- Não pretendo fazer negócios com esta empresa, Gabriel, então não se dê ao trabalho de marcar uma reunião entre mim e quem quer que queira me fazer perder tempo. – Estou irritado com a insistência desses negociantes.
Não há o menor bom senso em saber que eu só lido com empresas de alto padrão, não precisar ser grande, só ter excelência e qualidade, e ter a pachorra de me oferecer um produto sem nenhuma procedência.
- Não são esses que estão solicitando uma reunião, é um sócio seu.
- Qual é e para quando quer me ver? – Já estou cansado, dei uma pausa para conseguir jantar junto da Sara, e principalmente junto do meu novo vício. – A propósito, quero que já me adiante o motivo dessa reunião.
- Sim senhor, vejo você amanhã no trabalho. – Meu secretário se despede, tenho que comentar que ele é muito eficiente.
- Claro, boa noite. – Me despeço na velocidade da luz, quero logo chegar no melhor momento do meu dia, deitar na cama e saber que vou dormir a noite inteira, sem interrupções, sem insônia ou o passado me chamando.
Já acostumei com ela aqui, agora ela é essencial para eu poder começar o dia todas as manhãs e finalizar os dias todas as noites. Anya é uma menina, quando chegou achei muito forte, muito decidida psicologicamente. Mas ultimamente ela tem toma uns comportamentos que me fazem questionar isso.
Enquanto caminho para o meu quarto ouço um barulho de algum animal pela casa, fino e esganiçado, sofrido. Sigo nessa direção, como minha casa é grande não é nem um pouco absurdo supor que algum animal entrou, e não posso deixar que ele ataque qualquer um dessa casa, principalmente minhas meninas.
Não conseguiria estar mais surpreso se encontrasse até mesmo um gavião agonizando no corredor, do que eu estava vendo minha pequena salvação encolhida no chão do corredor chorando litros, enquanto mantém o rosto nos joelhos dobrados e as costas na parede.
- Anya? – A chamo sofrendo internamente vendo sua agonia interior. - Minha pequena, o que houve? Me diga no que posso te ajudar. – Tento falar brandamente, para acalma-la, e não a assustar como geralmente acontece.
- Eu, seu só... – Ela fala fungando, não consegue completar a frase e tenta se levantar, não consegue ficar em pé sozinha, pois se desequilibra e cai em cima de mim. – Desculpa, eu.... Não precisa, obrigada, muito obrigada. Vou parar de chorar.
- Não precisa, não se contenha, me diga o que está acontecendo com você. Eu quero te ouvir, te ajudar, te conhecer. – Eu queria manter uma distância antes, manter ela a salvo dos meus desejos lascivos sobre o seu corpo, que quase não ganhou peso desde que chegou. Vejo que ela começou a soluçar mais ainda, desesperada para falar algo que não conseguia. – Se acalma minha pequena, eu estou aqui vem, vamos para o nosso quarto, você precisa deitar para conseguirmos conversar.
Digo isso enquanto a puxo para o meu colo, carregando ela no estilo noiva para nosso quarto. Ela se aconchega mais ainda em meu peito, molhando minha camisa. Não me incomodo com isso, aprecio sua confiança em mim, e me sinto muito abalado com toda a sua fragilidade.
Coloco ela em cima da cama, mas mantendo seus braços ao redor do meu pescoço. Entendo que ela não queira me soltar, está frágil de mais. Quero que ela converse comigo, estava decidido a esperar que fizesse isso por conta própria, mas pelo óbvio ela está abalada demais para entender a si mesma e procurar ajuda.
Sei o que ela passou, mas quero que se abra comigo, confie em mim, quero que intenda por si só que a vida não acabou por causa do que houve, assim como eu tive que fazer anos atrás.
- Pequena, deita que eu vou pegar água para você. – Sussurrei em seu ouvido, enquanto tirava seus braços do meu pescoço.
- Não, eu vou ficar bem. – Mal conseguiu falar entre um soluço e outro, mesmo assim fui correndo até a cozinha para deixa-la sozinha o mínimo de tempo possível.
Quando finalmente entro no quarto a encontro encolhida de novo, como estava no corredor, mas assim que me vê relaxa os braços e estica as pernas. Estando em uma postura relaxada comigo, percebo que talvez eu seja seu porto seguro, mesmo que não tenha consciência disso, o que só me motiva mais a faze-la se abrir comigo.
Me aproximo dela com o copo estendido, para que ela beba água, mas Anya completamente ignora a água e segura meu braço, se puxando na minha direção e me surpreendendo mais ainda ao enterrar seu rosto em meu tórax.
A seguro novamente em meus braços e nos deito na cama, ela aos poucos vai parando de chorar e me questiona:
- Quando você vai nos libertar? – Nunca, eu queria responder, desde o primeiro momento sabia que você era diferente, e justo naquela noite que entrei aqui e você já estava dormindo em meu quarto, encolhida no canto da poltrona, pedindo socorro em seus sonhos, precisando ser protegida, você é minha maior preciosidade e te quero comigo para sempre. Mas sei o que ela precisa ouvir, eu mesmo já precisei que me dissessem isso.
- Você é livre, e no instante em que não quiser mais estar nessa casa é só arrumar as suas coisas e ir, você e ninguém mais, é a dona do seu destino. - A afasto do meu peito e olho no fundo dos olhos dela, para me certificar de que entenda o que vou falar, de que ouça realente minhas palavras. - Tudo que aconteceu acabou, e a culpa é toda deles, mas a responsabilidade pelo que você vai fazer a partir de agora é sua. Sei que quer esconder dos seus irmãos o que houve, e tudo bem, mas eles não serão crianças para sempre e terão o direito de saber e entender a própria história.
Observo seus olhos vidrados nos meus, sei que se eu a beijasse ela não recuaria, sei que seria uma forma de limpar de sua memória o que aconteceu.
Então desço meu rosto aproximando do dela sem fechar os olhos, quero observar cada uma de suas expressões, Observo Anya fechar seus olhos e segurar sua respiração, se antecipando meu movimento, mas não tenho coragem de beija-la tão fragilizada como está, roço então meu nariz no seu e subo meus lábios para a sua testa, mal encosto meus lábios em sua pele quente e macia antes de sentir suas delicadas mãos explorando os meus braços, inocentemente quase que curiosa.
Já desisti do beijo que daria nela, mas a darei a liberdade de se sentir confortável com o meu corpo, não só como alguém que estará aqui a noite toda a protegendo de possíveis invasores, mas principalmente como a pessoa que a quer transformar em mulher por livre e espontânea vontade.
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Vendida e Herdada
RomanceHistória Original Wattpad https://my.w.tt/HTPiI1AbE6 Capa by: @beatrizmayara5661 Mesmo após ser sequestrada e semi resgata, Anya ainda persiste com a esperança no futuro, não um futuro para si, mas para seus irmãos menores. Anya foi entregue como...