Depois

61 8 18
                                    

Maria

Maria realmente tinha o seu jeito de resolver as coisas.

Crescer em uma família contrabandista lhe tornou uma garota diferente de todas as outras. A vida acabou ensinando a ela muitas coisas que uma simples jovem de 17 anos nunca aprenderia. Maria era diferente. Aliás, ela e todos da sua família.

Originados de uma mistura entre México e Brasil, os Santiago começaram a empreender no ramo das drogas e do contrabando de mercadorias assim que pisaram na América do Norte. No início, nos anos 80, os avós de Maria conseguiram uma boa quantidade de dinheiro para construir uma casa que também servisse de base para todo o esquema. Uma casa que fosse discreta e acessível a quem quisesse entrar no ramo.

Com o ofício, muitos acabaram sendo descobertos e presos, e até mortos por policiais e gangues rivais. No início dos anos 90, apesar das perdas, os Santiago continuavam em alta no sigiloso mercado de drogas de Nova York, e a família só crescia. Uma verdadeira máfia. Uma máfia que começou a ser visada por outros bandidos, e também pelos policiais.

Cristina Santiago havia conhecido Joseph quando ele começou a vender as drogas de sua família. Ele surgiu com um plano de expandir o mercado para além de Nova York, chegando a Nova Jersey e Connecticut, e depois outras cidades maiores. Depois de um tempo namorando, finalmente casaram e Joseph virou um Santiago. Eles tiveram logo em seguida, sua primeira filha : Carla. Maria veio logo em seguida.

O nome de Maria tinha sido escolhido pela matriarca da família, que era brasileira e também muito religiosa. A menina cresceu no meio de todo o negócio da família, agora já comandado pela mãe e pelos tios, principalmente pela tia, Flora Santiago. Porém, em uma noite após seu pai sair para negociar com uns vendedores em Long Island, os Santiago receberam a notícia que Joseph havia sido morto a tiros por uma gangue rival.

Ossos do ofício.

Foi bem traumatizante para Maria. Mas sua mãe a criou para ser uma mulher forte, suas palavras ecoavam na cabeça de menina : "Precisa ser forte, Maria. Vivemos em um mundo perigoso, fazemos coisas perigosas. Um dia ou outro, você pode chegar em casa e encontrar todos nós mortos na sala.". Ela não tinha outra opção além de seguir em frente.

Quando Maria completou 16 anos, invés de uma festa tradicional, ela recebeu a benção da avó e da mãe para começar a trabalhar nos negócios da família. E lá estava ela, aprendendo a administrar o dinheiro ao lado de sua irmã, Carla. Porém bem antes disso, ela começou a aprender a manejar uma arma de fogo ao lado de seus primos.

- Precisa saber se proteger, Maria. – dizia Cristina Santiago, sua mãe. – Nunca deixe um homem tirar vantagem de você. Não te criei pra virar empregada de homem algum.

Com o tempo, Maria foi criando contatos além de sua família, e assim ajudando nos negócios. Negociar era bem fácil para ela, ela tinha uma boa lábia com qualquer tipo de pessoa, e isso também ajudou sua família a se livrar de algumas enrascadas.

Os Santiago eram mestres em manter segredo sobre seu negócio. Eles criaram suas crianças de forma humilde, estudando em escolas públicas e sem esbanjar os lucros que possuíam. Eles não eram ricos o suficiente para bancar uma escola Harper para todos, mas também não eram tão pobres como aparentavam ser.

O momento em que Maria foi selecionada para estudar na Harper, foi um dos momentos mais felizes de sua vida. Ela gostava de administrar os negócios da família, mas ela tinha outros planos em mente. Não queria terminar como seu pai. Queria mudar de vida, estudar fora, ter um bom emprego e no futuro, criar seus filhos bem longe dali.

- Você conseguiu essa bolsa. Mas não mude a sua essência, Maria. – disse Cristina Santiago, sua mãe, na noite após o sorteio. – Seu futuro é aqui conosco. Você é o futuro dos Santiago.

The Black ListOnde histórias criam vida. Descubra agora