precisamos ter uma nova consulta.

130 16 10
                                    

    O resultado estava demorando demais para sair e, enquanto o aguardava, estava tremendo com os braços em volta de si mesma. O ar gélido do hospital junto com o nervosismo estava fazendo seu corpo ficar arrepiado. Mal conseguia trocar palavras com sua amiga que se encontrava ao seu lado sentada num banco dentro daquele cubículo fechado. Não conseguia parar de pensar em mais nada – apenas queria que nenhum abuso tivesse acontecido.
A ansiedade estava matando-a por dentro, sentia a sua bile subir pela garganta. Porém, se esforçou para não vomitar a pílula do dia seguinte que lhe deram por precaução. Rose notou que seu corpo estava trêmulo e apertou firme a sua mão.
- Eu não sabia que ele era dessa forma. Se eu soubesse, eu nunca teria ficado com ele – Ela abaixou a cabeça enquanto respirava fundo. – Sinto muito, você não merece passar por isso. Aliás, ninguém merece.
Rey cruzou suas mãos em seu colo e deu um sorriso forçado para não deixar sua amiga mais preocupada.
- Rose, fico feliz que ele não tenha te matado. Isso é o que importa para mim agora, vai ficar tudo bem.
- Vamos conseguir mandá-lo para prisão de qualquer forma. Irei fazer qualquer coisa para te ajudar a denunciá-lo.
Sem nem perceber o tempo passar, Rey observa uma mulher de jaleco entrando com uns papéis e com um sorriso estampado no rosto. Isso é um bom sinal? Espero que sim. Ela se aproxima, delicadamente, e entrega o papel nas mãos dela.
- Vejo que não há nenhum fragmento que indica o abuso – Ela abaixou o olhar. – Sei que deve ter sido uma experiência difícil, mas espero que esse resultado deixe seu coração mais aliviado. Rey sentiu um peso enorme sair de suas costas.
Sim, estou bem mais aliviada do que antes.
- Se precisar de terapia, podemos procurar vagas para você – A mulher deu um sorriso. – Temos um psicólogo muito ótimo!
Rey retribuiu o sorriso à ela.
- Não precisa, já frequento consultas faz alguns meses. – Não era mentira, mas a omissão ali era que seu psicólogo não era um cara normal e teve que parar de fazer consultas.
- Entendo! Que ótimo então, espero que fique bem e seja forte. – A mulher abriu a porta da saída para elas.
Rey deu um sorriso para ela e Rose a agradeceu com um sorriso estampado no rosto. 
Quando chegaram na entrada do hospital, notou que o carro de Ben estava um pouco distante. Ela respirou fundo, espero que os dois não tenham brigado nesse tempo. Rose estava a abraçando de lado bem apertado e com a expressão mais aliviada.
Ao entrarem no carro, Finn, que estava focado no celular, arregalou os olhos e perguntou várias vezes se deu tudo certo. Rose disse o resultado e, imediatamente, ele deu um suspiro de alívio. Ben estava olhando para baixo e seus cabelos escondiam seu rosto. Rey não sabia se perguntava algo ou se deveria permanecer calada.
Todos se ajustaram em seus lugares e Finn começou a falar sobre coisas aleatórias para descontrair, mas apenas Rose se manteve interessada nos assuntos.
- Caramba! Quero muito viajar para França, é um lugar bem romântico mesmo. – Rose exclamou.
- Com certeza, a minha lua de mel será lá – Finn disse, animado. – Mal posso esperar pelo meu casamento dos sonhos!
Ben riu baixinho e acariciou a mão de Rey.
- Como foi lá? – A voz grossa dele sussurrando fez o corpo dela estremecer.
- Deu tudo certo, até me ofereceram terapia – Ela o respondeu e o mesmo deu um sorriso irônico. – Pensei em aceitar, já que meu psicólogo decidiu ir para Nárnia e nunca mais voltou.
- Deveria ter dito que já tem um psicólogo para sua vida inteira. – Ele deu uma piscadela na direção dela.
Depois de tudo o que aconteceu, ela não iria ceder tão fácil assim.
- Acho que eu deveria procurar um melhor, o meu sumiu sem nem me explicar nada. – Ela disse num tom desafiador.
Ele bufou e a encarou fixamente por alguns segundos.
- Hum. – Ele murmurou num tom indiferente. Parece que alguém virou uma geladeira agora.
- Finn e Rose, vocês vão ficar aonde? – Ele perguntou desviando seu olhar na direção de Rey.
Finn deu o seu endereço para ele e ele retornou o seu foco na rua.
- Rey, se você quiser, pode jantar hoje na minha casa. – Seu amigo disse depois de um longo silêncio.
Antes que ela pudesse responder, foi interrompida.
- Eu tenho que resolver um assunto com ela, se você não se importar, claro. – Ben replicou.
- Tudo bem, acho que vocês precisam conversar mesmo. – Finn disse num tom malicioso. Rey colocou a mão em sua própria testa. Só ele mesmo! Sentiu suas bochechas queimarem e voltou o seu olhar para a janela do carro.
Já estavam bem próximos da casa de Finn, que era bem decorada em seu exterior, o seu amigo mais que depressa já apontou mostrando a direção de sua morada. Rose estava a observando admirada e comentando vários elogios. E Ben estava quieto demais, isso estava incomodando muito o coração de Rey.
- Chegamos! – Finn exclamou com alegria e abriu a porta do carro para sair. Como eu queria ter esse otimismo.
Ben abriu a porta do carro sem dizer nenhuma palavra e saiu, deve ter ido abrir o porta malas. Ela estava mais agoniada com o silêncio dele do que sobre o acontecimento anterior. Desde o dia que ela o viu, ele mexeu com ela de uma forma que ninguém mexeu. Mas ela não iria implorar ou se humilhar para entendê-lo. Ele que a abandonou, então ele que deveria se explicar.
Finn e Rose se despediram dela e pediram para que ela entrasse em contato com eles assim que pudesse. Rey, como sempre, fingiu que estava tudo bem e apenas assentiu. Ben entrou no carro, com o mesmo silêncio de antes, e se posicionou na cadeira.
De novo isso, como ele consegue ser tão indiferente? Que ódio!
Ela decidiu não encará-lo mesmo que ele estivesse a observando. Se ele quer ter uma conversa comigo, dessa vez ele que terá que dizer algo primeiro. Depois de um longo silêncio, sentiu algo macio pousar sobre sua mão, era a mão dele. Os seus dedos se entrelaçaram delicadamente entre os dela. Sua respiração ficou mais ofegante e os batimentos ficaram tão acelerados que ela se perguntou se ele conseguia ouvi-los.
Diga algo, por favor. Ele permaneceu em silêncio.
E assim se permaneceu durante o longo trajeto até a casa dele. Quando chegaram, ele abriu a porta do carro para ela e ficou a encarando silenciosamente. Rey encolheu os seus ombros, andou na frente dele e o esperou abrir a porta. Ele seguiu atrás dela e pegou suas chaves.
Então, vai ser assim?
Ela decidiu tomar uma atitude e se colocou na frente dele. Com os braços cruzados, ela o encarou fixamente com o olhar semicerrado. Ele deu um sorriso de lado e passou a mão pelos cabelos.
- Se você continuar me encarando, eu vou beijar você. – Ele se inclinou deixando seu rosto mais próximo do dela.
- Se você tiver uma chance novamente, né? Porque depois daquilo, não sei se devo te beijar. – Ela sussurrou num tom desafiador sem desviar o olhar.
- Engraçado, Rey, porque horas atrás você estava nos meus braços. – Ele sussurrou em seu ouvido e acariciou o seu braço. A respiração quente e o seu toque estava fazendo seu corpo se arrepiar. O cheiro forte familiar vindo de seu perfume estava a deixando louca.
Antes que ela pudesse retrucar, os lábios dele já estavam nos dela. As mãos dele estavam apertando a sua cintura e a respiração de ambos estava descontrolada. Era como se um choque tivesse os atingido. As suas mãos estavam acariciando aqueles cabelos negros e macios. Ela retribuiu os beijos e abriu lentamente a sua boca permitindo que suas línguas se encontrassem. A mão dele que estava em suas costas deslizou em sua bunda e deu um aperto de leve nela.
Ele se separou do beijo e colou seu corpo contra o dela.
    - Precisamos ter uma nova consulta. – Ele disse num tom malicioso.

Dear, patient.Onde histórias criam vida. Descubra agora