Na fazenda

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- O que você quer?
Ele se aproxima e para ao lado da minha cama.
- O que você tem? Ouvi sua mãe dizer que não está bem.
- Não é da sua conta, agora saia daqui.
- Katheryn eu...
- Anda, sai daqui, você já deixou bem claro o que pensa ao meu respeito. Eu não quero saber, já disse, estou indo embora o mais rápido possível! Não quero nada que venha de você, nem mesmo ouvir o que tem a dizer.
- Venha trabalhar comigo, na agência, e onde mais você quiser, eu não me importo, eu só não quero que você vá embora.
Ele consegue ser rude até quando está tentando não ser.
Dou uma risada sarcástica.
- Você quer sim! É tudo o que você mais quer, não me quer na sua casa, no seu trabalho, não me quer com a sua égua. Não vou cair nessa! Não mais. Você estragou tudo... Eu estava começando a pensar que... Não interessa, é a minha decisão final. Agora saia.
- Sabe onde me encontrar se mudar de ideia.
- Não será necessário.
Ele se vira e sai do quarto. Começo a pensar num plano para conseguir pegar o dinheiro que está na minha casa, eu não sei mais nada sobre os italianos mas sei que se estivesse tudo bem, poderíamos voltar à nossa casa... O lago! É isso, tenho que atravessar e sair do outro lado da propriedade sem que ninguém me veja, não sei como vou fazer para chegar até minha casa, não sei bem o caminho mas vou achar, isso é o de menos. O problema é, a outra propriedade, não sei como sair de lá, nem de quem quer que seja. Pode ser perigoso, tenho que pensar em outra coisa... Bom espero acordar melhor dessa gripe amanhã. Volto a me concentrar na leitura, confesso que vou demorar para pegar num sono.
Acordo no outro dia com o livro em cima de mim. Começo a pensar no meu plano, quero fazer isso hoje. Aqui eles tem motorista, posso inventar que preciso ir até a cidade, posso pedir dinheiro para o meu pai, sei que ele tem, pois já está recebendo pelo trabalho com os shelby. Levanto e tomo um banho, não lavo meu cabelo, pois lavei ontem de noite, me sinto muito melhor agora. Preciso vestir algo bonito, algo que pareça que vou realmente sair para algum lugar, as vezes meu pai deixava o motorista me levar para fazer compras. Pego então o vestido branco do outro dia, coloco o espartilho do jeito mais apertado que consigo. Faço um coque alto no cabelo deixando alguns cachos soltos, passo o perfume e a maquiagem que tenho aqui, calço as botas. E vou atrás do meu pai, acho que ele deve estar no quarto.
Bato na porta.
- Quem é?
- Oi papai, sou eu...
- Entre querida... Nossa como está linda a minha menina, vai a algum lugar?
Sento ao lado dele na cama. Tenho que colocar toda a minha fofura para jogo.
- Então papai, vim perguntar se pode me dar algum dinheiro, para ir ao centro da cidade, é que estou precisando de algumas coisas, e você sabe, aqui neste lugar não tenho quase nada.
- Essa é a minha garotinha, querendo fazer compras - Ele se levanta e pega o dinheiro na gaveta ao lado da cama.
- Como você vai? Não é perigoso?
- Vou pedir ao John pedir para o motorista me levar. Não papai não é, os shelbys vão até a cidade todos os dias.
- Está bem, tome. - Ele me entrega o papel.
- Papai, não conte para a mamãe até que eu já esteja longe!
- Mas como assim?
- Você sabe, ela vai querer ir junto e vai demorar horrores para escolher cada coisa, quero estar de volta logo.
- Ah sim, você tem razão. Pode ir então minha filha, vai lá comprar suas coisas.
- Obrigada papai! - Saio do quarto, não sei se John ainda está aqui, mas tenho que achá-lo sem que a mamãe me veja. Ela deve está no jardim, ela fica lá o tempo inteiro, lendo. Vou até o meu quarto e espio da janela, ela está lá sentada ao lado da fonte.
Vou até o quarto de John, bato na porta mas ele não está.
Desço e saio pela porta da cozinha que está ao lado oposto do jardim. Vejo John vindo com dois homens que seguram algum animal em suas mãos, não quero nem olhar. Saio para fora e caminho até ele.
- Ah olá Katheryn, como se sente?
- Olá! Bem, me sinto bem melhor... Posso lhe pedir um favor?
- Sim, o que é?
- Vocês tem um motorista, certo?
- Certo.
- Pode pedir para ele me levar até a cidade?
- Eu mesmo posso te levar, já estou indo.
- Não! Não se incomode, vou demorar um pouco lá mas quero estar de volta antes do almoço, e não quero tirar você do trabalho para me levar embora.
- Ah sim, tudo bem. Vou chamar o Charlie então.
- Muito obrigada!
- Está muito bonita nessa manhã, senhorita.
Ele se vira e vai para algum lugar, atrás do Charlie, acredito eu. Em pouco tempo o carro já está aqui. E Charlie desce para abrir a porta para mim.
- Muito obrigada!
Seguimos viagem, preciso que ele entre na rua próxima a minha casa.
- Charlie, pode me levar até a fazenda dos Stuarts, sabe onde é? Preciso buscar algo primeiro.
- Sim senhora, estamos perto.
Chegamos até o portão então desço do carro. Com certeza está trancado. Puxa o mato está enorme, parece um cenário de terror se não fosse pela minha linda casa. Preciso entrar. Mas não sei como... O único jeito vai ser pular o portão, não é tão alto assim! Meu Deus o motorista vai achar isso muito estranho.
Volto até o carro...
- Charlie, porque não estaciona ali na frente, aqui é passagem, pode aparecer alguém querendo passar.
Charlie vai para o outro lado da rua e estaciona o carro, acho que assim será menos constrangedor. Então começo a escalar o portão. Até que não foi tão difícil, minha sorte é que não tem lanças ou algum tipo de espetos aqui. A porta da frente com certeza vai estar trancada, mas a porta de serviços estava com a fechadura quebrada, com certeza ninguém arrumou isso antes de irmos embora.
Está aberta! Que alegria, estaria perdida se não estivesse aberta. Agora preciso mesmo achar o dinheiro. Não tenho ideia de onde mamãe colocou, deve estar no colchão, atrás de algum quadro ou algo do tipo. Subo para o quarto dela, e começo a revirar tudo atrás do dinheiro, preciso achar... Procuro em todos os lugares. Não está aqui no quarto pelo menos!
Acho que ouço vozes ou estou ficando louca! Está mais perto agora, posso ouvir bem, são homens! Mas não são ingleses, posso ouvir pelo sotaque. Meu Deus, são eles.
- Não deixem ela escapar, ela deve estar lá em cima. Vamos.
Como vou me esconder? Em baixo da cama não, no meu quarto também não... no banheiro, dentro da banheira, deixo a porta aberta e a cortina da banheira meio aberta também. Para parecer que está vazio. Fico ali dentro. Tomara Deus que não me encontrem, só de pensar já quero chorar. Ai como sou fraca. Não posso entrar em desespero.
Eles estão aqui no quarto.
- Olhe dentro do banheiro, vou procurar no armário.
Sinto alguém se aproximar, mas não encontram na cortina. Prendo minha respiração ao máximo para não fazer nenhum barulho.
- Não tem ninguém aqui. Vamos olhar os outros quartos.
Posso ouvir os passos se afastando.
- Você vai para este lado e eu vou para esse.
A escada está bem de frente para a porta do quarto da minha mãe, eu só preciso descer sem fazer barulho. Eles devem estar dentro dos outros quartos. Saio de fininho na ponta do pé para não fazer barulho, olho para os dois lados para me certificar que não tem ninguém. Então desço as escadas bem devagar. Saio pela porta e começo a correr em volta da casa para chegar até o lado do portão, sinto que posso ter uma síncope a qualquer minuto. Quando chego até a  entrada da casa...
- Olá, senhorita.
Dou um tranco pra trás ao me deparar com um homem na minha frente.

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