Capítulo 1 - Marina

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– Élida, recolha essas assinaturas com os executivos de vendas, por favor. – Pedi para a minha assistente.

– Pode deixar, chefe! – Ela respondeu prontamente.

Assim que ela saiu da sala, percebi que havia esquecido o documento de reembolso de um dos executivos. Me levantei da minha cadeira para avistar Élida, mas ela já estava virando para o corredor que leva para o departamento comercial. Eu precisava fechar os reembolsos ainda hoje, então me levantei e fui até o outro departamento.

– Boa tarde, Marina. – Manuel, estagiário de vendas me cumprimentou.

– Boa tarde, Manuel. O seu chefe está na sala dele?

– Está sim, pode bater.

Dei duas batidinhas e ouvi a permissão para entrar.

– Com licença, Fernando, preciso de algumas assinaturas suas dos reembolsos deste mês.

Fernando que digitava freneticamente levantou os olhos para mim e assentiu.

– Só um minuto. Estou finalizando esse e-mail e se eu parar agora, vou perder o fio da meada.

– Está bem. – Respondi e continuei de pé diante da mesa dele.

– Pode se sentar. Serei rápido, mas não precisa esperar em pé.

Sorri e me sentei na cadeira diante da mesa dele.

Olhei ao redor da sala para não ficar com o rosto focado na mesa dele. Reparei em alguns porta retratos no móvel atrás da cadeira dele, um que fica junto à janela. Na foto tinham duas meninas. Uma banguela e a outra muito pequena. Adorei aquela imagem, me fez lembrar de mim e da minha irmã mais nova quando tínhamos aquela idade. Acabei sorrindo sem perceber e quando levantei os olhos, Fernando me olhava com a testa franzida. Ele abaixou o rosto e voltou a digitar. Olhei para o teto e percebi que tinha uma lâmpada prestes a queimar. Fiz uma nota mental para pedir para o José da manutenção dar uma olhada na manhã seguinte, e para não esquecer tirei o celular do bolso do meu blazer e adicionei a nota na minha agenda.

– Pronto. Quais são os documentos? – Ele falou me fazendo levantar os olhos e explicar o que eu estava fazendo.

– Sim. Eu só estou fazendo uma anotação para trocarem aquela lâmpada que está prestes a queimar.

Fernando olhou para a lâmpada em questão e perguntou:

– Como você sabe?

– Ela está ficando escura. – Respondi terminando de fazer a nota e guardei o celular novamente. – Bom, esses são os recibos de reembolsos entregues pela equipe comercial durante esse mês. – Coloquei a pasta transparente sobre a mesa.

– Você já viu se estão de acordo?

– Sim. Estão todos dentro da data.

Fernando pegou os papéis e fez questão de olhar um por um, me deixando levemente irritada, pois esse foi um serviço que a Élida já tinha feito.

– É, estão em ordem sim. – Ele falou e assinou a folha de rosto do relatório e me entregando a pasta em seguida.

– Obrigada. – Peguei a pasta e me levantei.

– Eu preciso de mais cartões de visita. – Ele pediu assim que eu me virei.

– Claro. Você pode passar as informações para a Denise que ela me encaminha os pedidos do departamento. – Respondi mantendo o tom cordial, porém estava em brasas por dentro.

– Ah, sim. Está bem.

Não que eu tenha algum problema em fazer o meu trabalho, pelo contrário, adoro o meu trabalho, mas existe uma coisa chamada hierarquia. Eu sou gerente do departamento administrativo e me reporto diretamente para o diretor financeiro da empresa. Eu cuido de um departamento com mais ou menos dez pessoas, essas pessoas têm suas funções muito bem definidas, e no manual da empresa está bonitinho o passo a passo de o que pedir para quem, mas alguns executivos, principalmente os do departamento comercial, insistem em me deixar de cabelo em pé ao pedir diretamente para mim coisas que outras pessoas são designadas para fazer, como se eu não fosse uma pessoa ocupada.

Eu sou o motor que faz aquele escritório funcionar. Uma lâmpada que queima. Uma máquina que para de funcionar. Um cartão de crédito que é clonado. Todas as despesas da companhia. Essas e muitas outras coisas passam pelas minhas mãos. Minha equipe faz e me reporta e eu preciso ter tudo em ordem para a prestação de contas.

Atravessei o departamento comercial sentindo o rosto quente.

– Marina, você vai na convenção no próximo mês? – Ouvi ao ser interceptada por Iago, outro executivo.

Me virei com o meu melhor sorriso e respondi:

– Ainda não sei. Nós vamos sair daqui na sexta à tarde e sabe como é a sexta-feira no meu departamento.

– Ah, todos sabemos que a Élida é muito capaz de fazer esse trabalho. – Ele comentou com um sorriso aberto.

Iago é o homem mais bonito do escritório, daquele tipo que anda pelos corredores fazendo todas as mulheres de todos os departamentos suspirarem. Ele é alto e forte e os seus ternos sob medida sempre deixam evidentes aqueles braços musculosos. Ele tem os cabelos claros e bem curtos, a pele de aparência saudável está sempre bronzeada e eu particularmente acho aquelas mãos grandes e cheias de veias uma tentação.

– Fale com ela, vai. Vamos nos divertir. Nós como líderes merecemos um momento de descontração.

Essa será uma convenção de líderes e todos os executivos, gerentes e diretores participarão. Eu evito ao máximo participar desses eventos empresariais. No dia a dia é fácil a convivência, mas duas noites em um resort cercada por colegas de trabalho parece demais para mim. Nos cinco anos em que estou nessa empresa só fui em um desses eventos, no meu primeiro ano, quando eu ainda era casada com o Wash, meu ex.

– Vou falar com ela. – Respondi.

– Perfeito! – Ele comemorou.

Voltei para a minha mesa e Élida já estava em seu posto com todos os documentos assinados.

– Onde você estava? – Ela perguntou.

– Eu tinha esquecido um documento e quando fui te procurar, você já estava do outro lado do escritório, então tive que levá-lo para o Fernando Sousa assinar.

– Nossa. Ele é tão esquisito. – Élida cochichou.

– Por quê? – Perguntei cheia de curiosidade.

– Ele é inconveniente, ele sempre pede tudo para qualquer pessoa. Parece que passou longe do manual da empresa. Isso porque ele já trabalha aqui há mais de quinze anos.

– É mesmo? Como você sabe de tudo isso?

– Ah, eu saio para almoçar com a Denise de vez em quando.

Denise é a secretária do Fernando. Ela é um amor de menina, está sempre sorrindo para todos.

– Ela disse que ele ficou muito estranho depois que se divorciou. Bom, são os boatos que rolam por aí, pois todo mundo que está aqui hoje chegou bem depois dele, e ninguém sabe na verdade o que aconteceu. – Minha assistente comentou com os olhões arregalados.

– Que feio. A gente com um monte de coisas para fazer e estamos aqui fazendo fofocas. – Comentei e ela riu.

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