Prólogo

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Nove de novembro de mil novecentos e noventa e oito.

Naquele dia tão específico, o clima em Busan não estava dos melhores. O frio de cinco da manhã fazia-me ranger os dentes e desejar incansavelmente voltar para à cama.

Refiz o caminho, que diariamente fazia, até o ponto de ônibus. Eu chegaria uma hora e dezessete minutos adiantado no trabalho, o que me daria tempo para tomar um café, ler o jornal e checar minha caixa de e-mail, Paul não escreve há dias.

Sete dias, quatro horas e quarenta e três minutos para ser mais exato, mas quem está contando?

Eu estou. Gosto de números.

O sol nascia preguiçosamente, não tanto quanto eu. Naquela manhã em específico, tudo parecia mais melancólico, talvez fosse minha falta de humor, ou as nuvens que insistiam em atravessar no caminho de nossa estrela mãe.

- Bom dia! - a atendente forçadamente deu um de seus melhores sorrisos, mas desistiu no meio do caminho, tornando tudo... Bizarro.

Eu gosto de regras. Gosto de hábitos. E definitivamente não sou capaz de me habituar com coisas novas. Entretanto, na manhã de nove de novembro eu decidi que, pela primeira vez, tomaria café naquela padaria que Jeong e BongKi sempre falavam no almoço. Mas só dessa vez.

O lugar tinha muitas coisas marrom. Eu não gosto de marrom.

Marrom, marrom, marrom.

Pigarreei antes de iniciar.

- Gostaria de um café forte. Sem creme, e para viagem. - O café também é marrom, definitivamente muitas coisas marrom.

A palavra marrom se repetia consecutivamente em minha cabeça. Um colapso, eu certamente não devo fugir da rotina.

- Certo. - ela digitava algo e logo em seguida estendeu-me uma nota fiscal. - Sua senha é a 22, bom dia.

Marrom.

Agradeci, curvando a cabeça lentamente e procurei um lugar agradável perto do painel de senha, que também era marrom.

Marrom, marrom, marrom.

Então ali, naquela péssima manhã, daquela péssima semana, daquele mês horrível, o sino da porta de entrada tocou, irritando-me por metro quadrado, eu conheci Park Jimin.

O funcionário atrasado, meio desastrado, correu para detrás do balcão, lavando as mãos e vestindo o avental. Claro que o julguei! Um completo irresponsável.

Mas Jimin era colorido. Não havia nada nele que me lembrasse o eventual e incômodo marrom que corroía meu cérebro por dentro naquele exato momento.

Franzi o nariz em desaprovação, mas não durou muito. Por questão de segundos, seus olhos varreram a loja até encontrarem os meus. Ele também parecia estar tendo uma péssima manhã de nove de novembro, então o seu olhar cúmplice, acalentou o meu.

Naquela manhã, Park Jimin e Jeon Jungkook, estavam na merda.

- Vinte e dois! - a assistente gritou ao perceber que eu nem sequer me atentei ao telão desde a entrada do ser atrapalhado na padaria.

- O-h, sim, vinte e dois! Sou eu. - levantei tão atrapalhado quanto Jimin, prendendo o sobretudo na mesa e por vez quase tropeçando, o que arrancou do garoto uma risada mínima enquanto ele lia algo livremente, pela falta de movimento na padaria.

Aproximei-me do balcão.

- Droga, acabou o suporte, Jimin?

O garoto apontou com o queixo para uma porta, indicando silenciosamente onde havia mais do tal suporte para o copo.

- V-você não deveria l-ler no trabalho. - disse seriamente, mas não como uma repreensão, apenas para puxar assunto.

- Está vazio, não tenho nada para fazer. - ele deu de ombros, simplista, sem me olhar nos olhos.

- N-não é educado da sua parte, causa desconforto ao... Cliente.- então, pela primeira vez, li seu nome em seu avental, porque até aquele momento, eu não o conhecia.- Park... Jimin?

Ele apenas fechou o livro contragosto, semicerrou os olhos e se manteve atendo à cada movimento meu. Agora... Por que?

Jimin me distraía do marrom. Eu não via mais marrom, só Park Jimin e sua explosão de cores.

E seu cabelo loiro, é, eu gosto da cor.

A outra atendente na qual eu não me dei o trabalho de olhar o nome voltou com meu café, em um suporte fofo.

- Tenha um bom dia. - Jimin falou, de forma despretensiosa.

Sorri genuinamente. Decorando cada detalhe do garoto, cada cor que explodia em mim, e seus cabelos.

De repente, aquela manhã horrível, daquela semana chata, daquele mês cansativo, se tornou um pouquinho melhor.

Então aqui contarei que, aquela, foi apenas a primeira vez que Park Jimin me fez feliz.

36 Motivos para 𝘈𝘮𝘢𝘳 Você - JIKOOK (Hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora