𝐄stou sentada na arquibancada da quadra de esportes, na aula de educação física e sem a mínima vontade de participar da aula. Mantenho as mãos no queixo e os cotovelos apoiados na perna observando à minha frente, garotas jogarem queimada com seus shortes justos de cor azul. Alicia está entre elas e sorri para mim, chamando-me para o jogo enquanto saltita no lugar. Apenas faço que não com a cabeça, abrindo os braços em uma tentativa de dizer um "foi mal". Ela entende o recado e volta a jogar a partida.
Minha cabeça está compenetrada na noite de hoje, não posso falhar. Falar sobre meus sentimentos para o Daniel é algo muito importante para mim. Eu sei que pareço uma boba expondo minha vida sentimental, mas é a real. Olho à minha frente e vislumbro Daniel aproximando-se de longe, seus cabelos encaracolados e negros balançam sob o vento e destacam-se de sua pele clara e impecável para um garoto de dezesseis anos. Daniel tem muito bom gosto e se veste muito bem, sempre com adereços e acessórios descolados e um estilo despretensioso. Ele está no segundo ano do Ensino Médio, um ano acima do meu, mas sempre nos vemos entre uma aula e outra.
— Não vai participar da aula? — interroga, sentando-se ao meu lado.— Não tô afim, na verdade estou ansiosa para nossa aventura de hoje.
Ele dá um sorriso de canto, passando uma mão entre seus cachos escuros, fazendo-me derreter igual manteiga no cuzcuz.
— Foi a idéia mais louca que você teve até agora. Só não sei ainda como farei para que meus pais não descubram que eu não dormi em casa. — Ele ri. — Da última vez que nós sumimos na noite para dormir na praia, meu pai quase infartou. — Ele ri em lembrança.
— Vai valer a pena, eu prometo. Deve ser da hora dormir em um cemitério.
Ele me encara com um sorriso brincalhão nos lábios, as sobrancelhas arqueadas.
— De que filme você tirou essa ideia, heim? — questiona, debochado.
— Ué, é algo que a gente nunca fez. — Dou de ombros. — Eu nunca vi uma alma penada então se existir essa é a hora de comprovar, também. — Sorrio em deboche, ele estira a língua para mim. — Já que você diz que eu posso ter sensibilidade ao mundo espiritual por causa dos sonhos e das visões esquisitas, porque não comprovar?
Ele solta uma gargalhada gostosa, fazendo-me rir também.
— Você é maluca, Ellie.
— Nem tanto, vai...
— Que horas eu passo na sua casa?
— As 23 horas estarei pronta. Caso você não apareça, te espero lá no cemitério, ok? Eu não posso ficar te esperando lá em casa e correr o risco de ser descoberta.
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Não tenha medo, Ellie (COMPLETO)
Mystery / ThrillerEllie não mede esforços quando o assunto é aventura. O que não imaginava, é que estava prestes a viver a mais inusitada e macabra de toda sua vida. Levada à uma misteriosa e elegante mansão afastada da cidade, ela se vê em meio a mistérios incompre...