Cap.2

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    É meio dia em ponto. Estou na frente da casa em que fui criada, sem coragem nenhuma de entrar.

Não consegui dormir muito bem ontem à noite, tive uma dor de cabeça terrível. Fiz de tudo para tentar passar, mas nada funcionou. Então, encaro a campainha com os olhos quebrados de tanto cansaço. Minha família deve estar reunida para um churrasco já que escuto música alta e risadas vindo lá de dentro, o que piora a situação pois não quero e nem tenho forças para enfrentá-los nesse estado.

Sento na calçada, na parte em que tem sombra. Eu fugi esse tempo inteiro, evitando encontrá-los. Não queria dar esse desgosto para eles, mostrar a grande decepção que eu virei.

   — Tá fazendo o que aqui sozinha? - escuto essa voz e tomo um susto dos grandes. Levo a mão a onde o meu celular está, por instituo. Penso que é um assaltante, mas é só meu pai. Ele me olha sem entender.

  — Bom dia, meu pai. Como o senhor está? Faz tempo que eu não venho aqui, né? - tento dar o meu melhor sorriso. Ele me olha desconfiado e se senta ao meu lado.

  — Quer desabafar, meu amor? - engraçado como uma simples pergunta da pessoa certa pode mexer tanto com você, né? Meus olhos se enche de lágrimas e tento disfarçar da forma que eu posso.

— Desabafar? Eu tô bem pai, não preciso desabafar não - ele me olha com a sobrancelha arqueada, demostrando que não acredita de forma alguma na minha mentira.

— Luara, eu não nasci ontem! Sei identificar de longe quando você não tá bem. O que aconteceu? Conta para o seu pai.

— Tá todo mundo aí dentro? É algum tipo de churrasco ou aniversário de alguém? - tentei mudar de assunto enquanto mexia compulsivamente no rasgão da calça que eu usava.

— Não tente mudar de assunto, mocinha! Me fale agora o que você tem.

— É sério, pai. Tô bem.

— Luara, você é a pessoa que eu mais amo nessa vida e o meu pior pesadelo é um dia ver a minha garotinha sofrer. Você não sabe quanto me magoar te ver assim e não poder fazer nada - olhei no fundo dos seus olhos e comecei a chorar, a chorar como nunca.

Meu pai me abraçou enquanto eu chorava no meio da rua, sem me importar para nada e ninguém. Eu chorava como se fosse uma criança que se machucou enquanto brincava e agora não queria passar o remédio.

Passei uns bons minutos soluçando no ombro do meu pai. Depois de tanto tempo, eu finalmente me senti em casa.

— Quer que eu busque uma água? - meu pai perguntou quando eu já estava bem mais calma. Balancei a cabeça em negativo e tentei secar meu rosto. Pai tirou uma bolada de dinheiro do bolso e colocou nas minhas mãos — Se não quiser falar, tudo bem. Não vou te forçar, só aceite o dinheiro.

— Pai, eu não posso... — ele nem me deixou terminar e se levantou com tudo.

— Nem termine de falar, Luara! Eu sou o seu pai e tenho o direito e o maior prazer de te ajudar com o que você precisar - encarei o chão morrendo de vergonha. Nunca gostei de depender de ninguém, principalmente nesse tipo de situação.

— Obrigada, pai. Prometo que no próximo mês isso não será necessário - me levantei e corri para abraçá-lo. Decidi aceitar dessa vez e será a última! E eu não tinha escolha também, ou aceitava ou aceitava.

— Você não precisa me agradecer, meu amor. Imagino que você não vai querer enfrentar o pessoal hoje, né? - ele apontou para a casa, neguei com a cabeça — Vou buscar a chave do carro para te levar em casa.

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