Vinte e quatro

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O sonho não acabou pela manhã. Eren acordou às 6h e olhou para seu reflexo no espelho do teto. Ergueu uma das mãos e observou-se tocar o rosto. Sentiu os dedos, viu-os deslizarem sobre a testa e descerem pela lateral da face.

Por mais estranho que aquilo parecesse, tinha de ser real. Nunca havia se visto na horizontal antes. Parecia tão... diferente, concluiu, espalhado na cama gigantesca, cercado por uma montanha de travesseiros. Sentia-se muito diferente.

O simples fato de saber que nunca mais teria de acomodar o corpo no colchão da cama velha, casou-lhe uma onda de alegria tão grande, que ele caiu na gargalhada, incapaz de parar até que estivesse com falta de ar.

Gabriel havia se desfeito de todas as coisas deles e estavam morando num lugar que Eren mal sabia pronunciar o nome, era mais um dos negócios da família de Gabriel.

Rolou na cama de um lado para o outro, chutou os pés no ar, abraçou travesseiros, e quando isso ainda não era o bastante, levantou-se para dançar sobre o colchão.

No momento em que se sentiu completamente exausto, sentou-se na cama e passou os braços ao redor dos joelhos. Estava usando uma camisola de seda cor-de-rosa... lembrou-se de que havia dormido nu, por causa da noite passada, com toda certeza Gabriel havia o vestido com aquela peça delicada. Ele sorriu e adorou a cor da roupa em contato com sua pele. Havia acordado tão feliz naquela manhã que até se esquecerá que iria viajar no dia seguinte e viveria o mundo.

Ele saiu da cama, querendo explorar a suíte novamente. Na noite anterior estava muito zonzo, e apenas tinha olhado tudo com admiração. Agora era hora de brincar.

Pegou um controle remoto, começou a apertar botões. As cortinas azuis acima das janelas que iam do chão ao teto se abriram e fecharam, fazendo-o sorrir como um bobo. Abrindo-as de novo, Eren viu que tinha uma visão fantástica dos mares russos.

Estava tudo silencioso e acinzentado, notou, com uma luz suave anunciando um dia que começava a amanhecer. Perguntou-se em que andar estava. Vigésimo? Trigésimo? Não importava. Estava no topo de um mundo ousado e muito novo.

Escolhendo outro botão, abriu um painel que revelou uma grande tela de televisão, um videocassete e um aparelho de som que parecia difícil de mexer. Ele manuseou alguns botões do aparelho até encher o quarto de música, então se apressou para o andar de baixo da suíte.

Eren abriu todas as cortinas, cheirou as flores, sentou-se em casa almofada dos dois sofás e das seis cadeiras. Maravilhou-se com a lareira, com o grande piano branco. E como não havia ninguém para lhe dizer que não mexesse ali, sentou-se ao piano e tocou a primeira coisa que lhe veio à mente.

As notas festivas e perfeitas de “Everything's Coming Up Roses” o fizeram rir como um tolo.

Atrás do bar, achou uma pequena geladeira, então riu como um garotinho quando viu que havia duas garrafas de champanhe lá dentro. Ao ritmo da música, foi dançando para o banheiro da sala de estar e sorriu para o bidê, o telefone, a televisão e para todos os outros cosméticos lindos e antigos de banho arranjados em uma cesta de porcelana chinesa.

Cantarolando, subiu os degraus de volta para o quarto. O banheiro principal era um luxo só, desde a enorme banheira até o balcão longo debaixo de um espelho iluminado do tamanho de uma parede. O cômodo era maior que o antigo apartamento inteiro que morava.

Com comida e bebida, pensou, poderia viver feliz ali. Plantas exuberantes se aninhavam na prateleira azulejada ao lado da banheira. Um boxe de vidro ondulado oferecia jatos de água entrecruzados. Lindos potes estavam distribuídos em prateleiras de vidro e continham sais de banho, óleos e cremes de aromas exóticos.

-Não questione –sussurrou ele. –Não arruíne este momento. Mesmo que tudo acabe daqui a uma hora, você tem isso agora.

Mordiscando o lábio, pensou nele novamente, por impulso afastou o pensamento.

Em seu escritório acima do mundo agitado, Gabriel passou os olhos pelas telas tudo que lhe era possível saber.

Imaginava que o pai estava fazendo a mesma coisa no seu escritório na China.

-Vou conversar com ele em alguns minutos –continuou Gabriel. –Quero que ele não saiba de muito.

-Conte-me sobre o moço –pediu o empresário, sabendo que os instintos de Gabriel lhe dariam uma imagem clara.

-Não é muito difícil de entende-lo, Pyxis. Ele é jovem. –Gabriel continuou se movendo enquanto falava, observando as telas, verificando cada detalhe. –Nervoso –acrescentou. –Com problemas, de alguma maneira. Ele está fora de seu ambiente aqui.

-Já arranjei um bom compositor com um amigo meu... vai dar certo. –ele afirmou.

-Obvio que vai. Meus planos nunca falham. –Gabriel riu.

-E se for pego?

Ele soltou um gargalhada monocromática.

-Qual o problema?

-Se falhar, o que não vai acontecer, tomaremos o protocolo da viúva negra? –ele disse enquanto analisava alguns papéis.

-Mais ele é muito jovem... – sussurrou espantado.

-Teremos que matá-lo.

-Achei que gostasse dele. –ele brincou. –Você é um monstro.

-Eu vou fazê-lo crescer ao meu lado, e se isso acontecer, ele terá que morrer. É exatamente por isso que temos que tomar providências.

Pyxis acendeu um charuto.

-Apenas não toque no compositor que lhe arranjei, ele é preciso e descendente de alguém importante para mim. Então, se querer joga-lo no mesmo buraco que a nossa estrela, estará cavando a própria cova, Sr. Gabriel Mac-Jim. –ele disse num tom autoritário e Gabriel assentiu.

-Nunca quebro meus contratos. –ele se serviu um uísque com gelo. –Você tem notícias dela?

-Parece que gastou todo seu dinheiro de uma vida em artigos para bebês, não entendo aquela mulher, invés de continuar o tratamento, opinou pela gravidez. –Pyxis comentou perplexo.

Gabriel estava frustrado mais uma forte armadura ainda se mantinha ali.

-Que seja. –ele virou o líquido na boca. –Não me importo.

-Eu já disse que queria me casar na igreja! –Olivia reclamou quase pulando da cadeira de rodas.

-O jeito foi o cartório, caso contrário seria impossível enfiar esse barrigão num vestido de noiva. –ele brigou.

-Não quero mais você! Quero divórcio. –ela bufou e ele arrumou sua mexa de cabelo rebelde.

-Mais eu quero. Além do mais, seria um desperdício pedir divórcio justamente no dia do nosso casamento. –ele sorriu gentilmente.

Ela cedeu e sorriu.

-Eu te amo. –ela beijou sua testa.

-Você está linda.

-Sorriam para a foto! –o fotógrafo se posicionou e Levi e Olivia se ajeitaram. Levi posicionou a mão direita no ombro de Olivia e ajustou a postura, enquanto Olivia terminava de ajustar a peruca longa no cabelo.

-Felicidades!

HurtOnde histórias criam vida. Descubra agora