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• Shawn •
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Eu sou um babaca. Estou sentado na poltrona observando a miúda dormir e sei que sou um baita de um idiota. Também sei que em algum momento ela vai cansar de mim se eu continuar sendo emotivo dessa maneira. Mas não consigo evitar.

Quando a vi pela primeira vez até nosso casamento havia planejado. Agora acho que nem chegaremos perto disso.

Agora, mais do que nunca quero levá-la para aquele chalé no fim do mundo e tê-la só pra mim por uns dias. Talvez eu esteja me iludindo e criando expectativas demais, mas não ligo.

Não agora.
Mas eu vi que ela conhece aquele cara. Deu pra notar pelo modo que ele a olhava, como se tivesse reencontrado seu anjo.
E sequer posso dizer que ela é minha, soa possessivo e como ela mesma disse, não temos nada. Somos apenas amigos.

Vai fazer quatro meses desde que nos conhecemos. O que eu sinto faz parecer que a amo anos.

Pela janela vejo o dia chegando lentamente enquanto a miúda descansa, plena. Ela está sorrindo e me pergunto se aquele delegado está em seu sonho. Ou eu.
Ou qualquer outro cara.

Nada disso importa afinal, não entendo porque sempre faço tempestade em copo d'água. Para compensar minha babaquice vou fazer o café da manhã (do melhor jeito possível), e lhe dar flores, pois sei que ela ama.

Lá no fundo sei que não tenho com o que me preocupar, mas, o tom que ela usou para dizer que não temos nada, fez parecer que mesmo me amando ela poderia ficar com outras pessoas.

Bom, isso é verdade.

Só que... Dói.

Merda. Vou voltar pra academia e acalmar esses pensamentos exercitando porque isso é demais. Não posso me sentir assim por alguém que acha que diz papel de ridículo. Odeio não saber lidar com todos esses sentimentos.

Odeio.

O cara ligou pra ela. Informou que o monstro estava atrás das grades e que o julgamento iria ser marcado na próxima semana, porém, não havia chances dele ter a pena reduzida. Uma notícia boa.

Deixei que ela ficasse com a mãe, lhe dando apoio e me mantive quieto o dia inteiro. Entrei no estúdio e peguei meu celular, vendo algumas mensagens de Jamie.

Preciso adiantar as composições, mas não consigo completar nenhuma música. Já tem umas três prontas para a gravação, que precisei de ajuda de uns amigos. Quanto ao restante, tudo incompleto.

Sequer tô conseguindo tocar como antes e me sinto um bosta pela falta de disposição.
A noite, durante o jantar percebi que a mãe de Camila está mais calma, mas sua expressão cansada é de emocionar. Nem imagino quantas porradas já levou pra tentar defender a filha do marido, muito menos o que sentiu quando a viu chegando daquela festa e ele bateu nela.

Porra.

A prisão pra aquele crápula parece bem pouco.

— Vou dormir com a minha mãe essa noite. - Ela diz.

— Certo. Boa noite. - digo e ela abre um meio sorriso antes de sair.

Pego o telefone e respondo algumas das centenas de mensagens de amigos e da minha irmã. Essa semana não fui a terapia, porque sou um imbecil. Também não segui nada da lista que Brian me deu.

Isso tem que mudar se eu quiser que a miúda não me odeie. E por mim.
Adormeço com o celular na mão e acordo com cheiro de ovos e bacon.

Quando abro os olhos vejo a mãe de Camila segurando uma bandeja e sorri quando ver que eu acordei.

— Bom dia. A Camila saiu para trabalhar, então fiz seu café. - diz tímida - Obrigada por me hospedar aqui e por ter cuidado da minha filha. - diz.

— Tudo bem. Pode ficar o quanto quiser. E obrigado. - sorrio ao olhar a bandeja.
Levo Camila e sua mãe pra casa a noite e vou embora logo em seguida. Acho que as duas precisam repor o tempo que não tiveram antes.

Vou para o chalé sozinho, como deduzi, Camila decidiu passar sua semana sem folga ao lado da mãe. Antes de vir, passei no restaurante para dar um "oi", mas o delegado estava lá e eu não quis atrapalhar.

Conversei com a terapeuta pelo telefone e depois pelo computador, mas nada que eu dissesse anulava a angústia que eu estava sentindo, por isso em vez de cancelar a reserva, decidi ir só.

Uns dias longe de tudo e de tanto sentimento seria bom. Como não há sinal de internet, fiquei completamente isolado por sete dias e a experiência foi agradável.
Fiz trilha, corri, tentei pescar, gritei tudo o que estava entalado, chorei em posição fetal e tive uma conversa franca comigo mesmo. Me xinguei e tentei me elogiar.

Cheguei a conclusão de que não deveria falar com ninguém sobre tudo o que sinto porque são coisas banais que não deveriam me deixar mal. Não vale a pena encher os outros com meus problemas emocionais idiotas.

Nada do que eu sinto importa.
Quando voltei estava bem melhor do que antes, tinha conseguido enterrar todos os problemas bem lá no fundo da minha consciência e fiquei feliz por isso.

Fui pra casa dos meus e fiquei mais alguns dias antes de criar coragem de ir ver a miúda.

Mas ela não estava em casa.

— Ela está tentando fazer dona Ana a não ter medo de sair. Acho que temos um progresso, apesar dos pesares. - Lara diz e eu sorrio.

— Isso é ótimo. - digo, me sentindo feliz por dona Ana.

Então quando me viro, vejo o delegado se aproximando. Que ótimo.

— Ela não está, Travis. - Lara diz.

— Tudo bem, volto outra hora. - responde, dando meia volta.

É errado eu odiar esse cara?

Me despeço de Lara e volto pra casa. Mais uma vez tento me concentrar no meu trabalho, e finalmente consigo.
Nada de Camila e do delegado babaca.

The Way I Loved You [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora