Vinte e três

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Horas, dias, meses e um machucado que não cura facilmente. O tempo parecia não passar rápido para ele, digamos que, estavam ambos presos em seus ciclos sem fim. Início e final, final e início. As vezes pegavam-se pensando um no outro, como se estivessem se visto na noite passada.

Nem tudo acontecia como eles queriam, as vezes, o destino lhe pregavam ilusões.

A falta de quimioterapia fez Olivia suspender tudo que gostava de fazer nesses últimos quarto meses, como esportes, compras, passear ou si quer trabalhar. Ela sentia falta de coisas simples que Levi fazia por ela. Ficar em casa e repousar o tempo todo estava deixando ela louca, e ele também.

Dar as vitaminas, soro quando ela tinha crises, fazer remédios caseiros e tudo à mais de quando era médico fez Levi compor poucas músicas, ele estava paciente e sensível –em outras palavras, num transe.

-Quer que eu te ajude? –ela perguntou gentilmente enquanto ele colocava às roupas sujas na máquina de lavar.

-Esta tudo sobre controle. –respondeu calmamente, depois de colocar uma pilha de roupas secas para passar encima de uma mesa com o ferro quente do lado. Ele mantinha o olho na maquina, na secadora e estava passando a terceira pilha de roupas dos bebês. –Vá se deitar, já estou indo te dar seu remédio.

Olivia sentiu-se cabisbaixa. Ele estava a tratando com indiferença e controle, o que ela mais odiava era estar sob-controle de alguém. Era independente. Queria sentir-se útil. Levi não à deixava fazer mais nada desde a última crise, ela não podia cozinhar –coisa que amava fazer–, não podia fazer esforço algum.

-Quero fazer algo. –ela encostou-se na parede e fitou o baixinho que se revezava. Algumas gotas de suor escorriam em sua testa.

Levi parou o que estava fazendo e encarou com desdém. Ele percebeu oque estava acontecendo, ela estava tendo uma crise existencial e ele estava colaborando com tudo isso. Antes de explodir lembrou-se de algo que pudesse conter seu estresse.

“Não deixei-a abalada, qualquer deslize pode causar muitas complicações. Seja gentil, independente da situação, não se estresse.”

-Que tal descascar alguns vegetais para o jantar. –soltando o fôlego e liberando a testa franzida, ele terminou dobrou algumas roupas e colocou no cesto, logo em seguida desligando o ferro.

-Posso fazer isso. –abriu-se um grande sorriso no rosto de Olivia. Ela lentamente caminhou para fora da lavanderia.

Levi a seguiu com a cesta de roupa num lado do braço. Ela caminhava lentamente, como se cada passo fosse muito difícil. E era. A fraqueza era nítida nos olhos dela que antes eram esmeraldas cintilantes e, agora, o verde fusco e sem brilho habitava seus olhos.

Ela caminhava entre a cozinha com sua barriga de um lado para o outro. O vestido amarelo que ia até os joelhos, tinha uma renda branca na cintura, formando um visual angelical. Levi parou na entrada da cozinha, encostando-se no balcão, por alguns segundos ficou à observa-la e memorioso cada fio de cabelo castanho que caía como uma cortina velha em suas costas, os fios estavam opacos e não muito agradável aos olhos.

-O que você têm? –ela perguntou enquanto pegava alguns legumes da geladeira, com um breve sorriso sem jeito.

-Nada.

-Então, por quê está me olhando com cara de doido?

-Eu... –ele parou e procurou as palavras certas. –É que eu estava pensando...

Ela bateu com faca na tábua e prestou total atenção em Levi.

-Vamos logo, desembucha. –disse impaciente.

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