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• Camila •
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Eu lembrei de tudo quando acordei mais cedo. Havia sonhado com o dia que nos conhecemos na festa de Brian. Da dança, dos beijos, da conversa agradável. Aquele dia foi o mais importante da nossa história, pois foi onde tudo começou. Tive que vir pra cá, depois que Lara me contou sobre eu não ter lembrado de Shawn, sabia que ele estaria sofrendo com isso, porque quando percebi que havia ficado dias desacordada, já imaginava o caos que se instalou dentro dele.
— Vá tomar banho, vou preparar o café. Sou toda sua até amanhã a noite. - anúncio ao sair da cama e ele sorri.
Desço as escadas cantarolando e vou até a cozinha, me sentindo bem a vontade. Quer dizer, não há razões pra não ficar a vontade, boa parte das minhas coisas estão aqui e desde que começamos a namorar parece que moro mais aqui do que na minha casa.
Abro os armários e começo a preparar waffles enquanto penso sobre o futuro. Passei nosso primeiro dia dos namorados desacordada. O aniversário de Brian que simboliza um ano que nos conhecemos também. Até meu aniversário passou, e eu sorrio só de lembrar da cena de Shawn me esperando em casa com seu bolo queimado. Naquela noite eu já sabia sobre nós dois, mas meu pai estragou tudo.
Mas nada mudou o rumo que tínhamos que tomar, sei que tomei decisões decisões precipitadas, porém no fim Shawn sempre esteve lá comigo.
E eu sempre estive por ele, até mesmo quando a culpa era minha pelas discussões.
Quando termino de servir a mesa, meu namorado aparece, vestindo apenas um short e eu reviro os olhos e ele rir.
— Você está revirando os olhos pra mim, Camila? - ele pergunta ao se aproximar e eu tenho que tombar a cabeça pra trás pra olhar em seus olhos.
— Senti falta de ver você exibindo esse abdômen nada atraente. - digo e ele rir, me encostando contra a bancada. Suas mãos seguram na minha cintura e ele se inclina, beijando o canto da minha boca.
— Não tenho culpa se você é atraída por mim e pelo meu corpo. - responde e me dá um selinho antes de se afastar.
— Não fique se achando, grandão. - brinco ao me acomodar na cadeira, ao lado dele.

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24 de Maio.
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Hoje é o lançamento do álbum do Shawn. Ele está ansioso, embora Andrew esteja bastante animado e convencido de que será um sucesso, especialmente depois do lançamento do primeiro título.
— Amor, você vai pirar de continuar desse jeito. - digo, puxando ele pela mão e o fazendo sentar ao meu lado no estúdio.
Na noite em que In My Blood foi lançada tive que desligar o telefone dele e jogar sujo pra desligar aquela mente pensante dos comentários na internet. Eu até entendi, aquela música é bem pessoal e arriscada, porém teve um desempenho ótimo segundo Andrew e apesar de não ter escutado duas músicas do album por insistência dele, sabia que seria sucesso.
— Esse álbum todo é pessoal, miúda. Tem música pra minha mãe, sobre mim, sobre você, sobre nós dois. Acho que nunca me dediquei tanto a fazer um bom disco e tô com medo de ninguém gostar. - confessa, se inclinando pra frente.
Deslizo meus dedos em sua nuca até seu cabelo, e ele relaxa um pouco.
— Eu estou ansiosa pra escutar ele inteiro. - murmuro - Tenho certeza de que seus fãs vão amar, amor. - garanto.
Ele se ajeita no sofá e segura minha mão, e então sorri.
— Te amo, miúda. - murmura - Aliás, não vejo a hora de te ver escutando as duas músicas. - ele pisca pra mim.
— Aí céus. Ainda falta três horas. Agora sou eu que estou ansiosa, Peter. Acho bom você dar um jeito de mudar isso. - disparo e ele levanta, me puxando.
Ele se aproxima e me pega no colo.
— Só preciso de alguns minutos, amor. - diz ao sair do estúdio comigo em seus braços.
Parece que ele também não está mais nervoso quando tranca a porta do quarto e me coloca no chão.
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As onze e meia, nossas famílias estão reunidas no sofá da sala, esperando ansiosamente pelo lançamento. Mamãe e Karen fizeram questão de prepararem petiscos e eu percebi que o lance da minha mãe com Andrew estava mesmo ficando sério.
Bem, se eles estão felizes, eu também estou, Andrew é um cara legal. E mamãe parece gostar bastante dele.
Quando o momento finalmente chega, Shawn saca o telefone e pega um par de fones que deixou na mesa, depois de conectar ele me olha com aquele sorriso de quem aprontou e me mostra as duas músicas.
— Começa com essa. - ele diz e eu assinto, olhando pra ele desconfiada.
Coloco os fones e me desligo da conversa de nossos amigos e familiares quando uma música lenta preenche meus ouvidos. A voz dele é tão suave que preciso me concentrar melhor pra prestar atenção na letra, então entendo.
Reconheço cada verso, diz muito sobre nós dois, embora soe como uma música romântica qualquer pra quem não conhece nossa história na íntegra.
Preciso repetir a música, então quando chega ao fim, volto no começo e repito mais três vezes aquela sofrência que descreve nós dois perfeitamente, lá no comecinho, quando éramos imaturos demais para simplesmente enfrentar um relacionamento.
Oh...
Sei que ele está me olhando e sorrio, é impossível não ama-lo e não me sentir especial, embora eu tenha certeza que ele compôs essa música quando estávamos separados.
Pulo para a outra, a batida é mais leve e a letra também, mas que também pode definir bem como ele me faz sentir. Essa também escuto mais de uma vez e Shawn ainda está me observando quando tiro os fones.
Ele não precisa fazer a pergunta, sua cara já entrega.
— Eu amei, amor. De verdade. Aliás, já quero salvar na minha playlist. - digo, com animação demais e ele rir antes de me beijar.
— Eu te amo, gatinha, e dedico esse cd a você. Se não fosse por você acho que eu nem teria começado ainda. Obrigado por acreditar em mim e cuidar pra que eu pudesse melhorar. Você é foda. - murmura e eu beijo seus lábios suavemente.
— Você merece, grandão. Pode apostar que esse cd será um sucesso. Do jeitinho que deve ser. - respondo.

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Novembro de 2018
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Eu não acredito. Coloco a música no replay, Shawn parece orgulhoso e eu não gosto nada do sorriso de Andrew. Gravar essa música foi a maior loucura que fiz na vida, porque nunca me imaginei nessa situação. Demoramos dois meses por causa da minha falta de conhecimento em todas as etapas, mas aqui estamos, escutando a música. A minha voz mesclada a do meu namorado.
— Vocês deveriam lançar. - Andrew fala, me olhando.
Mesmo estando empresariando Shawn, o cara ainda não desistiu de me convencer a cantar. Escutar essa música foi quase que ganhar um troféu.
— Não. Shawn implorou que eu gravasse e eu gravei, agora queimem isso. - digo e meu namorado está achando graça.
— Eu tenho uma proposta. - ele fala, ganhando minha atenção - Lembra daquela instituição que você queria ajudar? - pergunta e eu assinto - Então, eu acho que essa música será sucesso, então podíamos gravar um clipe e toda a renda que a música gerar doar para instituição. - declara com aquele sorriso travesso.
Isso não é justo.
Ele quer me convencer a lançar a música usando este argumento que certamente me deixa indecisa. A instituição em si ajuda garotas e garotos de todas as idades que sofreram abusos sexuais e psicológicas ao longo da vida. Quando os visitei com Shawn fiquei emocionada por saber como todos aqueles jovens se sentem, e mesmo que eu saiba que meu namorado contribui, também quero fazer a minha parte.
— Você pegou pesado, grandão. - murmuro.
— E ai, diz que topa vai? - pergunta sorrindo e quando olho pra Andrew ele parece animado também.
Onde foi que amarrei meu burro, hein?
— Certo.

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Julho de 2019
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Os últimos meses foram bem loucos. Quer dizer, desde que topei gravar e lançar a música tudo mudou. Agora estou segurando um microfone, prestes a subir no palco com meu namorado pra cantar. A música foi lançada mês passado, e eu me surpreendo com a repercussão.
— Vai dar tudo certo. Só seguir a coreografia. - ele diz.
— Você falando parece fácil, nunca fiquei grudada em você em público como ensaiamos. - resmungo e ele rir.
— Esqueça as pessoas, foque em mim. Como se fosse apenas nós dois. - pede.
— Acho que posso fazer isso. - sorrio.
Ele me abraça e me dar um beijo rápido.
Há uma garota de visual diferente cantando no palco e eu tento me concentrar nela pra diminuir meu nervosismo, mas não consigo, mesmo gostando de vê-la mostrando um jeito diferente de cantar.
Quando a apresentação dela termina, o palco fica escuro, Shawn me ajuda com o ponto que está me incomodando e segura minha mão depois de pegar o violão. Seu microfone já está sendo colocado no palco e eu consigo ver muitas pessoas na plateia. Muitas mesmo.
Sou levada para um lado do palco e Shawn para o outro. Respiro fundo, esperando não fazer merda como de costume. Como sou a primeira a cantar, assim que ouço a introdução e vejo as luzes se acendendo, caminho para o centro do palco e vejo Shawn indo para sua posição.
Fecho meus olhos quando começo a cantar e tento fazer o que ele sugeriu, foco meu olhar nele e bloqueio a plateia da minha cabeça. Fazendo assim fica até mais fácil. Caminho lentamente em sua direção e sorrio quando ele começa a cantar sua parte, olhando pra mim daquele jeito que me derrete toda.
No refrão cantamos juntos, mas não consigo seguir a coreografia toda porque acabo encarando a plateia e a sensação de que dançar perto do meu namorado é errado vence.Escuto os gritos da plateia quando o puxo pra mais perto e ele rir. Assim é bem mais fácil, olhando apenas pra ele.
A música não é longa, mas pra quem nunca cantou num palco pra tantas pessoas parece que demorou um século. No fim estamos juntos e ele se aproxima pra me beijar, como havia sido combinado, mas não consigo, toco seu nariz com o meu e me afasto, encerrando a apresentação.

The Way I Loved You [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora