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Coço meus olhos e suspiro quando entro no elevador no último andar

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Coço meus olhos e suspiro quando entro no elevador no último andar. Quatro andares depois ele já está cheio e o silêncio constrangedor quase me faz ter preferido ir de escada, apesar dos vinte andares do meu apartamento até o térreo.

Penso em Reed e meus dedos tremem e a vontade de suspirar ficar ainda maior. Eu trabalho com ele há anos e ele é responsável por cuidar da minha imagem de astro de rock, garantir que eu cumpra os compromissos e basicamente não me deixar fazer merda. E eu também me relaciono com ele há todo esse tempo.

Começou como um deslize. O primeiro single da Nevam tinha acabado de emplacar na rádio e nós ficamos bêbados. Eu, Reed e a banda. E no dia seguinte, acordei na cama dele e aí alguns dias depois isso se repetiu e desde então é onde tenho ficado. Normalmente as pessoas dizem que misturar negócios com prazer dá errado, mas funciona para nós dois. Nós dormimos juntos todos os dias (e eu estou falando de realmente só dormir algumas vezes); eu sempre vou as reuniões de família dele apesar dos comentários do pai dele sobre minhas tatuagens; e nós dizemos que nos amamos praticamente todos os dias. O único problema disso é que ninguém sabe. Nem a banda, embora eles desconfiem porque não são burros.

Ninguém sabe que eu sou gay. Reed não foi meu primeiro, mas ninguém prestava muita atenção em mim antes para reparar que eu nunca ficava com uma mulher. Eu também nunca fui de namorar, então nunca apresentei um cara há ninguém, nunca me deu vontade. Até agora.

Reed diz que não vai fazer bem para minha imagem, mas eu realmente não entendo o que minha opção sexual tem a ver. Pessoas são gays, superem isso! Por que raios eu não posso andar de mãos dadas com ele ou responder o nome dele quando me perguntarem para quem eu escrevi aquela balada? Mas todas as vezes que eu comentei sobre me assumir, ele não deixou. Disse que eu precisava passar a imagem do que era esperado de mim, do colecionador de calcinhas que o vocalista da maior banda de rock do país deveria ser, do que os fãs queriam que eu fosse. Nessas horas, eu odiava meus fãs. Mas Reed sempre sabe o que fazer e ele sempre está certo.

E chega a até ser engraçado a censura sobre eu não poder contar ao mundo que eu gosto de homens, pois Reed é assumido. Todos sabem que ele é gay. A banda, a família dele, até mesmo a porra da mídia. Só eu preciso me esconder atrás de um segredo que me consome cada dia mais.

Estou inquieto o caminho inteiro no carro até o estúdio e mais inquieto ainda na sessão de fotos. Se Reed estivesse aqui estaríamos rindo e fazendo graça de alguma coisa, mas hoje meu tempo é exclusivamente deles. Reed foi cedo para o estúdio do canal onde temos uma entrevista mais tarde.

- Você está bem? – a modelo que faz par comigo me pergunta quando terminamos as fotos algumas horas depois.

- Claro. – minha resposta é curta, diferente do charme que eu sempre jogo.

- Parece que vai passar mal. – ela suspira quando eu nego com a cabeça. – Mas eu queria te pedir uma coisa, de qualquer forma.

Levanto a sobrancelha. Não estou muito afim de conversar hoje.

- Passa meu número pro seu assessor. Reed, né?

- Por que diabos eu faria isso, Charlotte?

Ela me dá um meio sorriso, daqueles sensuais e cheios de segundas intenções e meu estômago se contorce.

- Porque ele é gostoso e eu quero saber se ele é melhor que você. Na cama, no caso.

Meu rosto não faz muita coisa para disfarçar a vontade de vomitar. Não só pelo interesse dela em Reed, mas também porque a única coisa que eu me lembro dessa noite é o viagra e a garrafa de uísque que tomei antes de leva-la para um quarto.

- Você sabe que ele é gay, não sabe? – todo mundo sabia, mas não custa perguntar.

- E daí? – ela dá de ombros e prende uma mecha do cabelo claro atrás da orelha. – Você também é e dormiu comigo, né?

Meu coração para de bater. Como diabos ela sabe disso?

- Ah, por favor, Caleb, não precisa ficar tão chocado. – ela ri e revira os olhos. – Você tinha uma expressão de nojo toda vez que me olhava e eu vi que precisou de um remédio para ir para cama comigo. Eu ainda tive que fazer todo o trabalho.

- Por que caralhos continuou lá se sabia disso? – eu quero gritar, mas mantenho minha voz baixa.

- Você é bonito e embora você saia com milhões de garotas e tente fazer a mídia acreditar que tem uma delas em sua cama toda noite, é muito difícil achar alguém que realmente tenha dormido com você e não só ido a uma festa ou um encontro. – ela suspira. – Mulheres conversam, e elas te acham seletivo, então quando você realmente dorme com alguém, é uma coisa e tanto para se gabar entre elas.

Tento acompanhar suas palavras, mas minha cabeça está girando. Talvez Reed não esteja sempre certo afinal já que sempre comentou que ninguém ia reparar se eu apenas saísse com modelos e atrizes diferentes todos os dias possíveis. Eu ainda me obrigava a dormir com uma ou outra, apenas por "precaução", em espaços longos de tempo já que isso me deixava destruído e usado durante três semanas. Mas Reed errou. Alguém tinha reparado isso.

- Não se preocupe, Cal, não contei a ninguém nem pretendo. – ela me dá um beijo na bochecha. – Mas não esqueça de falar com ele sobre mim, ok? Talvez até possamos fazer algo juntos, nós três. – ela pisca antes de sair do camarim que estávamos usando e me deixar sozinho.

Vomito na lata de lixo assim que ela sai.

Eu não aguento mais isso, digo para o meu reflexo, as mentiras, o sexo drogado, esconder quem eu sou e quem eu amo. E talvez seja o destino pois chega uma mensagem de Reed no mesmo instante. "Entrevista ás 19h, o carro vai te buscar ás 17h. Não se atrase. Amo você."

Encaro as últimas palavras que ele escreveu, a declaração, antes de erguer meus olhos de volta ao meu reflexo. De alguma forma, ele sorri para mim e sabe o que fazer.

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