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• Camila •
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A sensação é estranha. As lembranças chegam tão rápidos a minha mente que não consigo dar conta e distingui-las. Me sinto sufocada, há coisas presas em mim, todo o ambiente ao meu redor é branco e sem graça. Estou sonhando?
Pisco algumas vezes e viro a cabeça. Vejo um homem sentado numa cadeira ao lado da cama e só então sinto a mão dele entrelaçado a minha. Escuto seu choro e o pânico me domina, porque não sei quem é este homem.
Mantenho a calma e viro o rosto para o outro lado, torcendo para que minha mente me explique o que é que está acontecendo. Volto a encarar o homem sentado ao meu lado, mas agora sua cabeça está erguida e seus olhos castanhos me fitam com atenção. Consigo ver as lágrimas escorrendo por sua face branca e a boca curvando-se em um sorriso, como se estivesse sendo salvo de algo terrível.
Fecho os olhos com força e tento me lembrar dele. Se está aqui é por ser importante. Mas não consigo lembrar. Quer dizer, lembro que estava num carro e de repente tudo ficou preto, mas nada do resto.
Acho que esqueci quem sou.
— Amor, você voltou pra mim. - ele diz e aproxima-se, tocando os lábios nos meus rapidamente.
Não me movo. Estou assustada por não saber quem esse homem é e porque está tão feliz.
— Senti tanto a sua falta. - murmura e sinto seus dedos tocando minha testa e meu cabelo.
As batidas do meu coração estão aceleradas. Não gosto nada disso. Fecho os olhos e tento lembrar dele mais uma vez.
Nada.
— Tudo bem se não puder falar ainda. Estou feliz por ter acordado. - diz.
— Quem é você? - consigo perguntar.
Seu sorriso desmancha na mesma hora e seus olhos perdem o brilho.
— Não sabe quem sou eu? - pergunta.
— Não.
Ele engole em seco.
— Sou seu namorado. - diz - Vou chamar o médico. - completa, magoado.
Ele solta a minha mão, enxuga as lágrimas e sai do quarto me deixando sozinha, e sinto que fiz besteira, sem saber porque.

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• Shawn •
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O médico disso que é muito provável que seja temporária, mas, pelo menos ela não se lembrava de ninguém além da Ana e da Lara. É como se Camila tivesse parada na época que morava com os pais. O pior dói vê-la com medo, como se aquele monstro fosse aparecer pra bater nela.
Ana e Lara a levaram pra casa dois dias depois, apesar das recomendações médicas dela ficar em completo repouso.
— Sinto muito. Ela vai lembrar da gente. - Brian diz.
— Não vou criar expectativas, tô exausto demais pra isso. - murmuro enquanto a vejo entrando no carro com a mãe.
Ela me olha, mas não há vestígios de reconhecimento, isso me mata.
Com certeza ela lembra do Travis. Mas de mim, não.
Volto pra casa, tomo um dos remédios pra dormir, tomo banho e desabo na cama.
E se isso for um sinal de que a Camila merece ser feliz sem mim, que eu devo deixá-la livre? Porque todo esse inferno não teria acontecido se eu não tivesse me apaixonado por ela.
Não, não devo pensar assim.
Ela sofreu um acidente grave e ter esse tipo de sequela é normal, logo a miúda lembrará de mim. E vamos ficar bem.
Pego o controle do ar e coloco numa temperatura razoável antes de puxar o edredom. Adormeço poucos minutos depois, sem ter tempo de pensar demais sobre o dia tenso.
Andrew tem cuidado da bagunça que Jamie causou, e de qualquer maneira o lançamento do álbum teria de ser adiado, o que era uma pena, mas não quero lançar nada agora. Não com a protagonista das músicas sem se lembrar de mim.
Quando acordo na manhã seguinte, sinto que estou sonhando ainda, porque vejo a miúda sentada na poltrona segurando um livro.
Assim que me ver, ela fecha o livro e sorri.
— Bom dia grandão.
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Coço os olhos pra ter certeza. Espero que ela durma, mas ainda a vejo na poltrona e pra melhorar, vestindo uma blusa minha.
Puta merda.
Isso só pode ser coisa da minha cabeça.
Como se adivinhasse meus pensamentos, ela levanta, deixando o livro sobre a poltrona e se acomoda ao meu lado na cama. Não consigo me mover, vejo ela se aproximando e sinto sua mão tocando meu rosto.
— É difícil não lembrar de você por muito tempo, grandão. Em meio a tanta tragédia você me marcou, de um jeito bom. - diz - Eu te amo.
Ela roça o nariz no meu e me dá um selinho rápido. Coloco a minha mão em sua cintura, pra saber se é real ou delírio meu, mas quando a cutuco e escuto sua risada sei que é real. A minha namorada está aqui e se lembra de mim.
Mentalmente agradeço a Deus por ter permitido que ela voltasse pra mim, porque não sei o que seria de mim agora, sem ela comigo.
— Eu te amo. - murmuro.
Camilia embola seu corpo pequeno ao meu quando começo a chorar e afundo o rosto em seu pescoço.
Caralho.
Odeio o quanto sou emotivo, mas as últimas semanas foram horríveis, toda aquela incerteza sobre sua sobrevivência me matava um pouco mais a cada dia que passava e quando ela perguntou quem eu era foi como ser esfaqueado. A miúda.me envolve em seus braços e acaricia meu cabelo.
Então começa a cantar a minha música favorita da Taylor. Me agarro aquele momento, porque sei que é real. Nunca mais vou soltar essa mulher, essa é a minha vontade. Nunca mais quero sentir esse medo de perdê-la.
Sua voz me atrai e distrai a minha mente perturbada, a maneira que me toca enquanto toca me faz amá-la ainda mais.
— Não vou a lugar nenhum, amor. Você vai ter que me aturar pro resto da sua vida. - ela fala depois que para de cantar.
Ao levantar o rosto ela seca minhas lágrimas e eu sorrio.
— É tudo o que mais quero. - respondo.
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Nunca mais quero me sentir assim, vazio e com medo. Ver minha garota aqui do meu lado depois de tudo, me acalma. Mas sei que não serei mais o mesmo, terei dificuldade em deixá-la sozinha, porque mesmo sabendo que a culpa não é minha, sinto-me responsável pelas merdas que Jamie fez.
— Você está horrível, grandão. - ela diz - Sinto muito.
Eu a puxo pra mais perto e beijo sua testa.
— A culpa não foi sua, amor. E quem armou tudo agora está em seu devido lugar. - digo e ela arregala os olhos.
— Como assim? - pergunta.
Faço um resumo sobre o dossiê, que descobri que foi a Olívia quem mandou incriminando Jamie, pouco depois de toda a confusão. Também lhe contei sobre está trabalhando com Andrew e a pausa que decidi fazer do trabalho pra poder ficar com ela no hospital.
— Ah querido, não queria que tivesse parado tudo por minha causa. Mas, agradeço demais por ter ficado comigo. Você é tudo pra mim. - murmura com um sorriso preguiçoso.
— Já acabou, é isso que importa. Infelizmente, perdemos o bebê. - digo e ela me olha como se estivesse envergonhada - Não fique assim, o médico falou sobre isso e... Eu sabia que havia a possibilidade de você querer fazer uma surpresa. - respondo.
— Eu estava apavorada, Shawn. Não estou pronta pra ser mãe. Nem sei se um dia estarei pronta, mas saber que perdi foi um baque, entende? - diz e eu assinto - Me desculpe.
— Não se desculpe. Enfrentaria toda a turbulência com você. - argumento.
— Sei disso, mas serei mais cuidadosa. Vou procurar um ginecologista e tomar anticoncepcional. - garante - Temos muita coisa pra ajeitar antes de ter um bebê. - murmura e eu concordo, embora fosse legal ter um filho com ela agora.
Não quero ser egoísta, sei que a miúda quer voltar a sua rotina antes do acidente, construir sua independência novamente e ter ainda mais segurança quanto ao nosso relacionamento. Mas esse tempo que ela esteve no hospital me fez perceber que não podemos ficar planejando demais porque a vida é imprevisível. Hoje estamos aqui e amanhã, ninguém sabe. Meu lado egoísta quer casar e ter filhos agora, e aproveitar cada segundo com ela, entretanto, preciso manter a calma e ter fé de que tudo irá acontecer no tempo certo.

The Way I Loved You [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora