Cap.9

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André Luiz

    A semana decorreu de forma rotineira, sem grandes novidades. A única exceção foi um breve encontro com Luara logo no começo da semana, além disso, seguiu tranquilamente, sem mais interações com ela.

   É estranho a sensação de ter ela ali tão perto de mim, mas o mesmo tempo tem uma distância enorme entre a gente. Realmente, a amizade que compartilhávamos na infância se desfez, agora, somos dois estranhos, divididos por um abismo invisível que nos separa.

    Dirigia ao longo da rodovia ao som de "Quero Ser Feliz Também" do Natiruts, minha banda preferida, que preenchia o interior do carro com sua melodia que tanto sou apaixonado, quando a minha atenção foi desviada e meus olhos se fixaram numa ruiva que estava no ponto de ônibus.

    Era a Luara, inconfundível entre todas as outras, não existia nenhuma outra ruiva como ela. Alguns fios rebeldes escapavam do seu coque, e em seus olhos, apesar do cansaço visível, transparecia uma felicidade genuína.

    O mundo ao meu redor pareceu congelar quando os meus olhos avistaram ela, e eu não estou brincando. Parei com extrema brutalidade o carro no meio da rodovia, o que provocou uma orquestra de buzinas dos veículos atrás de mim.

    Estacionei o carro rapidamente na frente do ponto de ônibus para evitar mais xingamentos dos motoristas irritados. Ela me lançou um olhar surpreso e se aproximou cautelosamente. Abaixo o vidro do carona.

  — Tudo bem, André? Você quase provocou um acidente agora. - Luara falou com um olhar de preocupação.

— Por que você ainda está aqui? Você sabe que horas são?! Já está tarde! - são quase sete e meia da noite, ela é liberada do trabalho de seis em ponto. Isso não é horário para uma moça como ela está na rua, ainda mais sozinha.

— Estou esperando o meu ônibus, como eu sempre faço todos os dias... - ela fala com uma voz de tédio. Realmente, nossa realidade é totalmente diferente. Eu pensei que o ônibus passava no horário certinho e sem atraso.

— Entra no carro, vou te dar carona. - me inclino e puxo a maçaneta da porta do passageiro.

— Não, não precisa. O ônibus já está chegando. - respiro fundo, sem nenhum pingo de paciência para adular ela. Acho que é mais fácil fazer um alcoólatra parar de beber do que tentar ajudar a Luara em algo.

— Bora, Luara. Entra logo. - vejo ela morder o lábio inferior, refletindo sobre a proposta.

— Eu não quero te incomodar...

— Garota, se você falar mais uma vez essa frase... eu juro que cometo um homicídio! Entra logo.

Ela abre a porta e se senta ao meu lado, respirando aliviada. A ruiva deve tá morta de cansaço depois de ter esperado tanto tempo.

Volto a dirigir em silêncio, não conversamos e nem nos olhamos, só o som do rádio e a nossa respiração preenchendo o carro.

— Você está gostando de trabalhar lá na empresa? - falo depois de muito tempo, tentando quebrar aquele silêncio constrangedor.

— Sim, está sendo a minha salvação. - observo-a pelo canto do olho. Ela é muito linda, isso eu não posso mentir, mas também é extremamente chata e insuportável.

— Fico muito feliz em saber que você está se adaptando tão bem. - ela me olha e sorri sem graça.

Paro na frente do seu prédio totalmente acabado, caindo aos pedaços. Antes de deixá-la sair, escuto a sua barriga roncar alto, demonstrando o quanto ela está morrendo de fome. Ela ri sem graça e tenta disfarçar.

— Desculpa, é que eu só tomei o café da manhã. - fala, meio sem jeito. Me viro para o banco de trás e pego a marmita que está ali em cima, entregando para ela. — O que é isso? - ela observa a embalagem e me olha com uma cara desconfiada.

— É a sua janta.

— Na verdade, essa é a sua janta. Não posso aceitar, você comprou para você, não para mim. - tenta me devolver e eu nego com a cabeça.

— Pode ficar, vou ter um jantar de negócios agora e não vou poder come-la.

— Sério?

— Seríssimo. - ela sorri e me abraça com força. Fico totalmente sem reação com aquele gesto tão repentino.

— Obrigada por tudo! - a ruiva me aperta mais forte, deixado todo o meu corpo quente onde estou sendo tocado por ela. A mesma me solta e sai do carro.

Assim que vejo Luara entra no seu prédio, pego o meu celular e entro no aplicativo de delivery, fazendo um pedido de uma nova janta para mim.

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