Quando Washington e eu nos separamos, a primeira coisa que eu pensei foi: eu nunca serei mãe. Eu imaginei que seria muito difícil conhecer alguém, me apaixonar, casar e ter filhos, então o instinto materno foi guardado a sete chaves dentro da minha mente. Até que uma menininha de oito anos de idade simplesmente ativou a minha amígdala, me fazendo entrar em estado de alerta máximo ao cair rolando da escada.
Eu não sei ao certo o que aconteceu, mas acho que Talita pisou na barra da calça do pijama e rolou de escada abaixo. Foi como se tudo tivesse desaparecido da minha frente. Meu corpo saltou para a frente e eu não sei como eu fiz, mas quando dei por mim ela estava nos meus braços e minhas costas estavam contra a parede.
– Pronto, pronto, eu te peguei. – Eu falei a acalmando.
O choro de Talita me deixou em alerta.
– Temos que levá-la para o hospital. – Eu gritei para Fernando que estava parado em choque no alto da escada.
Aos poucos ele se moveu e veio ao nosso encontro.
– Está tudo bem, meu amor, eu te peguei. – Falei para a pequena em meus braços.
Talita levantou o rostinho para mim e sorriu.
– Você me salvou. – Ela falou entre fungadas.
– Você se machucou? – Perguntei.
– Não. Não dói nada. – Ela disse agora sem chorar. – Acho que eu me assustei.
– Que bom, graças a Deus. – Murmurei e Fernando a ajudou a se levantar.
Em seguida ele estava ajoelhado ao meu lado.
– Você está bem? Você bateu as costas e a cabeça. – Ele perguntou cheio de preocupação.
– Eu estou bem.
– Como você fez aquilo? – Ele perguntou.
– Aquilo o quê?
– Você pegou a Talita no ar antes que ela se chocasse com o chão.
– Peguei? – Perguntei confusa sentindo o corpo esfriar e minhas costas latejarem.
– Pegou. Vem, deixa eu te ajudar.
Com muito cuidado ele me ajudou a ficar em pé. Jéssica me olhava com os olhos arregalados e cheios de lágrimas. Fernando me levou para o sofá e assim que eu me sentei a mais velha se jogou em meus braços e me apertou forte.
– Obrigada. Você salvou a minha irmã.
– Está tudo bem, estamos todas bem. – A acalmei. – O que vocês acham de comermos antes que a pizza fique fria?
Talita correu animada para a sala de jantar, mas Jéssica não me soltou.
– Por favor, não chore, está tudo bem. – Eu acariciei seus cabelos enquanto ela soluçava agarrada em mim.
– É que você não entende. A minha mãe jamais faria isso, ela jamais se jogaria de uma escada para salvar uma de nós.
– Não diga uma coisa dessas, a gente só sabe o que fazer em uma situação dessas quando ela realmente acontece.
– Me deixa dar uma olhada nas suas costas. – Fernando disse e deu um toque no ombro da filha. – Vá com a sua irmã, nós já vamos.
Jéssica saiu e Fernando levantou minha camiseta para olhar as minhas costas.
– Eu estou bem, foi só o barulho da pancada.
Fernando segurou minhas mãos e me olhou nos olhos.
– Obrigado, Marina. Eu não sei o que teria acontecido se você não tivesse saltado daquela maneira para resgatar a minha filha.
Ele me abraçou e encheu o meu rosto de beijos.
– Eu estou perdido de verdade, e agora não apenas eu estou te amando, mas as minhas filhas também te amam.
Eu o apertei em meus braços e senti o amor fluir entre nós.
– Tem certeza de que está bem? Não quer mesmo ir ao hospital?
– Eu estou bem. É sério. Não toquei nos degraus.
Comemos e depois do jantar eu fui tratada como uma rainha. Jéssica me deu uma bolsa de gelo enquanto Talita massageou os meus pés.
– Depois o meu pai pode te fazer uma massagem nas costas. – Jéssica falou e eu assenti.
Fomos para o quarto e Fernando pediu para que eu tirasse minhas roupas para ver meus machucados.
– Como eu faço para cuidar de você? – Ele perguntou em agonia.
– Por quê?
– Porque eu quero te tocar de todas as formas possíveis, inclusive algumas não muito comportadas.
Eu gargalhei e ele se deitou sobre mim, acariciou meu rosto e disse:
– Eu te amo.
– Também te amo.
Fernando me beijou e fizemos amor com toda a carga sentimental da nossa confissão.
Despertei com beijos em meus ombros e mãos acariciando o meu quadril.
– Vou te raptar, e se eu contar para as meninas elas vão me ajudar a te manter aqui em cativeiro.
– Se for para ser tratada dessa maneira vou acabar sofrendo de Síndrome de Estocolmo.
– Você está bem? De verdade? Sem dor?
– Estou bem.
Ouvimos batidas na porta e nos vestimos apressados. Fernando a destrancou e abriu.
– Bom dia, papai. Viemos saber se a tia Marina está bem de verdade. – Talita falou esticando o pescoço para me ver.
– Ela está bem.
– Está mesmo? – Jéssica perguntou gritando do lado de fora do quarto.
– Estou sim. – Respondi. – Podem entrar.
As duas entraram com carinhas tímidas.
– Obrigada pela preocupação, meninas.
– Nós fizemos o café da manhã. A vovó trouxe pão de queijo e bolo. – Jéssica disse.
Na mesa eu olhei para o quadro ao meu redor e fiz uma prece silenciosa: Deus, eu quero essa família, eu os amo.
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Amando Novamente
RomansaFernando é pai de duas meninas. Após o divórcio ele se fechou para o mundo, até que em um momento de lucidez ele resolve procurar um novo relacionamento em um aplicativo de namoro. Por ironia do destino ele encontra Marina. Marina esteve a poucos m...