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• Shawn •
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A água está subindo. Não consigo tirar o cinto, as portas estão travadas e o medo está começando a tomar conta de mim. O monstro está quase liberto, sinto que desta vez não conseguirei dominá-lo e temo que ele vá atrás das pessoas que amo. E as destrua.

Tento remover o cinto e nada.
Agora a água está subindo rapidamente, na altura do meu pescoço e sei que não irei sobreviver. Talvez seja melhor assim.
Não tenho mais forças para lutar contra o monstro e quero desesperadamente sumir e fazer toda essa dor e cansaço passar logo. Agora a água está em meu nariz.

Curvo a cabeça pra trás, mas a cabeça já está encostada no teto. Desisto de lutar pela minha vida e afundo de vez.
Sinto a água entrando por meu corpo, me sufocando com rapidez até que eu despertasse.
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Não abro os olhos de imediato. Permito que o cheiro de baunilha preencha o ambiente e afundo o nariz no cabelo que conheço bem. Ainda acho que estou sonhando e temo com o final, por isso aproveito e a seguro com mais força contra mim.

Sinto-a se mover e seus lábios roçando meu queixo. Seus dedos deslizam por meu peito e um sorriso involuntário toma conta dos meus lábios. Abro os olhos e vejo o corpo pequeno da miúda aninhado ao meu. Sua cabeça está sobre mim e posso vê-la me tocando enquanto canta uma música que não consigo identificar. Minha cabeça está doendo. Meu corpo está doendo.

Só que vê-la ali depois de um mês inteiro sem nenhum contato faz valer a pena.
Ela voltou.
Toco sua cabeça e ela levanta pra me olhar. Seu olhar é repleto de preocupação. O que eu fiz? Porra, não lembro de nada. Depois que cheguei em casa e bebi um pouco, tudo é um grande borrão. Toco o rosto da miúda.

Então ela chora e volta a se inclinar sobre mim.

Faço força pra buscar em minha memória o que pode ter causado esse choro. A primeira coisa que vem em minha mente é se eu a machuquei.

Só de imaginar essa possibilidade me sinto um tremendo monstro. Sempre acreditei que jamais encostaria um dedo em uma mulher sem o consentimento dela. Mas eu bebi pra caralho e não lembro de nada. Agora a miúda está aqui chorando compulsivamente e eu não faço ideia do motivo.

Se eu realmente a machuquei, vou acabar com essa merda de vida. Isso é o fim.
Ergo meus meus braços e encontro um curativo no punho direito.

Porra.
O que tava acontecendo?
Quando a miúda levanta a cabeça e me olha de novo, vejo seus lábios tremendo.

— Eu tive medo de perder você, grandão. Nunca o vi daquele jeito e, não estava pronta pra perder a melhor parte de mim. - murmurou, seus dedinhos tocando minha bochecha.

Continuo não lembrando de nada, mas aquele maldito curativo diz muito. Eu estava magoado e sufocado quando cheguei, mas não havia passado um segundo sequer na minha cabeça fazer aquilo.

— Me perdoe - digo - Me perdoe por não ser forte e bom o suficiente. - declaro.
Camila enxuga as lágrimas com a manga da blusa e segura meu rosto com mais firmeza
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— Nunca mais diga isso, Shawn. Você é forte e é mais do que o suficiente, tá me entendendo? - dispara, mas não respondo - Você é incrível, é talentoso e é o homem mais gentil e bondoso que conheço. Te ver jogado com o pulso cortado foi a cena mais triste que presenciei. Fiquei em choque e quando me dei conta do que poderia ter acontecido se eu não tivesse vindo, perdi meu chão. - ela acrescenta - Perder você seria como perder uma parte de mim. E nem quero imaginar como sua família ficaria. Nós o amamos muito, grandão. E sempre será assim, só que gostaria que você se abrisse mais. Pare de esconder essa dor. Por favor. - sua voz fica embargada.
Eu não a machuquei fisicamente, mas isso não anula que eu a feri quando bebi e permito que me visse daquele jeito. Havia prometido a mim mesmo nunca deixar que ela conhecesse aquele meu lado. Mas ela me salvou.

Ela me salvou de mim.

— Obrigado. - murmuro.

Miúda beijou minha testa e levantou quando alguém bateu na porta. Quando vi mamãe com uma bandeja de café da manhã meu meio sorriso sumiu.

Não queria que meus pais se envolvessem nisso. Não queria que ninguém se envolvesse nisso. Odeio não ser forte pra lidar com tudo sozinho.

— Bom dia querido. - Karen diz e coloca a bandeja sobre mim quando me sento.

— Oi mãe.

— Estamos muito preocupados. Você nos deu um susto. - comentou e eu assinto.
Não quero falar sobre isso.

Não quero nem pensar sobre. Já vi mais do que suficiente o medo nos olhos da miúda quando desabou. Sequer consigo imaginar como foi pra ela me ver daquele jeito e como está sendo para meus pais saberem que eu estava daquele jeito, depois de dizer que estava tudo bem.

— Mãe... Podemos falar disso outra hora. Acabei de acordar. - peço e ela assente - Preciso conversar com a Camila, depois vou tomar banho e desço.

— Tudo bem querido. Sem pressa. Estaremos esperando. - ela diz com um sorriso contido e beija minha testa antes de sair.

Camila está encolhida do outro lado do quarto e espero que meu pai não tenha sido um idiota com ela. Sei que ele teme que eu sofra novamente ou que invente um relacionamento falso como foi com a Ellen, mas, desta vez é diferente.

— Vou preparar a banheira. - ela diz e vai para o banheiro.

Demoro mais que o normal para devorar as panquecas, depois a miúda me dá dois comprimidos pra me ajudar a enfrentar a ressaca e diz que o médico vira mais tarde fazer algumas perguntas.

Por mim não veria ninguém. Mas eu fiz uma merda grande e agora todos que me amam estão preocupados.

— Toma banho comigo. - sugiro - É importante pra mim.

Ela me olha como se tivesse pronta pra dizer não, porém muda de ideia e concorda.

Escovo meus dentes e tiro a cueca antes de sentar na água morna. A miúda chega minutos depois e começa a tirar a roupa.

— Alisou o cabelo. - observo.

Ela prende o cabelo num coque alto e tira o sutiã. Depois retira o resto da roupa e se vira pra mim.

— Quis mudar um pouco o visual. - declara.
Seguro sua mão e a ajudo a sentar entre minhas pernas. Seu corpo encosta no meu.

— Eu gostei. - digo e beijo seu pescoço, seu corpo treme e isso me faz sorri.

The Way I Loved You [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora