The Way I Loved You [CONCLUÍDA]

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• Camila •
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A culpa é toda minha. Estou sempre ferrando tudo e me negando a aceitar a responsabilidade no que acontece. Se eu não tivesse saído naquela noite, Ronan não teria feito o que fez e eu não teria apanhado do meu pai quando cheguei em casa no meio da noite.

Não sei o que mais doeu naquela noite. Ser violentada, caminhar sozinha ainda drogada, ou ver mamãe parada enquanto papai me batia. Eu tento a todo custo não deixar que as dores daquele dia me.machuquem, mas agora parece que fui transportada pra lá contra a minha vontade e sinto a dor novamente.

Começo a soluçar contra o travesseiro desejando nunca ter nascido, porque teria poupado Shawn e meus amigos desse mico se eu não existisse.

Escuto as vozes exasperadas da sala e batidas na porta, mas estou fraca demais pra ir abrir.  Fraca demais pra tudo.
Sou uma vergonha, uma tremenda vagabunda, como papai disse.

Consigo ouvir quando a porta é arrombada e vejo Shawn entrando pela visão periférica e Lara logo atrás.

Nem percebi que estou em posição fetal até ele me olhar como se o mundo inteiro estivesse ruindo. E está. O meu mundo, tudo o que levei tempo pra construir e tentar seguir em frente.

As palavras do meu pai ainda estão rondando aqui dentro e disparando todos os gatilhos possíveis.

— Miúda. - sua voz falha quando ele estende a mão e vejo algo vermelho sobre sua pele.

Enxugo as lágrimas pra.poder ver e constato que é sangue.

Quero perguntar o que aconteceu, mas nem isso consigo.

Sinto seus dedos sobre minha bochecha e desejo sumir só pra que ninguém me veja assim.

Pensei que fosse forte, mas não sou.

Eu não deveria tá aqui.

A culpa é toda minha por me comportar mal. Sinto-o deitando na cama ao meu lado, não consigo vê-lo bem, é só um borrão pelos meus olhos cheios de lágrimas.

— Vou preparar um chá forte pra ela. - Lara diz e sua voz fica mais baixa.

— Você é um mulherão, miúda. É forte, destemida e muito, muito incrível. - ele diz - E não tem culpa por nada. - acrescenta e eu percebo que sequer mereço sua preocupação, porque sou a porra de uma vagabunda estúpida.

Cheguei no estágio que a dor é tão grande que nem consigo senti-la mais. Quando Lara aparece, Shawn me ajuda a sentar e no automático seguro a xícara e aos poucos beberico o chá.

Não consigo prestar atenção em nada que é dito ali, só na palavra "vagabunda" e nas imagens de papai me esperando em casa com cinto do castigo.

A culpa é minha.

As surras.

O estupro.

Tudo culpa minha.

Se eu tivesse obedecido meu pai nada disso teria acontecido e eu seria a filha perfeita.

Lara beija minha testa e Brian também está ali prestando solidariedade a idiota que eu sou.

— Não quero prender vocês aqui. - digo, olhando para Lara e Brian - Podem ir descansar. - acrescento.

Minha melhor amiga tenta decifrar o que estou sentido, mas na verdade estou oca.

— Certeza?

— Absoluta. Shawn não vai sair daqui - sorrio fraco, conhecendo seu jeito protetor - Vou ficar bem. - garanto.

Hesitante, ela olha pro namorado e os dois decidem dormir aqui, quer dizer, no quarto dela, interrompendo os planos de irem pra não sei onde. E eu sou culpada.

Shawn permanece sentado ao meu lado, olhando pra mim preocupado. Agora que a enxurrada de lágrimas passou, vejo com clareza as marcas avermelhadas em sua mão.

Consigo deduzir o que ele fez.

— Alguém poderia ter visto você e... Te filmado. Não quero ser culpada por isso também. - murmuro.

— Ninguém viu. E eu não deixaria de tomar uma atitude de qualquer jeito. - ele diz e eu sei que é verdade.

Encosto a cabeça em seu ombro quando ele me abraça e fecho os olhos. Quero esquecer que esse dia existiu. Quero esquecer que eu existo.

— Você é tudo pra mim, miúda. Não desista. - murmurou e beijou minha testa.

Tanta mulher no mundo e ele veio se enrolar logo comigo, a doida.

A vagabunda.

Entre as mil paranóias, concluo que pegar minhas economias e sumir para não dar trabalho a ninguém é uma ideia boa agora.
Não é justo deixar meus amigos preocupados. Então se eu não estiver por perto, será mais fácil cada um seguir sua vida. Não será?