Imperatriz

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Acordo com o sol em meu rosto, mamãe está sentada na poltrona, parece que está lendo um livro... estranho, a leitura nunca foi um hábito para ela.
- Bom dia mãe!
- Bom dia querida, está tudo bem?
- Está sim mamãe.
- A moça trouxe um vestido limpo para você... Vá se vestir e tomar café.
Me levanto e vou até o banheiro me aprontar, meu cabelo está bonito... decidi deixar ele solto hoje, geralmente ele fica metade preso, metade solto.
O vestido é... bom, algo que eu usaria, ele tem mangas bufantes, todo branco, e um lindo e delicado rendado na parte do colo, começo a me perguntar de onde isso veio. E botas, botas novas... marrom claro e cano longo, eu não tenho costume de usar botas, só quando andava a cavalo e coisas do tipo, mas era muito parecida com essas. Quando termino de me vestir calço as botas. Mamãe me observa...
- Está linda querida... Vá tomar o seu café, irei continuar aqui, a leitura está, muito interessante.
Desço as escadas, e nem sinal de alguém por aqui. A mesa está posta, está sol lá fora, minha mãe está lendo e de bom humor, ganhei um belo vestido, começo a me pergunta se ontem quando bati na cabeça do rapaz, foi um delírio, talvez eu esteja morta... Talvez nós todos estejamos mortos, e só sobrou eu e mamãe, pois o resto deve ter ido para o inferno. Ai que horror, me dou uma bronca por pensar assim. Mas não descarto a possibilidade.
Decido me sentar e tomar o meu café da manhã, como uma espécie de bolinho, não sei do que foi feito, estou tentando adivinhar...
- Katheryn, pode vir até a minha sala, por favor. - Thomas me deu um susto, confesso.
A teoria da morte foi descartada, acho que ele jamais encontraria a paz, ele já deve ter matado muitas pesso... mas porque me julgo como se fosse santa? Tinha me esquecido por um instante da noite passada. Eu também posso ter matado alguém. Me levanto rapidamente e vou andando até a sala de Thomas, ele está se apoiando sobre sua mesa.
- Fecha a porta. - Delicado como sempre, mas acabo fechando.
- Não fala nada. Eu acho que sei o motivo de ter me chamado aqui! - As palavras saem bem atrapalhadas da minha boca.
- Sabe? - Agora ele me olhar exatamente como antes, sem nenhuma expressão em seu rosto.
- Fui eu? Fui que matei aquele homem, Thomas, eu preciso saber... eu não poderia viver com a idei...
Ele me interrompe, acredito que para me poupar de tal martírio.
- Não foi você Katheryn, ele foi o homem que restou para nós interrogarmos. Eu mesmo o matei.
Sinto o alívio tomar conta do meu peito, como nunca senti algo assim na vida.
- O que você ia me dizer então?
- Me desculpa.
- Pelo o que?
- Eu falhei com você, falhei com todos vocês, com meus homens.
- Não você não falhou, você controlou a situação... Alguns homens se feriram, eu sei, mas...
- Dois homens morreram, dois dos meus homens. Um está em estado crítico. Eu falhei, mas as perdas fazem parte.
- Sinto muito por isso.
- Eu sei que sente, por isso não vou mais falhar. Reforcei toda a segurança da casa, tem muitos homens agora, então, você pode fazer outras coisas além de ficar no quarto, nós temos um espaço bem grande aqui. Temos o lago, temos os cavalos, gosta de cavalos? Bom enfim, de noite terá sempre dois homens no corredor do seu quarto e dos seus pais. Não vou correr o risco de sermos atacados de surpresa novamente.
- Por isso as botas?
- Por isso as botas.
Ele se cala e acende um cigarro. Não sei mesmo o que falar agora.
- Então é isso?
- Sim. Dispensada.
Cavalos, me parece ótimo, com base em que o dia está lindo. Pela primeira vez e alguns dias, vou colocar meus pés pra fora dessa casa. Essa casa é enorme, tem lugares onde eu nem sequer fui ainda, mas é horrível, ela consegue ser cheia e vazia ao mesmo tempo. Vou até o estábulo. Ele tem belíssimos cavalos, estou supresa.
- Posso ajudar?
- Ai meu Deus! Que susto!
- Desculpa senhorita, não foi a minha intenção.
Não consigo parar de rir! Principalmente pois foi uma reação patética.
- Tudo bem, sem problemas... Você que cuida dos cavalos aqui?
- Sim, trabalho para os Shelbys faz tempo.
- Poderia me ajudar a preparar um cavalo?
- A senhorita monta?
- Com maestria. - Não posso evitar de sorrir, é a melhor conversa que tive em tempos. É o efeito dos cavalos.
- Aqui tem um bom lugar, pra cavalgar?
- Tem sim, eu levo a senhorita até lá.
- Muito obrigada.
Depois de alguns minutos, meu cavalo está pronto.
- Esse é a imperatriz. É uma boa égua.
- Ela é uma Shire?
- Sim ela é, Thommy jamais mandou ela pra alguma corrida antes, ela não é pra isso.
- Corrida?
- Ah, você não sabia? Ele é dono da maior agência de apostas de corrida de cavalos.
- Ah sim... ahm ela é linda!
Até a crina dela é branca, incrível. Ela é enorme. Essa raça está entre as maiores raças de cavalo em relação a tamanho, e são muito dóceis também. Estendo minha mão para ela cheirar, sinto tranquilidade da parte dela... Então me aproximo um pouco mais e começo a fazer carinho. Quando percebo já somos amigas, ela é realmente muito dócil.
- Precisa de ajuda para montar senhorita Katheryn?
- Ela é bem alta, talvez um caixote... Por favor senhor... eu não sei o seu nome ainda!
- É Richard senhorita.
- Ah sim Richard.
Ele coloca o caixote ao lado da imperatriz e me estende a mão para me ajudar a subir, mesmo não precisando, aceito sua ajuda.
Então ele monta em seu cavalo e começamos a cavalgar devagar até chegarmos numa enorme área verde um pouco depois da pequena plantação que eles tem aqui.
- É aqui o lugar. A propriedade do senhor Shelby vai até a cerca um pouco depois do lago.
- Não consigo ver o lago daqui... Vamos até lá?
Continuamos cavalgando, porém agora um pouco mais rápido. É tão bom sentir o vento em meu rosto, montar sempre fez muito feliz.
- O senhor Thomas tem alguns barquinhos, as vezes todo mundo se reúne aqui e fazem piqueniques.
- Nossa agora gângsters fazem piqueniques? Surpreendente.
- Eles são bons homens, apesar de tudo. Aconselho não vir sozinha pra cá, eles estão em pé de guerra com os italianos, não sabemos se irão atacar novamente.
- Ah sim... - e lá se vai minha esperança de liberdade.
- Vamos?
- Sim.
Quando chegamos até o estábulo decido procurar o jardim que fica em frente a janela do meu quarto.
É realmente um local muito bonito, as flores estão bem cuidadas e possui uma fonte no centro e alguns bancos ao redor. Um lugar de paz talvez.
- Isso é uma bola de futebol... 
Então o menino que estava agarrado a Adda naquela noite aparece.
- Oi.
- Olá, tudo bem?
- Você quer jogar comigo?
- Sim, mas com uma condição, você tem que falar o seu nome pra mim primeiro!
- É Joseph e o seu?
- Katheryn.
Ele coloca a bola no chão e chuta na minha direção, mas acaba errando e acerta nas flores, não pude deixar de rir.
- As flores, acho melhor jogarmos em outro lugar... vamos até a frente da casa!
E ali ficamos um bom tempo jogando a bola um para o outro eu sei que ele é só uma criança mas não posso deixar de rir do quão atrapalhadinho ele é!
- Joseph venha até aqui, eu tive uma ideia. Vamos jogar as bolas com as mãos e quem deixar cair paga uma prenda!
- Mas eu vou perder, não sou bom com isso! - Ele fala de um jeito tão fofo.
- Você só vai saber se tentar!
- Tá bom você começa!
Jogamos umas três vezes sem deixar e decido deixar ele ganhar, não tem como, ele é muito fofo mesmo!
- Aaaaah não Joseph eu deixei cair, o que você quer que eu faça?
- Deixa eu pensar... - Ele analisa o ambiente em volta dele. - Quero que faça igual a galinha!!!
Ele está rindo antes mesmo da minha interpretação! Isso é culpa da galinha ciscando logo ali perto do celeiro.
Então vamos lá né, começo a andar e imitar uma galinha, literalmente! Me sinto patética mas ele está rolando no chão de tanto rir!
- Está bom assim para você Joseph? - Coloco os braços na cintura e não consigo conter minha risada. Na soleira da porta está Arthur e Thomas, olhando em nossa direção, agora sinto que estou corando, que vergonha, espero que eles não tenham me visto imitar uma galinha! - Dou mais risada ainda pensando nessa possibilidade!
Mamãe me grita da soleira da porta para irmos almoçar. Estão todos sentados na mesa, mamãe, papai, Arthur, a moça loira que suponho eu ser a mulher dele, Thomas, Johh  e Adda.
- Vem filho, vamos comer, sente-se aqui no colo da mamãe.
Me sento ao lado de minha mãe. O almoço parece delicioso. Papai quebra o silêncio.
- O que estava fazendo querida?
- Eu fui até o estábulo, conheci o Richard, ele me mostrou a área boa para cavalgar.
Thomas interrompe, educadíssimo como sempre.
- Qual cavalo escolheu?
- Imperatriz.
- Excelente escolha. - Ele lança um olhar para John e eles dão uma risadinha.
- Sim, ela é uma excelente égua.
- Você gostou daqui? Digo do campo?
- Gostei sim, tem um lago no fim da propriedade, muito bonito! Mas aqui não é tão grande, como... C-omo nossa casa. - Sinto que não devia ter dito isso.
Papai me lança um sorriso em concordância.
Arthur puxa assunto com Adda e começo a me desligar totalmente da conversa... Thomas me encarava às vezes, posso tê-lo ofendido com a minha observação sobre o território dele.
Tem torta de maçã de sobremesa, eu amo torta de maçã! E essa está divina. A cozinheira deles é ótima!
- Senhoritas, se nós dão licença temos uma reunião agora, nos acompanha, Albert?
Todos saem da mesa e se dirigem ao celeiro onde os homens estão se alojando, eu acho.
Adda nós chama para a sala, disse que nos preparou um chá da tarde. Achei fofo da parte dela. Elas estão conversando já faz um tempo, estou apenas sentada com cara de paisagem concordando com tudo o que dizem, porém estou com os pensamentos em outro lugar.
- Perdão senhorita Shelby, não entendi o que disse.
- Me chame de Adda! Perguntei dos rapazes.
- Rapazes! Ah sim! Bom, ahm levanto em conta que meus pais não me deixam me aproximar de nenhum, acho que é para evitar que eu me apaixone pelo homem errado e não pelo homem que eles vão me obrigar a me casar sem ao menos conhecer! Então não, não tenho nenhum rapaz em mente!
Adda dá uma gargalhada!
- Katheryn! - Mamãe chama minha atenção e eu não posso deixar de rir.
Joseph me chamou para brincarmos lá fora, brincamos de esconde esconde até escurecer! Então nossas mães no chamaram para tomar banho para o jantar, sinto que tenho 7 anos novamente! Mas concordo com elas, precisamos mesmo de um banho!
No jantar ocorre tudo bem e está maravilhoso, como sempre!
Não via a hora de tirar esse vestido verde que coloquei depois do banho! E como sempre uma camisola para dormir aparece misteriosamente na poltrona. Eu sei que não é mistério pois é a moça, mas eu nunca vejo ela entrar aqui. Estou cansada então logo pego num sono...

ShelbyOnde histórias criam vida. Descubra agora