Capítulo 5 - Marina

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– Que cara é essa, chefe? – Élida perguntou me tirando da minha névoa romântica.

– Estou apaixonada. – Falei brincando, porém com o coração acelerado.

– Como assim? Tão de repente? Onde você o conheceu.

– Em um aplicativo de namoro.

– E vocês vão se encontrar. Estão falando desde quando?

– Bom, nos falamos há três meses, depois deixamos cair no esquecimento e ontem ele me enviou uma mensagem e nós conversamos até quase de madrugada.

– Você teclou com um cara a madrugada toda e está apaixonada? – Ela perguntou toda indignada.

– Trocamos telefones e ele me ligou. Me ligou agora de manhã também para me desejar bom dia, e estávamos trocando mensagens.

– E como ele é?

– Vou te mostrar uma foto dele.

Peguei o aplicativo e abri para mostrar o perfil do Phelipe.

– Bom, essa foto é antiga, ele disse que é de dez anos atrás. Na verdade, ele não tem vinte e seis, ele tem trinta e nove.

Élida analisou e analisou o perfil.

– Nossa ele é idêntico ao Fernando do comercial.

Eu sabia que tinha achado o Felipe muito parecido com alguém, só não consegui associar o rosto à pessoa.

– É verdade. São muito parecidos.

– Minha nossa, Marina. Eles parecem ser a mesma pessoa. Olha só. Imagina esse cara mais velho. Adulto e usando roupas sociais.

Olhei bem para a foto e consegui perfeitamente enxergar o Fernando.

– Credo. Eles são realmente parecidos.

Deve ter sido por isso que eu senti uma coisa estranha quando o Fernando entrou na sala dele e sorriu para mim.

– Bom, isso se esse cara for mesmo quem ele está falando que é. – Élida falou com frieza, mas eu tenho que dar o braço a torcer.

– Eu sei que pareço inocente demais, mas alguma coisa dentro de mim se apegou a ele e eu acredito nas coisas que ele me diz.

– Bom, só não crie muitas expectativas, chefe. Sabe que eu me preocupo com você.

– Eu sei. Obrigada por isso.

Élida é uma das poucas pessoas em quem eu confio. Ela já trabalha comigo há pelo menos dois anos e nos tornamos amigas de verdade. Ela é a única pessoa com quem eu saio desde o meu divórcio.

Só que o nosso papo me deixou inquieta demais e eu comecei a achar que olhar para o Fernando do comercial era bom demais. E nesse dia em especial nós nos trombamos mais do que nos trombamos durante meus cinco anos na empresa. As duas vezes que trombamos no café, a vez que trombamos no almoxarifado e até mesmo a vez em que nos trombamos na recepção e ele sorriu para mim, era como se fosse o Felipe.

Como eu nunca reparei que o insosso do Fernando Sousa era tão bonito?

Os cabelos pretos estavam penteados para trás, a barba estava por fazer, mas isso o deixou muito charmoso, a camisa preta contrastava com o cinza claro da gravata e quando ele sorriu os olhos ficaram apertadinhos, isso foi o ápice para mim. Fernando não é o tipo de homem que eu costumo apreciar. Ele não é alto e musculoso. Nem faz o tipo conquistador, mas não sei que mágica que o Felipe fez comigo que me fez mudar de parâmetro. Acredite que até nos trombamos no elevador na hora de ir embora.

– Enfim sexta-feira. – Comentei, pois não consegui ficar de boca fechada quando o encontrei no hall dos elevadores.

– Sim. Agora vou dormir até segunda-feira. – Ele brincou e sorriu e eu quase suspirei.

O elevador chegou e nós entramos e o cheiro ele ainda era tão bom.

– Acho que vou te imitar e vou dormir até segunda.

– Não tem coisa melhor que fazer nada, ainda mais depois de uma semana de fechamento.

– Tenho que concordar. – Ficamos em silêncio e ainda tínhamos dez andares para descer. – Onde você mora?

– Na zona sul e você?

– Zona norte.

– Por isso... – Ele começou a falar e parou.

– O quê?

– Por isso você deve estar cansada. Além do fechamento, você mora longe daqui.

– Pois é. Eu morava aqui na zona sul também, mas tive que me mudar para a zona norte.

– Posso perguntar o motivo? – Ele pareceu curioso.

– Divórcio.

– Ah. Sim. Desculpe, não queria ser inconveniente.

– Não. Tudo bem.

– É que eu sei como o divórcio pode ser traumatizante.

– Você também é divorciado?

– Sim. Já faz três anos.

– Para mim faz um ano.

– Sinto muito.

– Não, está tudo bem. Eu estou bem.

De repente senti a curiosidade me corroendo por dentro, mas tive que manter a boca fechada. Pelo menos descobri que ele não é casado. Mas que diferença isso faz?

O elevador chegou no seu destino e nós saímos.

– Quer uma carona até algum lugar?

– Não, obrigada, vou pegar o trem.

– Está bem. Bom final de semana, Marina.

– Para você também, Fernando. Bom descanso.

Amando NovamenteOnde histórias criam vida. Descubra agora