Não tenha medo, Ellie (COMPLETO)

06 🥩 Lamentos

           Permaneço naquele porão escuro e sombrio por horas incontáveis que parecem não ter fim. O lugar enala um odor como se fosse de ferro queimado desagradável, não tive coragem de dar um passo adiante e agradeço por não enxergar o que há nesse recinto. Estou deitada sob o chão frio e úmido desse porão, presa na completa escuridão, sem saber o que será de meu futuro.

E então todas as possibilidades aos meus questionamentos vem à tona. Serei mais uma garota morta que a família jamais encontrará o corpo? Meus pais sofreram minha ausência para o resto da vida deles sem ter notícias de onde estou? Daniel se apaixonará por alguém e esquecerá da minha existência para sempre?

De repente, pela primeira vez naquele cativeiro, eu não penso apenas em sair dalí, penso em como todos os que eu amo podem estar naquele momento. Onde estão, como estão e se estão procurando por mim. Penso em papai e mamãe, no jantar especial de final de semana que desmarcamos por causa da festa e ainda não realizamos. Penso em tudo o que queria ter feito antes, mas não fiz. Penso em Daniel e na nossa expedição frustrada que resultou nisso aqui, recordo  de todos os sentimentos presos em meu coração que não foram revelados. E talvez jamais sejam.

Me derramo em lágrimas mais uma vez, então ponho as duas mãos sob minha boca, meus gemidos  não podem ser ouvidos. Uma incógnita se forma em minha mente. Por que ainda estou  viva? Por que este homem tem polpado minha vida até então? Por que tinha que ser eu? Por que não poderia simplesmente estar com o Daniel, fazendo qualquer bobagem e rindo de coisas  idiotas? Era mais fácil quando éramos apenas nós, dois jovens entediados procurando aventuras nessa vida sádica. E agora, eu morrerei e nem ao menos sei como e quando. Morrerei e levarei a vida de todos aqueles a quem eu mais amo. Isso é injusto!

Eu não posso continuar aqui, enquanto todos estão lá fora, sofrendo, procurando por mim. Preciso ganhar sua confiança se quiser sair daqui, preciso entender como funciona a mente desse homem. E esse, eu sei, é um de meus maiores desafios. Estou absorta em meus pensamentos quando escuto uma movimentação acima de mim, que faz com que tape meus ouvidos com as mãos e me encolha ainda mais, apavorada. E de repente eu escuto um grito de socorro do que parecia um homem, logo em seguida, um baque. Minhas mãos estão tremendo e todo meu corpo está em transe, à espera do momento em que ele abrirá a porta e me matará. Aperto meus olhos e me encolho em posição fetal, em uma forma inútil de me proteger. Sei que ninguém pode me salvar.

— Esta na hora de ganhar a confiança dele, Ellie. Você não tem muito tempo.

Sarah está ali na escuridão, ao meu lado e pela primeira vez, senti-me melhor em ter algo ou alguém comigo, mesmo que fosse um fantasma. Ela fazia com que me sentisse um pouco melhor.

— Você precisa me contar mais sobre ele, Sarah. —Digo, tentando avistar a garota no meio da completa escuridão, sem sucesso. — Já entendi que ele tem prazer em ver o medo na vítima e isso é um impulso a mais para que ele mate. Mas eu preciso de mais informações…

— Como o quê?

— Tipo como eu vou ganhar sua confiança, como saio daqui... eu preciso sair, entende? Meus pais estão lá fora me procurando.

— Eu entendo, os meus pais me procuraram por longos anos e quando se foram, eu não pude ir junto à eles.

Não consigo avistar o semblante da garota na escuridão, mas ela dá uma longa pausa e o tom da sua voz indica um profundo desapontamento. 

— Como eu dizia… você precisa meio que ser amiga dele.

— O que? Você tá maluca? — respondo, atônita.

— Se ele acreditar que você está do lado dele, talvez isso te ajude em alguma coisa.

Essa garota está me deixando cada vez mais surpresa com suas conclusões, mas de fato, isso faz todo sentido.

— Quantos anos você tem?  — pergunto, curiosa.

— Quando eu morri, quase onze. Mas estou há décadas nessa mansão, então, faz as contas. Nunca fui boa em matemática!

Eu sorrio, pela primeira vez em dias. Um sorriso em meio ao caos dessa situação. 

— Como sabe tanto sobre ele, Sarah?

— Todas as respostas você terá no tempo certo, Ellie.  Preciso que me ajude a parar tudo isso, ajude-me a encontrar alguma forma.

Paro e reflito em tudo que Sarah me diz. Estar presa em algum lugar nesse plano não deve ser fácil, ainda mais quando se trata do lugar onde você sofreu e foi assassinada. Sinto um embrulho no estômago ao pensar na dor que aquela garotinha sentiu e que ainda sente. Sinto uma revolta repentina e uma vontade de ajudá-la, mesmo que ainda não saiba como, ao certo.

— Como eu posso ajudar você? Sabe… a chegar do outro lado, seja lá como vocês chamam.

— Ajudando-me a cumprir minha missão, Ellie. Só assim voltarei a ver papai e mamãe. Só assim poderemos ir.

— Poderemos? — Pergunto, com curiosidade.

Um silêncio se alastra no porão escuro por alguns minutos, mas é cortado pela minha voz logo em seguida.

— Sarah?

De repente, eu não ouço apenas Sarah, mas diversas outras vozes no porão. Eu escuto amargas súplicas, lamentos, pedidos de socorro que, aos poucos irradiaram o ambiente; ocasionando um clima melancólico e mórbido. E são muitas pessoas, ou melhor, almas. Aos poucos, meus ouvidos eram obstruídos pelos lamentos que se faziam cada vez mais profundos e descontrolados. Foi então, que Sarah gritou. 

— Chega!

E todo o barulho cessou completamente.

Nesse exato momento, eu entendi. Não era apenas a minha vida ou a alma de Sarah que precisava ser libertada e sim, a alma de incontáveis outras vítimas.

E eu preciso continuar por elas.

Oi, bistecas do meu coração!!!! Como vocês estão? Espero que bem!
Tenho andado um pouco mal, mas não abondonaria vocês de forma alguma, então está aqui o capítulo de toda sexta como prometido.

Me contem o que acharam e deixem a estrelinha, tá? Compartilhem a história com seus amigos e indiquem muito para que possamos crescer! É de grande importância. Muito obrigada por tudo, pelos 1K e todo o carinho que essa história vem recebendo. Amo vocês ❤