Capítulo 19 - Marina

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Quando Washington e eu nos separamos, a primeira coisa que eu pensei foi: eu nunca serei mãe. Eu imaginei que seria muito difícil conhecer alguém, me apaixonar, casar e ter filhos, então o instinto materno foi guardado a sete chaves dentro da minha mente. Até que uma menininha de oito anos de idade simplesmente ativou a minha amígdala, me fazendo entrar em estado de alerta máximo ao cair rolando da escada.

Eu não sei ao certo o que aconteceu, mas acho que Talita pisou na barra da calça do pijama e rolou de escada abaixo. Foi como se tudo tivesse desaparecido da minha frente. Meu corpo saltou para a frente e eu não sei como eu fiz, mas quando dei por mim ela estava nos meus braços e minhas costas estavam contra a parede.

– Pronto, pronto, eu te peguei. – Eu falei a acalmando.

O choro de Talita me deixou em alerta.

– Temos que levá-la para o hospital. – Eu gritei para Fernando que estava parado em choque no alto da escada.

Aos poucos ele se moveu e veio ao nosso encontro.

– Está tudo bem, meu amor, eu te peguei. – Falei para a pequena em meus braços.

Talita levantou o rostinho para mim e sorriu.

– Você me salvou. – Ela falou entre fungadas.

– Você se machucou? – Perguntei.

– Não. Não dói nada. – Ela disse agora sem chorar. – Acho que eu me assustei.

– Que bom, graças a Deus. – Murmurei e Fernando a ajudou a se levantar.

Em seguida ele estava ajoelhado ao meu lado.

– Você está bem? Você bateu as costas e a cabeça. – Ele perguntou cheio de preocupação.

– Eu estou bem.

– Como você fez aquilo? – Ele perguntou.

– Aquilo o quê?

– Você pegou a Talita no ar antes que ela se chocasse com o chão.

– Peguei? – Perguntei confusa sentindo o corpo esfriar e minhas costas latejarem.

– Pegou. Vem, deixa eu te ajudar.

Com muito cuidado ele me ajudou a ficar em pé. Jéssica me olhava com os olhos arregalados e cheios de lágrimas. Fernando me levou para o sofá e assim que eu me sentei a mais velha se jogou em meus braços e me apertou forte.

– Obrigada. Você salvou a minha irmã.

– Está tudo bem, estamos todas bem. – A acalmei. – O que vocês acham de comermos antes que a pizza fique fria?

Talita correu animada para a sala de jantar, mas Jéssica não me soltou.

– Por favor, não chore, está tudo bem. – Eu acariciei seus cabelos enquanto ela soluçava agarrada em mim.

– É que você não entende. A minha mãe jamais faria isso, ela jamais se jogaria de uma escada para salvar uma de nós.

– Não diga uma coisa dessas, a gente só sabe o que fazer em uma situação dessas quando ela realmente acontece.

– Me deixa dar uma olhada nas suas costas. – Fernando disse e deu um toque no ombro da filha. – Vá com a sua irmã, nós já vamos.

Jéssica saiu e Fernando levantou minha camiseta para olhar as minhas costas.

– Eu estou bem, foi só o barulho da pancada.

Fernando segurou minhas mãos e me olhou nos olhos.

– Obrigado, Marina. Eu não sei o que teria acontecido se você não tivesse saltado daquela maneira para resgatar a minha filha.

Ele me abraçou e encheu o meu rosto de beijos.

– Eu estou perdido de verdade, e agora não apenas eu estou te amando, mas as minhas filhas também te amam.

Eu o apertei em meus braços e senti o amor fluir entre nós.

– Tem certeza de que está bem? Não quer mesmo ir ao hospital?

– Eu estou bem. É sério. Não toquei nos degraus.

Comemos e depois do jantar eu fui tratada como uma rainha. Jéssica me deu uma bolsa de gelo enquanto Talita massageou os meus pés.

– Depois o meu pai pode te fazer uma massagem nas costas. – Jéssica falou e eu assenti.

Fomos para o quarto e Fernando pediu para que eu tirasse minhas roupas para ver meus machucados.

– Como eu faço para cuidar de você? – Ele perguntou em agonia.

– Por quê?

– Porque eu quero te tocar de todas as formas possíveis, inclusive algumas não muito comportadas.

Eu gargalhei e ele se deitou sobre mim, acariciou meu rosto e disse:

– Eu te amo.

– Também te amo.

Fernando me beijou e fizemos amor com toda a carga sentimental da nossa confissão.

Despertei com beijos em meus ombros e mãos acariciando o meu quadril.

– Vou te raptar, e se eu contar para as meninas elas vão me ajudar a te manter aqui em cativeiro.

– Se for para ser tratada dessa maneira vou acabar sofrendo de Síndrome de Estocolmo.

– Você está bem? De verdade? Sem dor?

– Estou bem.

Ouvimos batidas na porta e nos vestimos apressados. Fernando a destrancou e abriu.

– Bom dia, papai. Viemos saber se a tia Marina está bem de verdade. – Talita falou esticando o pescoço para me ver.

– Ela está bem.

– Está mesmo? – Jéssica perguntou gritando do lado de fora do quarto.

– Estou sim. – Respondi. – Podem entrar.

As duas entraram com carinhas tímidas.

– Obrigada pela preocupação, meninas.

– Nós fizemos o café da manhã. A vovó trouxe pão de queijo e bolo. – Jéssica disse.

Na mesa eu olhei para o quadro ao meu redor e fiz uma prece silenciosa: Deus, eu quero essa família, eu os amo.

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