Eu não acreditei quando os vi parados ao lado da minha mesa. Fernando estava tão bonito que eu seria capaz de mordê-lo ali mesmo, e Jéssica me olhou com tanta ternura que o meu peito até doeu. Eles vieram por minha causa, vieram me buscar. Eles me amam de verdade, e essa percepção me fez jogar toda a prudência para o alto. Saímos para o lado de fora do resort e fomos até o estacionamento.
– Vai logo, pai. – Jéssica falou impaciente.
– Calma. – Fernando tirou a chave do bolso da calça e abriu o carro.
Cobri a boca com as mãos quando vi um buquê ainda maior do que aquele que ele me deu como pedido de desculpas. Em seguida, Jéssica tirou um urso quase do tamanho dela.
– Viemos buscar o meu amor. – Fernando falou e os meus olhos pinicaram.
– É. – Jéssica concordou.
– Vocês vieram me buscar?
– Sim. O nosso fim de semana não é o mesmo sem você. – Ele falou.
– E o meu pai estava muito triste e muito deprimido, você tinha que ver, era de partir o coração.
– É mesmo? – Perguntei e peguei as flores que ele me entregou. – São lindas, Fernando, obrigada.
– Eu te amo. – Ele falou, eu entreguei as flores para Jéssica e pulei nos braços dele. Fernando me segurou e me beijou.
Que se dane o pessoal do escritório, eu queria mesmo era beijar o meu namorado. O sol estava quente e gostoso e ele estava muito cheiroso, e a língua dele me causou todos os tipos de arrepios.
– Eu também te amo. – Falei e ele me colocou no chão. – Vamos embora desse lugar, eu quero ir para casa.
– Oba! – Jéssica gritou e nós três rimos.
– Eu vou no meu quarto arrumar as minhas coisas.
– Está bem, a gente te espera. – Fernando falou.
– Vai com ela, pai. Eu fico aqui. O tempo está muito bonito. – Jéssica falou e olhou para o céu.
Corremos pelo corredor como dois adolescentes. Entramos no meu quarto e nos beijamos.
– A gente tem tempo? – Ele perguntou.
– Podemos ser bem rápidos.
– Sim.
E aproveitamos meia hora daquele quarto, só para sairmos da rotina.
Joguei as minhas coisas dentro da mala e saímos correndo. Fiz meu check out e mandei uma mensagem para Élida falando que tinha sido resgatada.
A viagem de volta foi perfeita, nós rimos, cantamos, conversamos. Assim que chegamos, Fernando levou minha mala para o quarto dele e Jéssica me puxou para o quarto dela. Fiquei curiosa quando ela fechou a porta e pediu para eu me sentar ao lado dela.
– O que você quer falar, Jéss? Aconteceu alguma coisa?
– A minha irmã contou para o meu pai que a minha mãe te ligou.
Fiquei sem graça, pois eu não queria ter essa conversa com a Jéssica.
– Sim. Ela me ligou.
– Marina, você entrou na vida do meu pai e deu um novo sentido para essa casa. A gente te ama muito, mas eu não querer encontrar a minha mãe não tem nada a ver com você. Tem a ver apenas com ela.
Agucei meus sentidos e ouvi atentamente.
– Quando eu tinha dez anos eu lembro perfeitamente de ouvir uma conversa da minha mãe por telefone, ela falava com outro homem. Eles falavam várias coisas que eu sabia que não podia ouvir. Depois ela deixou o telefone dando sopa pela casa e eu o peguei. O meu pai nunca mexeu nas nossas coisas, ele sempre respeitou a nossa privacidade e ela sabia que o meu pai jamais invadiria a privacidade dela, mas eu aos dez anos invadi. – Jéssica fechou os olhos e vi as lágrimas caírem enquanto ela falava. – Eu vi fotos da minha mãe na cama com outro homem, ela estava traindo o meu pai. Eu sabia que aquilo tudo era errado, aos dez anos eu sabia por alto o que era sexo, e sabia que não se fazia isso com alguém que não fosse o seu marido, mas a minha mãe fez. Eu nunca contei isso para ninguém. No dia em que os meus pais disseram que iam se separar eu senti alívio, e quando ela disse que não queria a nossa guarda eu senti mais alívio ainda. Nos últimos três anos eu vi o meu pai triste pelos cantos cuidando de mim e da minha irmã, até você aparecer. Naquela noite em que eu o vi abrindo uma latinha de cerveja e rindo ao telefone, eu tive a esperança de que ele poderia ser feliz de novo. No zoológico você me aconselhou a ser a adolescente que eu tenho que ser, e essa adolescente não quer mais conviver com uma mãe que não ama as filhas, ou se ela ama, esse não é o tipo de amor que eu quero receber. – Ela parou por alguns instantes para secar as lágrimas e continuou: – Naquela noite em que você se jogou da escada para salvar a minha irmã, eu te amei naquele instante, eu desejei que você fosse a nossa mãe. Sabe quantas vezes a minha irmã e eu nos machucamos e a minha mãe pouco ligou? Várias. Já vi a minha irmãzinha se machucar e a minha mãe ignorar. Você mal nos conhecia e nos protegeu. Eu me senti muito mal quando soube que a minha mãe te magoou. Ela pode ter colocado a mim e a minha irmã no mundo, mas se eu pudesse escolher eu preferia que você fosse a nossa mãe.
Eu também estava chorando e eu jamais imaginei que fosse sentira tantas coisas ao mesmo tempo, eu nem sabia o que dizer para Jéssica.
– Eu te amo, Jéssica. Amo você e a sua irmã e se vocês me quiserem como amiga, tia, mãe, vocês terão.
– Promete que não vai deixar essas bobagens da minha mãe separar você e o meu pai?
– Prometo. Prometo sempre conversar com vocês caso alguma coisa aconteça.
– Obrigada, tia Marina. – Ela falou como a Talita fala e me abraçou apertado.
Saímos do quarto e Fernando nos esperava na sala. Eu soube no mesmo instante que ele ouviu a nossa conversa, pois seus olhos estavam vermelhos. Ele estendeu os braços para mim e eu sentei em seu colo e o abracei.
– Como eu posso te amar ainda mais? – Ele sussurrou no meu ouvido.
– Não sei, se você descobrir me explique.
– Casa comigo, Marina. – Ele pediu e eu fiquei sem ar. – Não é repentino, é o que eu sinto, o que eu mais quero. Casa comigo.
Olhei em seus olhos escuros e vi tudo o que eu sempre quis ali: amor, paz, tranquilidade, amizade, companheirismo.
– Caso. – Sussurrei a resposta.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amando Novamente
RomanceFernando é pai de duas meninas. Após o divórcio ele se fechou para o mundo, até que em um momento de lucidez ele resolve procurar um novo relacionamento em um aplicativo de namoro. Por ironia do destino ele encontra Marina. Marina esteve a poucos m...