águas passadas.

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Enquanto escovava seus dentes apressadamente, Rey estava muito nervosa. Tentou tomar um banho bem quente para acalmá-la, mas não adiantou. Suas mãos estavam trêmulas assim como o seu corpo, era bem transparente a sua agitação. Os pensamentos da jovem sempre voltavam na noite em que tivera uma atitude bem ousada — o que a deixava mais envergonhada ainda.
            A jovem foi em direção ao seu armário e escolheu uma blusa vermelha sem estampa com um tom escurecido que ficava bem folgada e uma calça jeans preta que estava ficava ajustada nas coxas. Fez uma maquiagem de leve e enalteceu seus lábios com um batom avermelhado.
          Subitamente, Rey pegou seus óculos escuros e os ajustou em seu rosto, assim o psicólogo não notaria o jeito que ela iria encará-lo. Ótima ideia, Rey. Pegou a sua bolsa com sua carteira, celular e documentos e seguiu seu rumo em direção à porta do apartamento. Ao sair, notou que alguém estava a observando, olhou em direção ao rapaz que não parava de encará-la. O homem arqueou as sobrancelhas e deu um leve sorriso enquanto se aproximava dela.
          — Perdoe meus modos, não queria assustá-la. Sou seu novo vizinho, prazer. — O homem ruivo lhe observava atentamente. Rey deu um sorriso torto.
         — Sem problemas! Meu nome é Rey, prazer. Como se chama?
         — Armitage Hux, mas apenas me chame de Hux. — Ele mordeu os lábios inferiores devorando-a completamente pelos olhos.
       A jovem acenou para Hux e continuou seguindo seu rumo em direção ao consultório. Seu vizinho era estranho, principalmente o modo como a olhava. Rey tinha até esquecido do nervosismo e começou a surgir um sentimento de desconfiança.

       O céu estava nublado e a cidade estava bastante movimentada assim como o consultório de Ben Solo. As pessoas estavam conversando bastante e assistindo à televisão que ficava na sala de espera. Rey pegou seus documentos na bolsa e foi em direção à recepção. Infelizmente, teria que encarar Melissa. Ao notar que Rey estava se aproximando, a loira revirou os olhos.
      — Não sabia que o sol estava tão forte lá fora. Os óculos não combinaram em você, mas sei que em mim ficariam bem melhor. — A loira zombou.
       — Talvez uma máscara fosse resolver a sua situação. Ops, você já usa duas. — Rey deu um sorriso debochado. Melissa franziu a testa.
       — Cuidado com o que você fala, anjo. Sei muito bem que você está de olho nele, mas saiba que ele é meu. — A loira sussurrou enquanto se aproximava de Rey. — E você não iria querer que ele soubesse que uma de suas pacientes está arrumando confusão em seu consultório, certo?
        Rey ignorou o comentário, entregou os documentos e esperou ser atendida. Ficou observando Melissa sorrindo para os outros pacientes e fazendo uma voz fina. Como ela era falsa. Falsidade era uma das coisas que Rey mais odiava. A jovem também notou que o comportamento de Melissa mudava totalmente quando Ben Solo aparecia na recepção, a loira dava um sorriso malicioso e parecia que iria devorá-lo. Toda vez que ele observava seus pacientes na sala de espera, Rey abaixava a cabeça e fingia que estava mexendo no celular. Será que estava procurando por ela?
        Depois que a sala esvaziou, ouviu seu nome ser chamado. Sentiu suas pernas tremerem e andou cambaleando em direção à porta para ser atendida. Antes que pudesse entrar, ele já estava na porta.
        Ben apertou os lábios e deu um leve sorriso. A paciente que estava sem jeito, retribuiu o sorriso sem encará-lo e se acomodou na cadeira. Não conseguindo olhar para ele, mesmo estando de óculos escuros, ficou encarando seus pés.
       — Senhorita, Rey. Estou feliz em vê-la aqui, imagino que tenha tido uma noite bem ocupada já que não respondeu as minhas mensagens. — Rey levantou seus olhos em direção à ele. Mas que abusado, em?
       — Não estava bem para responder e não sou obrigada. — Ele mediu-a com o olhar.
       Ben suspirou e balançou a cabeça.
       — Eu estava preocupado, Rey.
      — Esquece isso, vamos ir direto ao que interessa. — A jovem deu um sorriso de lado e cruzou os braços. Ben pensou maldade ao ouvir essa frase e se lembrou do sonho.
      Rey notou que os olhos de Ben ficaram arregalados subitamente. Não sabia que eu estava tão feia hoje.
     — Está tudo bem, Ben? — Ela o examinou, preocupada.
     Ben forçou um sorriso e desviou seu olhar.
    — Sim, estou bem. Pode prosseguir, senhorita. — Ele se endireitou em sua cadeira e colocou as mãos em cima da mesa. Discretamente, ele começou a desviar seu olhar novamente. Rey percebeu isso, mas decidiu ignorar.
    A jovem respirou fundo tentando se acalmar.
   — Minha vida nunca foi interessante, sabe? Meus pais me abandonaram e eu passei a maior parte do tempo em um abrigo, sempre trabalhei bastante. Nunca tive muitos amigos até encontrar Finn e Poe, são os melhores que eu já tive — Ben franziu o rosto e Rey notou o deboche, mas prosseguiu — Nunca tive relacionamentos amorosos também e nunca realizei o meu sonho, porém estou tentando lutar para conseguir alcançá-lo. — Ele lançou-lhe um olhar preocupado.
   — Entendo perfeitamente. Bom, meu conselho é você criar uma história nova para a sua vida. Conheça pessoas novas e nunca desista de seus sonhos. Você sabe muito bem mais do que qualquer um que você merece uma vida digna e feliz. — Ele tocou a mão de Rey tentando confortá-la. Rey estremeceu com seu toque e ela sentiu a mesma sensação vindo dele.
    — Como eu irei criar? Estou sem esperanças. — Os olhos da jovem lacrimejaram.
    — Você é capaz, Rey. E se você não conseguir, eu irei te ajudar. Você não está sozinha, você tem um novo amigo agora — Ben tocou o rosto de Rey enxugando uma lágrima que escapou — Fique viva e seja forte, tenho certeza de que seus amigos amam você mesmo deixando você de lado ontem.
    Rey revirou os olhos.
    — Quer mesmo falar sobre o que aconteceu ontem? — Ela semicerrou os olhos encarando-o.
    Ben se lembrou de quando a jovem se chamou de solteirona. 
    — Não, mas quero que saiba de uma coisa: você vale a pena e sei que muitos caras fariam de tudo para ter uma mulher como você ao lado deles. Saiba disso, Rey. — As bochechas dela ficaram rosadas e nem tinha como disfarçar naquele momento.
    — Você faria o mesmo? — Rey pensou alto naquele momento e quando a frase escapou de seus lábios já era tarde demais.
    Ben empalideceu.
    — Peço que ao chegar em casa, você anote tudo o que gostaria de fazer antes de morrer. Anote tudo e depois iremos conversar sobre isso. Se precisar de alguém para te ajudar, não hesite em me chamar, você já tem meu número — Ben desviou o olhar novamente — E também peço que anote tudo o que gostaria que tivesse acontecido em sua vida. Somente coisas boas, ok?
    Rey ficou chateada com a resposta que lhe deu. Não era bem o que ela queria, ela sabia que ele fugiria de perguntas como essa. O pensamento de que ele não se sentia atraído por ela como ela era por ele começou a brotar em sua mente, aquilo a entristeceu.
    — Acho que encerramos por aqui, certo? — Ela se levantou e foi em direção a porta sem se despedir de seu psicólogo.
    A jovem começou a correr rapidamente. Não estava acreditando na pergunta que ela tinha feito, aquilo só iria afastá-lo dela. Pagando mico de novo, em, Rey?

    Ben se sentiu abandonado ao vê-la saindo correndo. Será que era um adeus? Desde o momento em que a viu trabalhando sentiu uma atração por ela. Rey era linda demais, como nunca teve um relacionamento? E aquela pergunta, aquela pergunta o fez estremecer. Era óbvio que ele faria de tudo para ter uma mulher como ela, aliás, tê-la completamente ao seu lado. Nunca conheceu uma mulher forte e guerreira, a maioria que ele conheceu eram mimadas ou apenas queriam um marido rico para bancá-las — ela não era assim, ela era espetacular. Sentiu que deveria ter respondido ela, mas talvez seja apenas uma curiosidade da parte dela. Rey não se interessaria por qualquer um, ela era rara.
    Precisava tomar um ar, refrescar a sua mente. Aquela garota estava o deixando maluco e confuso. Não sabia se certas coisas eram por curiosidades ou porque ela realmente se interessou por ele. Porém, já cravou em sua mente que ele era um dedo podre para relacionamentos, nunca iria conseguir namorar uma mulher como Rey.
    Saiu de seu escritório e avisou à sua secretária de que iria comprar algo para beber e já voltava. A loira já estava o observando desconfiada, mas ele não iria fazer nada de errado — só queria apenas dar uma volta. Ao abrir a porta do consultório, sentiu a brisa fresca invadindo a rua e começou a caminhar lentamente na calçada. Observou atentamente as árvores e cada detalhe das casas, aquilo estava o distraindo bastante.
    Depois de alguns minutos, respirou fundo e sentou-se num banco que tinha ali perto. Um calafrio subiu pela espinha de Ben, ele estava sendo observado. Foi tomado por aquela sensação e prudentemente olhou para os lados, mas não viu ninguém.
    — Esperando alguém, Solo? — Ben levou um susto. E virou-se em direção à voz — ele estava atrás dele, o seu maior inimigo.
    Ben estremeceu de ódio.

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