Sinto uma brisa agradável tocar minha face e me permito fechar os olhos, um sorriso suave e aliviado desponta em minha face. Dirijo com cuidado sobre uma estrada que parece não ter fim, não há casas nos arredores, mas a liberdade de finalmente estar livre de tudo faz com que me sinta despreocupada em relação a estar perdida no meio do nada.
Quando avisto sinal de vida ao longe, mas precisamente um posto de gasolina, dirijo em direção ao mesmo e estaciono alí. Desço do carro à passos rápidos e procuro por alguém, acenando assim que vejo um rapaz que está abastecendo um carro.
— Oi! Você pode me ajudar?
Sem tirar os olhos do cliente, ele recebe o pagamento e me olha, em seguida.
— Em que posso ajudar, moça?— Teria um celular? Preciso fazer uma ligação urgente!
— Te conheço de algum lugar... — Começa a dizer, o cenho franzido demonstra curiosidade. — Espera! Você é a garota da TV? A menina desaparecida!
— TV? Você sabe quem eu sou?
— Todo mundo sabe, garota. As pessoas estão te dando como morta, mas sua família continua à sua procura.
Sorrio, aliviada em saber que eles não esqueceram de mim. Pego o celular e tento lembrar-me do número da minha mãe, mas quem atende é outra voz que não é dela. Ao errar pela terceira vez, tento recordar do número do meu pai. Começa a chamar e sinto a aflição e ansiedade tomarem conta de mim, mordo meu lábio inferior com força. São os segundos mais longos em toda minha vida.
— Alô? — Escuto a voz familiar de papai falar do outro lado, ela é suave e doce como eu lembrava, mesmo que sinta uma negatividade impregnada na maneira como fala. Eu demoro a falar, sinto a ansiedade dar lugar ao receio. Como reagiria minha família se soubessem que estou realmente viva? Temo por meu pai não saber reagir bem à isso.
— Alô! Quem quer que seja, não mande mais trotes para mim. Quem está falando? — Papai estava visivelmente bravo, como nunca antes eu havia visto. E nesse momento eu resolvo falar.
— Papai?
A linha se mantém em silêncio por longos minutos, penso que ele talvez já tenha desligado e quando penso em finalizar a chamada, ouço sua voz serena e doce.
— Minha filha? É você? — Sua voz soa serena e chorosa, percebo isso devido ter soado trêmula. — Minha filha, onde está? Você está viva!
Começo a chorar no mesmo instante em que ouço aquelas palavras. Sim, eu estou viva! E sinto-me ainda mais viva em saber que libertei várias outras pessoas de um eterno pesadelo. Das mórbidas e cruéis paredes daquela mansão. De repente, o rosto da pequena Sarah vem em minha mente, ela sorri para mim, um sorriso intenso e verdadeiro. Um sorriso de gratidão. Sinto meu coração bater forte do peito, sinto um sentimento intenso, terno e puro de saudade.
— Filha, me fala onde você está! Nós vamos te buscar! — Ouço papai falar, em meio as lágrimas que derramamos e confirmo o endereço que o rapaz próximo a mim informa.
— Eu amo você, papai.
— Te amo muito, querida. Estamos chegando! — Sinto a excitação em sua voz e desligo o celular.
Vou até o banheiro do posto de gasolina e lavo meu rosto, percebendo as fundas olheiras que tenho em minha face. Ao levantar o rosto e jogar a água sobre ele, abro meus olhos e fito uma imagem diferente da minha no espelho. Mas sei que esta também sou eu. Sinto. A bela jovem de cabelos negros e olhos esverdeados me encara e sorri. Um sorriso suave e aliviado, como se de alguma forma, estivesse me apoiando em algo. E então vejo a minha imagem de volta ao espelho. É uma loucura imaginar que Meddelin faz parte de mim de alguma forma, mas agora, depois de tanto tempo, finalmente entendo tudo.
Meddelin tentou e fez de tudo para salvar alguém a quem amava com todas as suas forças. E, por mais que seus planos não tivessem saído como imaginou, ela esteve ao seu lado em todos os momentos. Ela era uma mulher boa que amou alguém corrompido por um passado e uma família cruel e doentia. Talvez se soubesse toda a verdade por trás de tudo, ela tivesse se afastado e Sarah não teria morrido como morreu. Mas as coisas não acontecem como queremos e no final, estamos fadados a ver as consequências de nossas escolhas erradas.
Mas, por mais que Meddelin não soubesse o passado de John, ela sabia que ele precisava de ajuda, de alguma forma e por isso, esteve ao seu lado. Ela era a única coisa a quem ele tinha, o último resquício de sanidade que sobrou em suas lembranças. Jones havia tornado-se um monstro assim como o pai e isso ardia profundamente em seu ser. Tão profundamente ao ponto de ele tirar sua própria vida.
Fecho meus olhos e os sinto arder devido as lágrimas quentes e cortantes que os invade, deixo elas fluírem alí, aliviando minha alma.
Pela primeira vez, não penso em John Jones apenas como um assassino bipolar e cruel, um homem capaz de cometer as maiores atrocidades, mas sim como uma alma atormentada e corrompida pela crueldade, que fez a pior de suas escolhas e acabou com o que lhe restava de sua sanidade. Um homem perdido em meio a tantos outros.
Uma alma cruel e doentia, fruto da crueldade.
Temos apenas mais dois capítulos para o fim, estão preparados??? ❤
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Não tenha medo, Ellie (COMPLETO)
Mystery / ThrillerEllie não mede esforços quando o assunto é aventura. O que não imaginava, é que estava prestes a viver a mais inusitada e macabra de toda sua vida. Levada à uma misteriosa e elegante mansão afastada da cidade, ela se vê em meio a mistérios incompre...