Gotas de chocolate

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  - Tenho uma coisa pra você. - Seus olhos estão pousados em mim.
   Ele se levanta calmamente e anda até o palitó que está no chão, retirando então uma pequena caixinha do bolso.
- Abra. - Ele estica para mim alcançar a caixinha e se senta ao meu lado na cama.
É um colar, um lindo colar com um pingente de coração todo trabalhado com algumas formas de flores, e um pequeno K prata cravado no centro do coração.
- Thomy, isso é lindo! - Não posso negar minha extrema felicidade nesse momento.
- Abre.
Quando abro o pequeno coração, tem uma chave dourada minúscula, com um pequeno T cravado nela. É perfeito!
- Posso?
- Claro! - Me sento na cama e viro de costas para que ele pudesse colocar o colar.
- Isso é para você não esquecer, que você, só você, tem a chave pro meu coração, Katheryn. Seus lábios encostam no meu ombro, deixando um rastro de beijos até o meu pescoço.
-Thomy, é melhor nós irmos, eles já devem estar dando falta de você.
Vestimos nossas roupas e eu sinto que essa vai ser a pior parte de todas, dizer adeus.
-Ei. -Ele me chama esticando suas mãos na minha direção, rapidamente alcanço elas.
- Só me espere, okay?
- Okay. 
Encosto em seu peito e ele deixa um beijo no topo da minha cabeça.

Saio do quarto primeiro, e tiro o colar rapidamente, terei que segurar até chegarmos em casa... Ao chegar no saguão avisto mamãe e papai próximo ao bar e vou na direção deles.

-Querida você está aí! - Mamãe diz levemente alterada. - O que aconteceu com o seu cabelo?
- Meu cabelo? - Ah não. - Eu estava no jardim, está ventando lá fora... Mamãe, estou cansada, gostaria de ir embora.
- Mas filha, agora que estamos nos divertindo?!
- Vocês podem ficar, eu vou pedir pro motorista me levar e depois voltar pra cá.
- Tá bom amor, tome cuidado.
- Dorotta vai estar lá, fica tranquila.

- Dorotta?? - Chamo por ela, mas não a encontro. Estou com tanta fome, que decido comer as sobras do chá da tarde e decido tomar um banho. Chego na conclusão que os meus dias serão muito difíceis se esse homem não sair da minha cabeça, não consigo pensar em nada além dele, fico igual uma idiota olhando aquele colar a cada 10 minutos, por fim decido ler um livro para pegar no sono.

- Bom dia meu amor! - Mamãe entra praticamente berrando dentro do meu quarto, abrindo as janelas, e me deixando completamente irritada. Como essa mulher consegue estar assim perfeita pós uma noite de bebedeira?! - Bom dia, mãe. - resmungo.
- Vamos filha, se arrume, temos que comprar muitas coisas, estou com a lista que a moça da casa mandou, teremos um dia cheio.
Estou sem paciência então coloco o primeiro vestido que encontro, azul claro, com mangas, decido deixar o cabelo solto e coloco minhas botas de couro marrom.
No café da manhã meu pai tenta puxar assunto, mas estou completamente sem vontade alguma de conversar.
- Está assim por conta de ser seu último dia morando aqui?
- É pai, é exatamente isso. - Eu sei que estou sendo arrogante, mas é assim que eu me sinto agora, meio estranha.

As compras parecem não ter fim, desde lençóis, cortinas, tapetes, a sapatos, casacos, vestidos, enfim. Por último estamos aqui na loja de roupas de cama novamente, minha mãe acha que preciso realmente de cinco lençóis, ao meu ver seriam necessário bem menos. Estou olhando um jogo de banheiro próximo ao vidro da fachada da loja, quando três carros estacionam do outro lado da rua, três automóveis novos... São os Shelbys, todos eles e a Polly, eu não devia nem ficar surpresa, ele é quase um rei nessa cidade.

- Filha o que achou desses?
- O que? Os lençóis? Ah, ahm estão ótimos, mãe. Vamos embora logo, por favor, estou com fome.
- Já vamos! Tive uma ideia, vamos até a cafeteria comer alguma coisa!

Saímos então do estabelecimento e minha mãe pede para que o motorista nos espere lá na frente.
-Vamos, é logo ali na esquina.
Começo a caminhar na direção da cafeteria, mas não consigo evitar de olhar para trás na esperança de encontrá-lo ali. E lá estava ele, com os olhos em mim e seu cigarro na boca, perfeito como sempre.

- Está um dia lindo não é?
- Que?
- O dia, está lindo!
- Ah sim mãe, está. - Chegamos então até a porta da cafeteria e ela entra na minha frente, olho mais uma vez, mas ele já não está.

- Bolinhos com gotas de chocolate! Por favor. E uma xícara de chá branco. - O rapaz se vira e vai para o balcão. - Vou sentir falta dos bolinhos, e dessa cidade minúscula.
- Meus dias serão horríveis sem você, horríveis, terei que arrumar outra ocupação, talvez uma outra filha!
- Mamãe! - Nós duas rimos, e eu gostaria de guardar esse momento pra sempre, sinto que ela evoluiu muito como mãe de uns tempos pra cá, hoje já tenho uma imagem diferente dela, muito melhor... Todos os fatos que ocorreram nos trouxeram até aqui, e eu estou muito grata por isso.

Dorotta está soluçando enquanto arrumamos as malas, não sei o que fazer para ela parar de chorar!
- Dorotta, venha sente-se aqui! - Ela começa a chorar com muito mais vigor agora enquanto coloca seu rosto em minhas mãos. - Eu amo você, eu amo mesmo, e você me ama, eu sei disso! Mas você precisa ficar bem! Estou indo fazer a minha vida e você vai precisar viver a sua, você e meus pais são tudo o que importam pra mim. - Bom, tinha ele também.- não posso sair daqui sabendo que você vai morrer de tanto soluçar!
- E-eu sei senhorita Katheryn, mas eu passei minha vida com você e agora isso tudo vai acabar! - Ela parece soluçar com mais vontade.
- Não! Não vai! Dorotta, olha pra mim! Eu vou sempre te visitar e você também vai me visitar, você precisa se casar, ter filhos, e ter uma vida, já sou crescida, agradeço de todo meu coração a sua devoção todos esses anos, mas agora você precisa ter devoção consigo mesma! Assim como estou indo atrás do meu futuro, quero que você faça o mesmo. Agora vem aqui e me dê um abraço!

Mais tarde naquela noite comecei a ficar ansiosa e entusiasmada, com medo é claro, mas muito ansiosa, já que tudo estaria prestes a mudar, não tinha dúvidas de que iria demorar para dormir.

ShelbyOnde histórias criam vida. Descubra agora