Cap.4

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Luara

Não tenho a oportunidade nem de cogitar em ir atrás da dona Carla para pagar o aluguel porque ela já está me esperando na frente da porta do meu apartamento. Como uma lunática maluca, ela toca a campainha sem parar nenhum segundo. Penso em dar meia volta e deixar ela ali me esperando o dia inteiro, mas em uma hora ou outra, eu vou ter que enfrentar a fera e decido que vou enfrentá-la agora.

— Boa tarde, dona Carla - forço o meu melhor sorriso. Ela se vira para me olhar com a sobrancelha erguida e me olha com ódio. Ás vezes, sinto que estou em algum episódio do Chaves no qual eu sou o seu madruga e ela é o senhor barriga.

— A tarde seria muito melhor se você pagasse o aluguel que está atrasado, né? Eu tô avisando, vou te colocar no meio da rua! - entreguei todo o dinheiro que estou devendo antes que o seu sermão de meia hora começasse. Não tava com cabeça nenhuma pra aturar essa mulher hoje.

Ela me olha desconfiada, mas aceita o dinheiro e começa a contar as notas para ver se está tudo certo, e depois verifica se as notas são verdadeiras.

  — Tão nova e já entrou pro meio do crime? - seu olhar é debochado, enquanto ela guardar o dinheiro em seu sutiã.

  — Não entendi a pergunta, dona Carla. Por que a senhora pensa que eu entrei pro crime? - ela revira os olhos de tédio.

  — Você não acha estranho uma quase morada de rua, do nada, vim pagar todo o atrasado certinho? Eu tenho motivos para ter as minhas desconfianças. Se atrasar de novo, vai direto pra rua! - ela não espera a minha resposta e sai.

    Respiro fundo enquanto entro no apartamento. Meu gato vem correndo para as minhas pernas e se esfrega nelas, pego ele no colo e o encho de beijos.

— Oi meu lindo, comprei ração nova - ele mia como se entende.

Encontrei lula em construção abandonada. Enquanto eu voltava para casa de noite, escutei um miado forte quando passei de frente a um local abandonado, era como se ele me chamasse. Ele estava sozinho e quase morrendo de fome. Deu um trabalhão para resgata-lo, mas quando finalmente consegui, ele nunca mais desgrudou de mim.

Assim que coloco ração no seu pratinho, meu celular começa a tocar igual louco. Pensei que ele já estava descarregado uma hora dessa. Olho o visor de chamada e percebo que é a tia Lilian me ligando, atendo na hora.

— Oi tia, a senhora tá bem?

— Oi, meu amor. Estou bem sim. Tô ligando porque tenho uma grande supresa para você! - me jogo no sofá duro, morrendo de cansaço. Da ponta do pé até a minha cabeça dói, faz tempo que eu não cuido de mim.

— Supresa? É boa ou ruim? - roo a minha unha de ansiedade.

— Uma supresa maravilhosa! Consegui um emprego pra você! - me levanto com tudo, chega a minha pressão baixa.

— É sério?!

— Seríssimo! Um emprego maravilhoso que vai te pegar muito bem! - grito de alegria enquanto pulo pelo o apartamento inteiro. Lula nem se abala porque já sabe das loucuras da sua dona.

— Mentira! Onde? Quando posso começar?

— É na empresa do André, ele tava precisando de uma secretária... - ah não, me desanimei na hora. Eu trabalho para todo mundo, até para o papa, mas para o André não!

Eu não sei por qual motivo, razão ou circustância para o André não gostar de mim, só sei que ele me odeia! Odiar é uma palavra fraca para expressar o sentimento que ele sente por mim. Das poucas vezes que a gente conversou, ou ele me deixava totalmente no vácuo ou me olhava com um olhar de puro desprezo e nojo.

Não posso aceitar esse emprego de forma nenhuma, já consigo até imaginar ele me humilhando de todas as formas possíveis. Me imagino naquela novela Coração Indomável quando a vilã Lúcia faz a Maricruz pegar um colar da lama com a boca, a diferença é que o colar vai ser o trabalho, eu vou ser a Maricruz e o André vai ser Lúcia.

— Perdão tia, mas não vou poder aceitar essa oferta. Obrigada pela a ajuda - me deito de novo no sofá, totalmente desanimada para a vida.

— Oxe, me diga por qual motivo você não vai aceitar essa oportunidade? Você vai aceitar sim, Luara! Você precisa desse emprego.

— O André não gosta de mim, tia. Eu não posso obrigá-lo a trabalhar com a pessoa que ele odeia.

— É óbvio que ele gosta de você! Olha, vou te dar 24 horas para você pensar. É uma oferta muito boa para perder por conta de leseira - a campainha toca assim que ela termina de falar.

— Vou pensar e te aviso, tia. Vou ter que desligar, tem gente na porta.

— Tchau, meu amor! Pense com muito carinho! Só existe uma oportunidade dessa na vida - ela desliga e eu corro para abrir a porta.

    Assim que eu abro não consigo acreditar no que os meus olhos estão vendo. Meu primeiro instinto é fechar a porta na cara da pessoa, mas sou impedida quando tento.

— Você? O que você está fazendo aqui?

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