sentou-se na mesa mais próxima da entrada para verificar se o ruivo estava bisbilhotando sua vida ou o seguindo. Sua mãe estava bem arrumada como sempre: O coque especial dela e os brincos de pérolas. Ela o observava como se tivesse acabado de encontrar um tesouro perdido e isso o incomodava um pouco. Ele estava nervoso demais.
    Será que Luke trabalhava com eles? As perguntas ecoavam em sua mente sem cessar. E sua mãe continuava o encarando. Ele deu um sorriso e desviou o olhar em direção à entrada novamente. Não era Hux que ele queria ver e sim, Rey. Pelo horário, ela já deveria estar se arrumando para trabalhar. Ter que encará-la depois daquele acontecimento seria muito difícil para ele.
    Leia pigarreou cortando seus pensamentos.
    - Como você está, Ben? – Ela estava com um olhar triste enquanto o encarava. – Eu senti muito a sua falta.
    - Eu estou bem, eu acho – Ele abaixou o olhar. – Mas estava melhor antes de ter matado meu pai, se é o que pensam de mim.
    Ela balançou a cabeça em negação.
    - Você não matou seu pai – Murmurou num tom sério. – Você sabe disso.
    - Mas não é isso que Luke pensa. Eu ouvi tudo, mãe, por isso me afastei de vocês. – Ele tentou se controlar para não se exaltar.
    - Seu tio não passa bem das ideias – Ela respirou fundo. – Ele é um homem inteligente, mas, se a intuição dele diz algo, ele segue até o fim.
    - Eu não quero saber da intuição de Luke – Ele disse, exasperado. – Você sabe o que eu quero saber.
    Finn, um dos amigos de Rey, apareceu na frente deles e posicionou o cardápio em cima da mesa. Ele lançou um olhar meio esquisito na direção de Ben.
    - Boa tarde, o que vocês desejam? – Finn perguntou enquanto encarava a senhora que estava na frente dele.
    - Gostaria de um cappuccino – Ela respondeu, mostrando a escolha no cardápio. – E um pro meu filho também.
    Finn quase se engasgou ao ouvir a última frase. Não era óbvio que ela era mãe dele? Ben não se conteve e soltou uma leve risada. Leia fez uma expressão de surpresa e sorriu.
    - Você rindo? Só pode estar apaixonado! – Ela comentou, alegremente.
    O jovem garçom saiu imediatamente de perto deles após o comentário de sua mãe. Ben já imaginava o porquê disso. Ele já deve saber os sentimentos dele pela amiga dele. Sentiu suas bochechas arderem, mas desviou o rosto para Leia não perceber. E, por que ele foi desviar o rosto? Ela estava entrando no restaurante naquele momento.
    Rey estava linda como sempre e bem arrumada dentro daquele uniforme. Os seus olhares se encontraram por alguns segundos e ele se pegou lembrando do primeiro dia em que se beijaram. Ela desviou o olhar dele rompendo instantaneamente a conexão entre eles.
    Leia encarou seu filho e depois encarou a jovem que ele estava admirando.
    - Realmente, ela é muito bonita – Ela sussurrou, com um sorrisinho. – Está apaixonado por ela?
    Incrível, intuição de mãe nunca falha. Ele olhou para sua mãe novamente e abaixou o olhar. Isso já foi o suficiente para ela entender. Um olhar diz muita coisa.
    - Você já poderia me explicar sobre o que estávamos falando. – Ele disse, fugindo do assunto.
    - Precisamos colocar o papo em dia, você sabe. – respondeu ela, animada.
Ele revirou os olhos.
    Antes que sua mãe começasse a tagarelar, Finn veio com uma bandeja em direção à eles. Haviam duas canecas bem decoradas e com o logo do restaurante. Ele as colocou na mesa.
    - Muito obrigada. – Leia disse, sorrindo.
    - De nada - Finn disse enquanto desviava o olhar. – Se precisarem de algo, só chamar.
    Ele acenou e voltou ao seu trabalho.
    - Acho que já podemos começar. – Ben murmurou, impaciente.
    - Claro. – Ela deu um gole da bebida. – Só espero que não se assuste.
    - Deveria? – Ele levantou as sobrancelhas.
    Sua mãe deu uma leve risada.
    - Não sei se você é ciente disso, mas a sua mãe é uma excelente advogada. - Ela deu um gole novamente de sua bebida.
    - Prossiga. – Ele fez um gesto com a mão.
    - Recebi muitas informações sobre vítimas não só de Snoke – Ela respirou fundo - , mas de Kylo Ren também. Eles queriam abrir um processo contra eles, já que a polícia demorava para solucionar os casos. Um deles era amigo de Luke, então meu irmão pediu a minha ajuda e me contou tudo o que soube.
    Ben tentava ouvir atenciosamente a sua mãe, mas a raiva começou a tomar conta de seu corpo. Ela estava se arriscando por uma pessoa que nem conhecia? Com certeza, Hux e seu bando estavam de olho em sua mãe. Podiam estar até a espionando. Isso o fez estremecer.
    - Como Luke é um grande irmão para mim. Ele me ajudou a procurar mais vítimas para ajudá-las. Já tentamos resolver indo à delegacia, mas disseram que era bobagem e que, talvez, poderiam verificar.
    - Eles estão com a polícia – Ele bufou. – Ou você não percebeu isso? Que bela advogada. – Disse num tom irônico.
    - Eu notei isso, mas como eu iria saber de início? Você sabe porque... – Ela apontou o dedo para ele. – Porque você já trabalhou com eles. Você machucou muitas pessoas e eu não consigo acreditar nisso.
    - Agora você vai jogar as coisas na minha cara? – Ele gritou enquanto se levantava da cadeira.
    - Não é isso! – Ela gritou de volta. - Sente-se, Ben Solo.
    Ele continuou de pé ao lado de cadeira encarando-a. Ela não quer apenas me contar as coisas. Ela está escondendo algo. Começou a sentir pontadas na cabeça, estava furioso. Já basta Hux pra citar aquele nome e agora, sua mãe. Aquilo já estava demais.
    - Como você saiu de lá? E por que você me deixou? – Ela perguntou, preocupada.
    Ele respirou fundo tentando se acalmar.
    - Eu era invisível para meu próprio pai e minha mãe nunca sequer passou um tempo direito comigo quando eu era criança. Depois do acidente, eu vi que você estava depressiva e não só você, como eu também estava bem antes disso acontecer. Eu estava sozinho. Tentei procurar um psicólogo e aí a merda aconteceu. – Ele disse enquanto olhava ao seu redor verificando se mais alguém estava prestando atenção nele.
    - Então, você foi uma vítima e depois se tornou um assassino. Me explique como isso aconteceu. – Ela levantou o olhar encarando-o.
    - Eles usam medicamentos e drogas para controlar pessoas. Usam até hipnose para você fazer o que eles quiserem. E sim, eu fui uma vítima, mas virei um assassino.
    - E como você saiu de lá? Você não me explicou isso. – Ela puxou o assunto novamente.
    - Eles têm suas falhas, por isso consegui escapar. Mas ainda sou dependente de certos medicamentos. Eu tomo alguns, os únicos que sobraram que Snoke me deu e alguns que eu roubei ao escapar – Ele respirou fundo. – Quando eles acabarem, Ben Solo terá que lutar para sobreviver.
    Lágrimas começaram a cair no rosto de sua mãe. Os olhos dela estavam vermelhos e ela continuava o   encarando sem desviar o olhar.  
    - Por que você nunca procurou minha ajuda?! – Ela gritou aos prantos enquanto se levantava da cadeira.
    - Porque eu sempre fui um assassino para vocês! – Ele gritou e várias pessoas estavam o observando espantados agora. Inclusive Rey, ela estava petrificada.
     - Não, Ben – Leia disse com a voz trêmula. – Você é meu filho e eu sempre irei te amar do jeito que você é.
    - Esqueça Kylo Ren. – Ele disse rispidamente. – E se ele voltar, deixe o passado morrer. Mate-o se for preciso.
Antes que sua mãe falasse, ele saiu pela porta, rapidamente, sem olhar para trás.
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    A jovem estava surpresa ao presenciar aquela cena. Seu psicólogo gritando com a própria mãe. Rey sabia que ele estava furioso com Hux, mas o que sua mãe devia ter falado para ele reagir dessa forma? Rey queria puxá-lo para perto de si na mesma hora e dar um abraço bem apertado dizendo que tudo vai ficar bem. Porém, ela não podia interromper a conversa deles e tinha que focar no seu trabalho.
    Ele não saía de sua cabeça, ela estava preocupada com ele. Se ele perder o controle, o que acontecerá com ele? Ela decidiu que iria enviar uma mensagem à ele assim que chegasse em casa. Rey permaneceu encarando a mesa que ele estava e viu que a mãe dele estava cheia de lágrimas em seu rosto. Sentiu seu coração apertar ao ver aquela cena.
    - Parece que seu namorado é surtado. – Finn apareceu de surpresa atrás dela fazendo -a pular de susto.
    - Não fale assim dele. – Ela retrucou, exasperada.
    - Ah, então vocês estão namorando e você não me contou? – Ele colocou as mãos na cintura enquanto a observava.
    - Ele não me pediu em namoro, mas acho que é quase isso.
    Finn revirou os olhos.
    - Como assim? Que cara sem atitude é esse? – Ele fez uma cara de nojo. – E que papo é esse de assassino, Rey? Você ouviu o que ele disse.
    - Eu não sei de nada disso. Talvez, ele tenha apenas tido uma crise. – Ela disse enquanto tentava observar a senhora que estava chorando.
    Rey odiava mentir para seus amigos, mas era necessário. Ela já estava tendo um grande risco ao saber daquela informação. Definitivamente, não iria colocar seus amigos no meio. Se ela não conseguisse proteger Ben , iria protegê-los de qualquer forma.
    Tentou disfarçar o grande incômodo que estava sentindo e deu um tapa de leve no ombro de seu amigo.
    - Que tal a gente ir ao shopping hoje à noite? – Ela perguntou, sorrindo.
    Finn colocou a mão sobre a testa de Rey e no pescoço dela.
    - Você está com febre? Está doente? – Ele continuou verificando a temperatura dela. – Rey querendo sair de casa sem eu ter que arrasta-la para a rua?
    - Posso saber o porquê de vocês estarem tão íntimos assim? – Poe se aproximou deles com uma bandeja na mão.
    - Estou verificando se ela está doente – Finn riu. – Está querendo ir ao shopping.
    - Não quero ter que ficar atendendo várias pessoas sozinho enquanto vocês estão de papo sobre homens e compras. – Ele disse num tom sério.
    Finn deu um beijo no rosto dele e Poe deu um leve sorriso.
    - Amor, não tenha ciúmes. Sou todo seu. – Finn disse enquanto dava vários beijos em sua bochecha.
    - Ok, irei me retirar porque não quero virar a tocha humana. – Rey foi em direção à cozinha pegar mais pratos e entregar os pedidos.
    A cozinha estava um forno, ela odiava ficar na cozinha por conta da temperatura, mas amava cozinhar. E se ela realizasse seu sonho, teria que se acostumar com isso. Os cozinheiros estavam apressados correndo para todos os lados. Quanto mais os pedidos aumentavam, mais eles ficavam desesperados. Ela entregou os pedidos e pegou uma bandeja. Mesa número 12.
    Saiu segurando a bandeja, cautelosamente, e foi em direção à mesa 12. Tinha uma mulher com cabelos pretos com os olhos pregados no celular. Rey analisou o lugar esperando encontrar a mãe de Ben , mas ela não estava mais lá.
    Ao se aproximar da mesa, ela viu que a mulher se parecia com uma amiga dela do abrigo. Será que é ela mesmo? Rey colocou o prato sobre a mesa e a cumprimentou.
    - Aqui está sua refeição, senhorita. – Rey sorriu.
    A mulher a encarou e fez uma expressão de surpresa.
    - Rey?! – Ela exclamou dando um largo sorriso.
    - Rose? É você? – Rey perguntou incrédula.
    Rose se levantou da cadeira e deu um abraço apertado em Rey. Ela retribuiu o gesto e deu um enorme sorriso.
    - Quanto tempo! Não acredito que uma das minhas melhores amigas do abrigo está aqui. – Rose disse enquanto se posicionada na cadeira. 
    - Sim, realmente faz muito tempo. É muito bom saber que você está viva e com saúde. – Rey disse, observando-a.
    - Eu digo o mesmo. Sofremos muito naquele lugar. – Rose encarou o teto enquanto as lembranças vinham em sua mente.
    - Realmente – Rey respirou fundo. – Bom, o dever me chama. Tenha uma ótima refeição.
    - Espera! – Rose gritou. – Me passa seu número de telefone.
    Rey disse seu número a ela e anotou o número dela num papel. Se despediu dela e voltou ao trabalho cansativo. Ela estava contente ao reencontrar a velha amiga dela, mal podia esperar para contar ao Finn. Poe não ligava muito para esses assuntos, era bem mais sério, porém era uma pessoa muito divertida.
    Depois de trabalhar bastante, Rey viu que já estava muito tarde e já era a hora de fechar o restaurante. Se despediu de seus amigos e saiu antes que ficasse de vela novamente. Seu patrão não marcou presença naquele dia, então sobrava para eles a tarefa de fechar o restaurante.
    A rua estava muito deserta, ela começou a sentir calafrios. Estava com medo de ser assaltada ou sequestrada.
   Ela segurou bem firme a sua bolsa e tentou andar rápido. Começou a ouvir passos como se alguém estivesse a seguindo, tentou não olhar para trás e acelerou mais ainda. O barulho dos passos atrás dela estava lá novamente. Mas que porra é essa? Rey continuou olhando para frente se recusando a olhar para trás. Será que eu devo gritar?
    Sentiu uma mão bem firme segurando seu pulso, ela não se conteve e começou a gritar. Uma mão tempo a sua boca com força e ela entrou em desespero. É hoje que eu morro.
    - Você tem sorte que tem alguém pra te proteger. – Disse a voz familiar.
Sem hesitar, Rey mordeu a mão que estava na sua boca e deu um chute na pessoa que estava atrás dela.
    - Rey, calma! – Ele estava quase caindo no chão.
    - Ben? – Ela perguntou, confusa.
    - É claro que sou eu! – Ele gritou enquanto tentava se recompor. – Você é doida de ir para a casa tarde a essa hora tendo que passar por ruas desertas? E se eu fosse um maluco? E se eu fosse Hux?
    Ele estava certo, mas deu um baita susto nela. Hux trabalhava com seu avô e se ele estava se aproximando dela é porque algo de ruim iria acontecer, ou com ela ou com Ben .
    - Pelo menos você tentou se defender. Isso é ótimo, mas e se eu estivesse armado? – Ele cruzou os braços, encarando-a.
    - O desespero não me fez pensar – Ela gritou. – Porque você me assustou!
    - Mas na hora ninguém vai pensar nisso! Você tem que tomar cuidado, você sabe disso! – Ele gritou, enfurecido. – Eu não quero te perder, Rey!
     - Você fala como se alguém fosse tentar me sequestrar – Ela levantou as sobrancelhas. – Por acaso, alguém vai me sequestrar?
    - Eu não sei – Ele respirou fundo. – Mas sei que algo ruim está prestes a acontecer.

Dear, patient.Onde histórias criam vida. Descubra agora