❝essa é uma oração para que o amanhã
me ajude a deixar o passado para trás❞(esse capítulo contém abuso psicológico, cuidado!)
MADELEINE COLOCOU a mala vermelha em cima de sua cama com violência, secando as lágrimas que caiam cada vez mais rápido de seus olhos, tentando manter sua visão intacta enquanto jogava o máximo de roupas que podia dentro da mala; ela corria de um lado para o outro no quarto, o som de seus saltos ressoando em seu ouvidos enquanto ela murmurava a letra de "I Don't Want to Miss a Thing" do Aerosmith, a música que seu pai costumava cantar para que ela dormisse quando era criança. Quando ela se cansou do movimento repetitivo, a morena se permitiu sentar na cama ao lado da mala, seus olhos vagando pelo quarto enquanto ela tentava decidir o que mais levaria daquela casa; quando seus olhos bateram no quadro na cômoda ao lado da cama, ela sentiu uma enxurrada de sentimentos lhe tomarem — sentimentos ruins, em sua maioria.
Por um momento, ela se arrependeu do que estava fazendo — não do que estava fazendo, da maneira como estava fazendo aquilo. Não lhe parecia certo que, depois de anos de relacionamento, ela apenas fosse deixar uma carta para ele e, então, partir sem olhar para trás, sem lhe dar maiores explicações. Ele merecia mais que isso.
Brandon merecia mais que isso. Ele merecia um fechamento, um término digno; e, no fundo de seu coração, ela sabia que ela merecia isso também.
Mas ela também sabia que, se esperasse que ele voltasse para casa para poder ir embora, ela não iria. Já havia tentado tantas vezes — mais do que ela poderia contar — e no fim das contas o resultado era sempre o mesmo: ele lhe pediria desculpas, lhe faria promessas vazias de mudança e ela não iria embora; e então o ciclo vicioso começaria todo de novo.
A traição viria primeiro; Brandon iria até um bar qualquer e dormiria com uma mulher que ele sequer conhecia. Quando voltasse para casa na manhã seguinte, pediria perdão e justificaria todo o problema culpando Madeleine — ela não lhe dava o que ele queria; se ao menos ela o tratasse melhor; ela não deveria trabalhar tanto assim, deveria lhe dar um pouco mais de atenção. Desculpas esfarrapadas, mas que viriam como facas direto no coração de Madeleine; palavras simples, mas capazes de fazer com que a mulher chorasse a noite inteira em sua cama, enquanto ele encontrava outra mulher com quem passar a noite.
Depois, viriam as discussões; esse ainda era o primeiro passo, apenas palavras seriam usadas — palavras pesadas demais para serem descritas. As discussões durariam horas, até que algum vizinho resolvesse chamar a polícia por causa da perturbação e Madeleine deixasse a casa para ir até o apartamento de Jade, onde ela passaria a noite inteira chorando no colo da melhor amiga enquanto a mesma tentava lhe fazer sentir melhor — apenas para que ela voltasse para casa e Brandon gritasse com ela novamente, querendo saber onde ela estava.
Normalmente era nesse momento que os dois avançavam para o terceiro passo — a agressão física; no calor do momento, Madeleine diria algo que Brandon não queria ouvir, algo que seria capaz de tirá-lo do sério mais do que ela esperava que aconteceria. Nervoso, Brandon levantaria a mão e a veria se encolher, fugindo de seu toque agressivo; ele permaneceria nessa posição por alguns momentos, olhando para ela de cima enquanto esperava que ela olhasse para ele, seus olhos verdes mostrando o quão assustada ela estava — o quão abalada ela estava. Naquele momento — os fugazes momentos antes da agressão — Madeleine notaria duas coisas: a primeira coisa seria o fato de que ela não queria aquela vida para si; ela sentiria no fundo de seu coração o quanto queria sair daquela situação, o quanto queria não se sentir impotente, o quanto não merecia aquela vida — ninguém merecia.
A segunda coisa, aquela que ela caracterizava como mais assustadora, ela notaria ao colar seu olhar no de Brandon — um momento muito rápido e praticamente impossível de ser notado, mas que ela já havia vivido tantas vezes que ela havia aprendido a interpretar; o brilho de prazer que passava nos olhos de Brandon quando ele a via naquela posição, com medo dele. O quanto ele gostava do que estava fazendo.
E a última coisa que Madeleine veria antes do golpe seria um pequeno sorriso no canto dos lábios dele, que duraria até que os gritos dela ficassem altos o suficiente para, mais uma vez, incomodar os vizinhos; então ele se abaixaria ao lado dela, a abraçaria forte e com sua voz mais doce e calma ele pediria perdão, culpando a bebida pelo seu ato violento. Depois, quando já estivesse sóbrio, ele provavelmente sentaria à mesa e esperaria que Madeleine lhe servisse o jantar — e então começaria a culpá-la pelo evento, dizendo que nada daquilo teria acontecido se ela não tivesse passado a noite fora de casa.
Essas conversas haviam se repetido tantas vezes que ela já havia conseguido decorar as palavras com perfeição, sequer prestava atenção nelas; Madeleine acreditava que conseguia aguentar isso — só precisaria ouvir mais uma vez e ela iria embora, esse era o plano. Mas então ela ficava; e ficava; e ficava. Até o dia em que alguém a salvou.
Jade havia sido esse alguém. Madeleine havia a convidado para jantar em sua casa uma noite, quando pensou que Brandon passaria a noite inteira no bar, ou com alguma outra mulher; naquela noite, o homem chegou furioso em sua casa, nervoso por ter perdido seu emprego e mais bêbado que o de costume. Naquela noite, Brandon bateu em Madeleine; e naquela noite, pela primeira vez, alguém foi testemunha ocular do ato — Jade, que havia entrado na casa ao ouvir os gritos da melhor amiga.
Jade foi a primeira pessoa a saber a verdade sobre o relacionamento de Madeleine e Brandon; foi ela quem explicou — usando todo seu conhecimento de psicologia — que Madeleine estava em um relacionamento abusivo, e que ela precisava sair dele; e foi Jade quem deu apoio incondicional à Madeleine, incentivando-a a ligar para seu irmão e pedir para passar um tempo morando com ele em Nova York, onde ela provavelmente se sentiria bem mais segura do que estava na Austrália. E, quando Madeleine resolveu deixar a Oceania, foi Jade quem se ofereceu para retornar à América do Norte junto com a melhor amiga, mesmo que sua vida estivesse completamente feita na Austrália.
Por Jade, Madeleine não poderia desistir da vida que poderia criar nos Estados Unidos; ela a havia salvado, incentivado e havia desistido de tudo por ela. Mas, acima de tudo, Madeleine não poderia desistir por si mesma — pelo futuro que ela poderia ter, pelo futuro que ela merecia ter.
E foi com esse pensamento que ela secou suas lágrimas, levantou de sua cama e voltou a arrumar suas coisas em sua mala. Não pegou mais do que o necessário — ela havia deixado várias de suas coisas na casa de seu irmão da última vez que o visitara, e o que faltasse ela poderia comprar lá — e, assim que se sentiu completamente pronta, caminhou lentamente em direção à porta de seu quarto, virando-se por um momento para observar o cômodo pela última vez; ela se manteve naquela posição por um tempo, até que sentiu seu coração se apertar mais uma vez quando seus olhos bateram na foto novamente — foi naquele momento que ela soube que precisava partir, ou não deixaria aquele local nunca mais.
Respirando fundo, a morena fechou a porta de seu quarto e virou-se na direção do corredor, onde Jade a encarava com um pequeno sorriso no rosto, as duas mãos nos bolsos do sobretudo que usava; Madeleine caminhou até a melhor amiga lentamente e agradeceu quando a mesma tirou a mala de sua mão, caminhando na direção do carro preto estacionado na frente da casa, onde colocou a mala no banco traseiro antes de dar a volta no veículo para entrar no banco do motorista.
Pela última vez, Madeleine olhou para a sala da casa onde havia morado nos últimos anos, sentindo-se saudosa ao se lembrar do quão feliz estava no dia em que a comprou; pela última vez, a morena apagou as luzes da casa e fechou a porta, trancando-a tão devagar quanto podia, na esperança de guardar consigo as poucas boas lembranças que tinha do local; pela última vez, ela olhou para os dois lados da calçada antes de descer as escadas devagar, inclinando-se ao chegar perto da porta do veículo e abri-la.
E, quando olhou para frente, ela viu Brandon no fim da rua, olhando fixamente para ela, suas feições assustadas — e quando ela o viu impulsionar o corpo para frente, ela imediatamente entrou no carro e fechou a porta, fechando os olhos com força enquanto sentia o veículo começar a se mover para longe do homem, enquanto os gritos dele entravam em seus ouvidos. E ele gritava pelo seu nome.
Aquela foi a última vez que Madeleine Kane viu o rosto de Brandon Rollins. E aquele dia — aquela tarde de terça-feira — marcou o início de uma vida nova para Madeleine.
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Back To Your Heart | Backstreet Boys
FanfictionAlgumas coisas simplesmente não são para ser, e algumas pessoas sabem disso melhor que outras; nos últimos seis meses, Kevin Richardson havia entrado nesse grupo seleto de pessoas. Após passar quase vinte anos em um casamento mais do que perfeito co...