Cap.20

4.3K 385 222
                                    



    Tenho a impressão de que André Luiz não só tem medo de avião, mas como tem um verdadeiro pavor!

    Desde o momento em que pisamos os nossos pés nesse avião, André não parou um segundo. Suas pernas balançam inquietas, os dedos tamborilam no joelho, e ele olha atento a qualquer som, como se cada ruído pudesse ser um sinal de perigo. O desconforto dele é evidente.

    Para mim, é quase inacreditável ver um homem daquele tamanho com medo de avião. Logo ele, que está sempre viajando de avião! E eu, que só ando de ônibus, estou completamente tranquila e ele nessa inquietação toda.

    Para piorar ainda mais o medo daquele homem, nossas passagens foram compradas em cima da hora, e o único voo disponível era no tipo de avião que parecia estar a um fio de cair a qualquer momento. Era praticamente igual àquele do episódio dos Simpsons, 'Fim de Ano do Futuro Passado', que a Maggie, grávida, pega para voltar para casa.

    No meu apartamento, o André só me deu um segundo de paz quando finalmente chegamos ao aeroporto. Ele transformou minha vida em um verdadeiro inferno. Minha mala estava uma bagunça completa, porque ele nem teve a paciência de me deixar dobrar minhas roupas direito.

    Em um dia, estou tendo a pior transa da minha vida, no outro, sou obrigada a suportar o André durante um fim de semana inteiro, sem um minuto de folga. Minha vida parece só desandar.

    Assim que decolamos, sinto a tensão do homem ao meu lado aumentar. Sua perna balança cada vez mais, e ele fixa o olhar à frente, sem coragem de encarar a janela.

  — André? Está tudo bem? — Pergunto, embora esteja bem claro que nada está bem. Na verdade, está tudo péssimo.

    Ele não me responde, apenas mantém o olhar fixo à frente, como se a própria salvação estivesse escondida ali. Se eu pudesse ler seus pensamentos, saberia que ele já está arquitetando algum plano de fuga para o caso do avião cair.

    O silêncio dele me deixa um pouco desconfortável. Tento me distrair olhando para a janela, observando as nuvens que passam, mas não consigo ignorar a tensão quase palpável ao meu lado. André parece uma bomba-relógio prestes a explodir.

    Eu suspiro, observando André cada vez mais absorto em seu próprio desespero. A cada pequena turbulência, ele se encolhe um pouco mais no assento, murmurando algo inaudível para si mesmo. A certa altura, ele começa a pressionar o botão de chamada da comissária com tanta frequência que ela, educada mas já visivelmente impaciente, nos lança um olhar que mistura preocupação e cansaço.

  — Senhor, precisa de mais alguma coisa? — Pergunta ela, esforçando-se para manter a simpatia.

  — Água... e... e um daqueles saquinhos, sabe? Só por precaução. — Responde ele, sem conseguir disfarçar o tremor na voz.

    Ele pega o copo com as duas mãos, como se fosse a última coisa que o mantém preso à realidade, e bebe aos poucos, tentando recuperar o controle. Mas é em vão. Mal a comissária sai, ele olha para mim, com os olhos ligeiramente arregalados.

  — Você viu aquilo? — Pergunta, num sussurro urgente.

  — O quê?

  — A luz da asa. Ela piscou duas vezes. Isso é... normal?

    Eu rio, não resistindo ao absurdo do pânico dele, mas rapidamente disfarço. Decido mudar de estratégia e tentar acalmá-lo de vez.

  — André, você já voou quantas vezes? — Pergunto, mantendo um tom suave.

    Ele me encara, como se a pergunta fosse fora de lugar.

  — Inúmeras, mas isso não significa que eu goste.

Amor LivreOnde histórias criam vida. Descubra agora