Capítulo 22 - Fernando

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Desde que Marina me aceitou, eu pensei que tinha resolvido aquele meu problema de autoestima, mas encontrar com o ex marido dela no supermercado foi como levar um soco no estômago. Washington é alto, forte e bonito, ele é o próprio Luke Cage. Como eu poderia concorrer com isso? Tentei me manter firme e com o sorriso no rosto, afinal ela me apresentou como seu namorado e o rapaz pareceu tranquilo quanto a isso, embora eu tenha percebido a mágoa por ela precisar se afastar dele para recomeçar. Pode ser que futuramente ela consiga tê-lo novamente em sua vida, mas eu confesso que com ele por perto eu me sentirei um pouco incomodado.

– Você está quieto demais. Ficou chateado com o nosso encontro com o Wash? – Marina perguntou.

– Mais ou menos. É que ele e eu não poderíamos ser mais diferentes.

– Talvez seja por vocês serem tão diferentes que eu me divorciei dele e hoje estou namorando com você. – Ela respondeu sem olhar para mim.

– Me desculpa, Marina, eu não queria te deixar desconfortável. Mas o seu ex marido é impressionante demais.

– É cansativo ter alguém tão impressionante ao lado. Washington sempre foi o centro das atenções por onde passamos. A gente se amava muito, mas era impossível não perceber que todos olhavam para ele e eu sempre fiquei de lado. Então nós nos separamos e ele continuou a ser o centro das atenções e eu me tornei apenas a ex mulher dele.

– Entendo.

– E a mãe das meninas? Como ela é?

– Depois eu te mostro uma foto dela.

– As meninas se parecem com você.

– Sim. A Gabriele sempre reclamava que ela quem paria, mas as crianças pareciam ser só minhas.

E elas acabaram sendo só minhas de verdade.

Quando chegamos na minha casa as garotas fizeram festa e a minha mãe estava por lá. O sorriso que ela deu ao conhecer Marina não poderia ter sido maior.

– É um prazer, Marina. Essas duas meninas não pararam de falar de você.

– O prazer é meu. Que bom que dessa vez foi possível te conhecer.

– Ah, no domingo eu passei para deixar o café da manhã e fui visitar o meu outro filho.

– O Felipe? – Marina perguntou.

– Sim. Você o conhece?

– Posso dizer que sim.

Minhas filhas monopolizaram a atenção da Marina por mais de uma hora, então quando já estavam cansadas de tanto tagarelar nós conseguimos conversar todos juntos.

Pouco antes do jantar a campainha tocou e Talita foi correndo ver quem era.

– Papai, é a minha mãe! – Ela gritou quando olhou o visor.

– A mamãe? – Jéssica perguntou e se levantou para olhar também. – O que ela está fazendo aqui?

– Não sei, atende o interfone. – Talita falou.

– Eu não, atende você.

– Eu não quero falar com a mamãe, a tia Marina está aqui.

– Eu sei, por isso eu não quero atender.

Marina e eu assistimos a discussão das duas enquanto a mãe delas tocava novamente.

– Atende. Elas estão sem graça de atender. – Marina pediu e eu me levantei.

Gabriele estava com cara de poucos amigos, então eu atendi.

– Gabriele. O que você está fazendo aqui?

– Eu vim trazer algumas coisas para as meninas, eu posso entrar?

Raramente Gabriele entrava em nossa casa. Ela sempre estaciona em frente ao portão e as meninas saem.

Olhei para Marina e ela assentiu.

– Está bem.

Minhas filhas estavam agitadas olhando para Marina e para mim.

– Quem quer abrir para a mamãe?

Nenhuma das duas queria abrir, mas Jéssica tomou a frente.

– Eu vou.

Jamais imaginei que um dia as minhas filhas recusariam encontrar a mãe. Talita se sentou ao lado de Marina e começou a morder a unha. Assim que Gabriele entrou pela porta, minha caçula segurou a mão da Marina.

– Boa noite. – Gabriele falou olhando para todos nós.

– Boa noite. – Respondi.

Jéssica entrou logo atrás carregando duas sacolas enormes.

– Bom, como elas não quiseram me encontrar na semana passada e eu cheguei mais cedo de viagem, achei melhor passar para trazer alguns presentes que eu comprei para elas. – Ela olhou para Talita e perguntou: – Você não vai dar um abraço na mamãe?

Talita pensou e concordou. Se levantou vagarosamente do sofá e deu um abraço sem jeito na mãe.

Gabriele olhou com curiosidade para Marina e eu achei que seria melhor apresentá-la formalmente.

– Gabriele, essa é a Marina...

– A namorada do papai. – Talita completou.

– Ah, sim. Prazer, Marina. Eu sou a mãe das meninas. – Gabriele cumprimentou sem graça.

– Prazer, Gabriele. Parabéns pelas meninas, elas são adoráveis.

– Mérito do pai delas. – Gabriele disse.

– Amém. – Jéssica rebateu.

– Bom, eu vim apenas para dar um abraço em vocês e trazer os presentes. Que tal marcarmos algo para o próximo fim de semana? – Ela perguntou para as filhas e as duas me olharam.

– Vamos pensar e a gente te liga, mãe. – Jéssica respondeu.

Ela levou Gabriele até o portão e voltou. As sacolas ficaram jogadas em um canto da sala. Marina continuou sentada onde estava e não disse nada. Eu sei como ela se sentiu, eu senti o mesmo naquela manhã quando conheci o ex marido dela. Mas acho que no caso dela era pior, as minhas filhas a deixaram perdida, pois as duas também se sentiram assim.

E como se sentisse que traiu a lealdade por Marina, Jéssica se sentou ao lado dela e deixou a cabeça em seu ombro. Marina acariciou a cabeça da minha filha por um tempo e disse:

– Eu vou ao banheiro e já volto. – Ela se levantou e subiu para o meu quarto.

Jéssica e Talita assistiram sua subida e a minha filha mais velha me olhou como quem dissesse: vai atrás dela, e eu obedeci.

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