16: Starship.mp3

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"Olhando em seus olhos, vejo um paraíso
Este mundo que encontrei é muito bom para ser verdadeiro
Aqui ao seu lado, quero tanto dar a você
Este amor em meu coração, que sinto por você"

Nothing's Gonna Stop Us Now, Starship

[ p l a y l i s t ]

Changkyun estava mais avoado do que o costume. Mas era inevitável não sê-lo quando, a todo momento, se lembrava da voz suave de Kihyun cantando para si. Das covinhas superiores aparecendo quando ele sorria por pura timidez, ou dos olhos castanhos brilhantes. E também, algo que contribuía para sua ausência de foco em qualquer coisa que não fosse relacionada a Yoo Kihyun era a sua vontade imensa de poder lhe dizer apenas cinco palavrinhas. Haviam se falado constantemente nas últimas semanas, através de chamadas de vídeo, mensagens, ligações e no caminho para casa, e essa proximidade apenas fazia o coração de Chang se sentir ainda mais agitado. Ele, agora, participava da vida do Yoo como alguém próximo; sabia de tudo sobre seus amigos, suas peripécias e momentos inesquecíveis. Partilhou com o loiro seu medo de aranhas e riu, achando adorável, da cisma que o Yoo possuía com botijões de gás — não chegava a ser medo, Kihyun afirmava. E, de certa forma, o Im se sentia especial... e ele estava gostando demais de se sentir assim.

Apesar disso, também se sentia completamente perdido e, com toda a certeza, afirmava que se apaixonar, na vida real, não era nada idêntico aos filmes e mangás shoujo¹ que leu. O que poderia fazer? Se declarar parecia uma ação precipitada demais, por mais que já tivesse um bom tempo desde que começaram a conversar e fosse quase impossível não desenvolver no mínimo uma paixonite pelo dono do sorriso mais doce que já colocou os pés no planeta terra.

A realidade era: Changkyun possuía uma ginórmica dificuldade em colocar seus sentimentos em palavras. Talvez devido à sua natural inaptidão em manter diálogos longos, ou por se achar tão tremendamente desinteressante que não valia a pena se declarar, somente para ser rejeitado. Era comum, durante toda a sua vida escolar, que as pessoas parassem de falar com ele e se afastassem naturalmente, por ausência de conversas e até mesmo, por Changkyun nunca encontrar alguém que dividisse algo consigo — com exceção de Gunhee e sua paixão por bandas indie e, agora, Kihyun, que lhe era todo ouvidos até quando divagava sobre a letra de Hotel Califórnia e suas teorias. Não era tão simples assim externar seus sentimentos e confrontar seus medos.

— Terra para Changkyun, por favor, responda — Gun chama a atenção do amigo, que ainda bate os pés nervoso, e mantém o olhar vago — Changkyun, Changchang, Kyun. O que houve?

— O que? — pergunta, já desperto de seus pensamentos.

— Você estava encarando a parede, a aula já acabou, você vai perder seu ônibus se continuar aí — cruza os braços contra o peito, vendo os olhos do Im se arregalarem.

Mais do que depressa, Changkyun se levanta, pega sua mochila e quase corre pelos corredores. Ele nem sequer olha para trás, onde um Gunhee estupefato havia ficado.

Quando finalmente chega ao ponto de ônibus, o coração palpita freneticamente, ele sente os pulmões implorarem por um descanso, mesmo com tanto esforço, ele vê o coletivo se distanciando cada vez mais.

Changkyun suspira, derrotado. Todas as suas chances de poder ficar ao ladinho de Kihyun e admirar aquele sorriso bonito e ouvir aquela voz gostosinha de pertinho, haviam ido junto àquele ônibus. E, para piorar, era uma sexta-feira, o que significava que teria que se contentar em ver o Yoo apenas virtualmente por três dias, ou seja, uma eternidade!

chang:

| Kiki, acabei perdendo o ônibus

| Não vou voltar pra casa com você hoje

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