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• Shawn •
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Conversar com meus pais e entrar num consenso foi importante pra mim. Eles me viram quando Hannah me deixou, viram o quão destruído ela me deixou. Não os condeno por terem medo de me ver naquele estado de novo, porque juntar meus cacos não foi fácil, me fazer ter esperanças de que as coisas iriam melhorar muito menos. Quando conheci a muda estava determinado a não me envolver com ninguém, pois sabia que uma decepção amorosa seria mais do que a fagulha de um incêndio.
— Vou pedir desculpas a ela, mas ainda estou preocupado. - meu pai diz - Tente não criar expectativas demais dessa vez, filho. - consigo ver a aflição em seu rosto e balanço a cabeça, embora seja tarde demais.
Eu já tenho um futuro inteiro traçado com a miúda. Nosso casamento, nossos filhos. Ela cantando comigo no palco, porque céus, preciso convencê-la a cantar comigo algum dia, o mundo precisa saber que a minha miúda é talentosa.
Vejo meu pai levantando e o sigo até o lado externo, encontramos ela e Aaliyah perto da piscina, então eu paro e fico observando enquanto ele se aproxima e pede pra falar um momento a sós com a miúda.
Quero que Camila se bem acolhida porque sei que já sofreu demais pela falta de uma família decente. Agora ela tem a mãe, mas ainda assim levará tempo pra que dona Ana se desprenda do medo de ser ela mesma após anos de submissão. Nada mudará o fato de que a miúda não teve uma criação normal e feliz como todo mundo deveria ter.
— Estou feliz por ver esse sorrisinho de cachorrinho bobo. - Liah diz ao parar do meu lado - Sua namorada é muito legal. E fofa. Se não cuidar dela eu mesmo te arrebento. - fala e eu finjo estar indignado.
— Hey, eu sou seu irmão, deveria me defender. - brinco e ela rir.

• Camila •
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Quando Manuel sentou ao meu lado, não soube como fazer. Quis tagarelar e pedir perdão por ter ficado na vida de seu filho e provavelmente piorado sua situação. Quis me culpar por ter me envolvido e deixado que nossos sentimentos ficassem tão intensos em pouco tempo. Quis me culpar até pelo o que nunca fiz, por que no fundo sei que sou patética.
Mas não disse nada. E ficamos em silêncio por alguns minutos antes dele finalmente falar.
— Me desculpe. Por ter te deixado desconfortada. Por ter te pedido pra ficar longe dele. - diz - Shawn é adulto, mas só tem tamanho, e acho que você já percebeu isso. Se Karen partir meu coração em algum momento, ficarei mal, mas seguirei em frente conta tranquilidade. Entretanto, se Shawn tiver o coração partido, ele beberá e se machucará de propósito até achar que a dor está passando, porque ele não acha que seja digno de amor. - explica - O que você viu aquele dia, foi pouco perto do que já vimos antes. - suspirou e eu não sei o que dizer, pois sei que ainda sei pouco sobre Shawn - Quando a Hannah disse coisas horríveis pra ele, e o encontrei praticamente em coma alcoólico em casa, pensei que perderia meu filho. Ele estava tentando acabar com a própria vida, porque aquela mulher, que ele amou e cuidou disse que ele era patético, e que estava traindo ele com alguém que era melhor. É doloroso ouvir isso de quem amamos, mas o Shawn… ele sente o impacto dez vez mais do que qualquer um de nós. E acumula dor. Fora a mania de fugir da terapia e de quase nunca tomar os remédios que precisa. É teimoso demais, e intenso demais. Sei que ele daria a vida por você, Camila. E temo pelo o que vai vir. Só... Tente não feri-lo, tá bem?
Eu assinto, mas ainda estou digerindo tudo o que ele falou. Sei que em algum momento vou falhar, o que mais me deixa atormentada é o impacto que minhas falhas terão sobre ele.

Sinto o peso da responsabilidade sobre minhas costas. Como é que não vou ferir Shawn de alguma forma? Como não ser responsável por sua dor? Até dois dias ele estava chateado porque cometi um erro, quem vai garantir que eu não vá continuar errando?
— Olha, Manuel, eu farei o que for possível pra não magoá-lo, mas eu sou humana. Faz pouco tempo que aprendi lidar com muita coisa e sei que em algum momento vou errar de novo. Vai existir dias que não estarei bem, que acabarei não sendo uma namorada legal, e tudo que poderei fazer é estar do lado dele e provar mais uma vez que o amo acima disso. - explico, e volto a olhar a água na piscina.
— Eu sei disso. E não quero que se sinta pressionada. Só lhe contei isso para que saiba com o que está lidando. Você agora faz parte da família, e isso é até inédito, porque as outras não chegaram a ser apresentadas a nós, o que quer dizer que você é ainda mais importante pra ele. - fez uma pausa - Ainda temos que arrumar uma maneira dele perceber que se continuar fugindo da ajuda vai apenas piorar, até lá, temos que evitar fazer mal a ele. - murmurou.
— Tenho algumas coisas em mente, pra fazer ele se abrir mais. Algumas irei precisar da colaboração de vocês. Shawn precisa ter uma vida fora do trabalho, e de amigos que não tenham inveja dele. Como Brian, por exemplo. Ele precisa se sentir mais amado e acreditar que procurar ajuda não é um problema. Alguém enfiou já cabeça dele que homem sensível é ruim e agora ele se esconde atrás dos problemas por medo do que vão pensar. - disparo - Isso tem que mudar. E eu vou ajudar. - declaro e Manuel abre um sorriso contido.
— Você realmente o ama. Já é um bom caminho. - diz.

Nossa conversa termina de forma amigável, mas sei que se ele pudesse controlar o filho, eu estaria bem longe. Reconheço bem quando as pessoas não confiam em mim. Talvez com o tempo ele realmente mude de ideia e me aceite de verdade, ou não. Existe aquela coisa de um dos sogros nunca vão com a sua cara.
Acontece.
Até porque, agora que sei mais ou menos pela merda que Shawn passou e pelo tamanho da sua vulnerabilidade, acredito que as coisas serão um pouco complicadas. Preciso pensar nele quando for tomar decisões, mas acima de tudo, tenho que convencer esse grandão a voltar com os remédios e a terapia.
E o mais difícil: ser sincero!
Fico tão perdida nesses pensamentos que não percebo quando Shawn se aproxima, e quase pulo de susto quando sinto seu braço passando por meu ombro.
— Como você está? - pergunta.
— Bem. E você? - disparo e ele rir.
— Feliz. Estou feliz. - murmura e beija meus lábios suavemente.
— Isso é muito bom. - falo, e toco sua mandíbula, me desligando dos problemas que terei que lidar depois.
É difícil se concentrar em algo quando esse homem sorri. Shawn se afasta e passa a mão pelo cabelo, afastando a mecha rebelde que estava caída em sua testa.
— Tá na hora de cortar essa juba. - resmunga.
— Eu gosto do seu cabelo grande. - murmuro.
— Então vou deixar assim. - declara e eu me acomodo em seus braços.
Poucos minutos depois sua família está toda reunida com a gente e passamos a manhã toda dividindo experiências. Escuto Karen falando sobre como Shawn foi uma criança inteligente, que gostava de aprontar. Sorrio, tentando imaginar ele menor, com sua carinha de garoto levado deixando seus pais de cabelo em pé.
Mas não posso deixar de notar que ele tem um carinho imenso que ele tem pela irmã, e conforme Karen fala, percebo que os dois possuem um companheirismo muito forte. Por um momento imagino se eu teria uma relação assim se tivesse um irmão. Ou se brigariamos o tempo todo.
Seria bom ter tido uma família normal.

The Way I Loved You [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora