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- Então, o que achou dessa parte? – Cory sorri para mim.
O desgraçado é lindo. Não só fisicamente, embora os olhos como selva, as covinhas e o cabelo loiro sejam um indicativo disso. Mas ele também tem uma voz incrível. Uma voz daquelas que te deixam sem fala e você consegue sentir isso nos ossos, embora não entenda nenhuma palavra do que ele canta.
- Você sabe que eu não falo francês né? – digo.
- Você tem a tradução nas mãos, boba. – ele ri.
De fato, eu tenho mesmo. Olho para o papel em minhas mãos, o papel que eu ignorei assim que ele começou a cantar. É difícil me concentrar em qualquer coisa que não seja a voz dele e o jeito como ele fica com um violão na mão, não é minha culpa.
- Quer que eu cante de novo? Você parece distraída.
Ah, ele não faz ideia. Ele não tem ideia de como é lindo e de como poderia conseguir o mundo. Tendo esses olhos, esse sorriso e essa voz, ele deveria ser o tipo de cara arrogante que sabe que tem o mundo aos seus pés. Mas ele não tem consciência desse fato. Ele se acha normal. Bufo mentalmente. Como se Cory Edwards pudesse ser normal. Ele é um maldito semi-deus, isso sim.
- Hannah? – ele puxa uma mecha do meu cabelo.
- Desculpe. – murmuro voltando ao presente. – Canta de novo.
Ele começa a melodia outra vez e canta a música. Eu conheço o começo, já decorei. Cory está escrevendo essa música há uma semana, mas vive mudando o verso final. Me obrigo a encarar o papel onde ele escreveu o novo e não me distrair outra vez com sua voz. É difícil, mas acabo conseguindo. Não houve muitas alterações desde a última versão. O verso era "e tem um visgo acima de nós/e nós estamos dançando/tudo o que eu mais quero é beijar você/não quero essa noite acabe" e ele trocou para "e tem um visgo acima de nós/e tudo o que mais quero é beija você/você está rindo enquanto dançamos/e eu não quero que isso acabe".
- Gosto mais do primeiro, mas soa melhor quando você canta o segundo. – dou de ombros e me jogo na cama dele.
Ele guarda o violão e se joga ao meu lado. Meu coração dá o mesmo baque de sempre quando ele pega minha mão e entrelaça os dedos nos dele com um suspiro. Nós somos amigos desde sempre. Eu juro que não consigo me lembrar de nenhum momento da minha vida em que não estivemos juntos, inclusive quando eu nasci já que temos a mesma data de aniversário e nascemos no mesmo hospital. Nossas mães não estavam juntas obviamente, elas nem se conheciam, mas eu gosto de pensar que eu já nasci ao lado dele e ele do meu. Um não existe sem o outro e esse tipo de coisa. Quando eu não estou aqui na casa dele, ele está na minha. E nós estamos o tempo todo juntos. Bem, até agora pelo visto. Ele vai embora na próxima semana. Faculdade.
