Capítulo 4 - Fernando

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– Bom dia, papai. Que cara é essa? – Jéssica perguntou assim que me encontrou na cozinha terminando de preparar o café da manhã delas.

– Como assim que cara é essa?

– O senhor está sorrindo. E vê-lo sorrir logo de manhã é assustador.

– O papai fica lindo sorrindo. – Talita veio em minha defesa.

– Está vendo? Alguém me acha bonito nessa casa.

– Não te chamei de feio, só falei que é assustador ver essa alegria logo cedo.

– É que o papai teve uma boa noite de sono.

Muito boa mesmo, tenho que assumir. Fui dormir tranquilo e relaxado. Eu não falava com alguém além dos limites da minha casa há muito tempo, e por mais que eu estivesse usando o nome do meu irmão, o restante era eu, cem por cento eu.

– Jéssica, você já ouviu falar da banda Glass Animals?

– Não mesmo. – Ela me olhou com aquela cara retorcida típica de adolescentes achando que os pais enlouqueceram. – Desde quando o senhor gosta de bandas?

– Eu sempre gostei de bandas. – Me defendi.

– Não, o senhor gosta de hip hop.

– Tá bom, eu também gosto de hip hop, mas tive minha fase de rock.

– O papai já foi cabeludo? – Talita pergunta saltitante.

– Não. – Respondi lembrando de como eu era quando mais jovem.

– O senhor se parecia com o tio Felipe? – Jéssica perguntou.

– Sim. Ele é idêntico a mim.

Foi o que me deixou mais tranquilo sobre a mentira que contei para a Marina. Se alguém olhar uma foto minha aos vinte anos eu sou praticamente o mesmo cara das fotos do aplicativo de namoro.

Jéssica ficou me encarando por um bom tempo.

– O que foi? – Perguntei.

– Quer uma ajuda para se arrumar para o trabalho? – Ela perguntou com uma cara de sabe-tudo.

– O que você pode fazer por mim?

– Não sei. Talvez escolher uma gravata mais moderna, te mostrar algum penteado que não te deixe com cara de tio.

– Eu não tenho cara de tio.

– Quando está arrumando, não, mas quando vai trabalhar, sim.

– É sério?

– É sim, pai. O senhor vai trabalhar muito sem graça. E se eu fosse você, eu não tiraria a barba, ela te deixa com cara de homem.

Arregalei os olhos para a minha filha mais velha.

– Que papo é esse? Desde quando você sabe o que é cara de homem.

– Pai, eu já tenho quase quinze anos, se o senhor não percebeu. Eu já tenho meu ciclo há quase dois anos.

– Meu Deus, quando tudo ficou tão difícil? – Perguntei olhando para o teto.

– Vamos logo escolher sua gravata senão eu vou me atrasar para a aula.

Corremos para o meu quarto e as minhas filhas pareciam em festa. Talita pulava na cama enquanto Jéssica se sentia a expert em estilo.

– Olha, usa uma camisa preta com essa gravata cinza, vai ficar muito charmoso. E não deixa esse cabelo de lado, passa mousse e arruma ele para cima. Seu rosto é muito bonito para ficar escondido.

Amando NovamenteOnde histórias criam vida. Descubra agora