Capítulo 47

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Any: ela sentia que ninguém gostava dela e devia perceber que era pela aparência. Os cachorros são muito inteligentes, eles sabem.

Poncho (franze o cenho): pela aparência?? O que ela tinha de diferente?

Any: além da heterocromia ela tinha sarna sarcóptica. Os veterinários da ONG estavam tratando e o adotante deveria continuar com o tratamento que logo ela iria ficar boa. Mas ela quase não tinha pêlo e a aparência dela fazia com que as pessoas facilmente lhe dessem as costas.

Poncho: mas é uma doença comum nos cães ainda mais nos de rua. Ela só precisava seguir o tratamento.

Any: sim, logo ela iria ficar boa. Os veterinários explicaram isso e explicaram também sobre a heterocromia. Você sabe que ela enxerga tão bem quanto qualquer outro animal né?

Poncho: sim, eu já li sobre isso uma vez. É só uma anomalia genética, mas não afeta a visão.

Any (sorri): sim, mas muita gente achava que ela era cega de um olho – maneia a cabeça – isso também foi um contra pra ela.

Poncho: nem recebendo as informações as pessoas quiseram ela?

Any: no dia da feira não – dá mais um gole na água.

Poncho: e o que aconteceu?

Any: ela voltou pro abrigo no domingo. Eu lembro que não consegui dormir naquele dia, só pensava nela. Eu só conseguia lembrar da tristeza, do olhar dela encolhida num cantinho – volta a limpar as lágrimas – aí eu liguei na segunda pra saber dela e o Bryce me disse que uma família tinha voltado e levado ela pela manhã.

Poncho (surpreso): como assim?

Any: sim, mas ela não se adaptou. Ficou uma semana com eles e foi devolvida. Eles não estavam preparados pra ela.

Poncho: claro que não. Ela não era deles, ela era sua.

Any: era – funga – desculpa, eu sempre choro quando lembro da nossa história – ri limpando as lágrimas que desciam incessantemente.

Poncho (sorri): tá tudo bem – tira um lenço do bolso da calça e lhe entrega.

Any: obrigada – limpa as lágrimas com o lenço – o Bryce e a Eileen notaram o quanto eu tinha ficado balançada com ela. Eu liguei todos os dias daquela semana pra saber dela. Meu coração dizia que eu precisava ligar, que ela precisava de mim e eu ligava – ri fungando.

Poncho: e o que aconteceu quando ela voltou?

Any: a Eileen me ligou avisando do que tinha acontecido. Ela não falou nada demais na ligação, só disse: Any, ela voltou. Ela sabia qual seria minha resposta – ri.

Poncho: você foi buscar ela.

Any: na mesma hora – riem – Larguei tudo e fui correndo – funga – tive que passar pelo teste deles, mas foi mais uma burocracia porque eles sabiam o quanto eu queria ela e quanto eu tava pronta pra receber ela na minha vida.

Poncho: e seus pais?

Any: não faziam ideia – voltam a rir – eles sabiam que eu tinha ficado abalada, mas não esperavam que eu ia trazer ela pra casa ainda mais depois de ter contado que uma família já tinha adotado.

Poncho: mas eles gostaram?

Any: amaram – sorri – receberam ela de braços abertos. Não estava nos nossos planos, mas ela foi bem-vinda desde o primeiro minuto.

Poncho: e ela se adaptou?

Any: não, demorou bastante. Acho que ela tava esperando eu desistir e devolver ela... não sei.

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