24 Srta. Anya Castle

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Eu desconheço a mim mesma, nunca me comportei assim, nunca fui fraca ou incapaz de lidar com as coisas boas e ruins, fáceis ou difíceis, sempre consegui me esforçar para que tudo desse certo na medida do possível, e por vezes fiz o que achei ser impossível também.

Sinto que a luz que brilhava acesa em mim todos os dias, brilha mais fraca a cada amanhecer, e que aos poucos, quase sem dar sinais meu brilho transformasse em escuridão, mas eu não tinha o mínimo indício disso até ontem de noite.

Acho que ontem minha luz se apagou, ou quase, assim que ele chegou eu senti medo, não pensei que ele fosse me machucar, fisicamente pelo menos, mas acusar a fraqueza que eu tinha. Acabaria por provar que eu não estava à altura de cuidar dos meus filhos, ou de ter uma vida saudável, fazendo uso do meu livre arbítrio.

Eu não poderia estar mais enganada. Nunca pensei que precisasse de ajuda, apoio, ou um colo para chorar sem ser recriminada, mas então lá estava eu em seu colo com o nariz entupido fungando e encharcando sua camisa com as lágrimas que eu não sabia que precisava colocar para fora. E tudo que ele fez foi me pegar no colo e cuidar de mim, eu não lembre qual foi a última vez que alguém cuidou de mim, cuidou de verdade, deu colo, carinho e consolo.

Sinto vergonha pela cena que fiz ontem, mas talvez se não fosse isso nunca teria ouvido as palavras que Christopher me disse com tamanha veemência.

"Você é livre, e no instante em que não quiser mais estar nessa casa é só arrumar as suas coisas e ir, você e ninguém mais, é a dona do seu destino. Tudo que aconteceu acabou, e a culpa é toda deles, mas a responsabilidade pelo que você vai fazer a partir de agora é sua. Sei que quer esconder dos seus irmãos o que houve, e tudo bem, mas eles não serão crianças para sempre e terão o direito de saber e entender a própria história. "

Talvez seja isso, ainda não parece que acabou, eu acordo a noite as vezes com a sensação de que estar aqui segura é uma ilusão e que voltar a qualquer momento voltar para aquela cela imunda, ou estar seminua ajoelhada na frente de alguém.

Christopher permaneceu a noite toda com os braços ao meu redor, durante cada lágrima e soluço, desde os de medo e angustia até os de esperança e aceitação, acho que nunca chorei tento na minha vida. Permaneceu por horas me segurando firmemente em seus longos, belos e veiúdos braços, os apertando ao meu redor. Até agora, quando parcos raios de luz transpassam suas densas cortinas, ele permanece a me amparar ainda mergulhado em seu sono.

- Pare de pensar tanto, relaxe um pouco. – Bem, acho que não mais está dormindo.

- Eu não sabia que você já estava acordado.

- Não estava, acordei com a fumaça saindo da sua cabeça. Sei que é difícil, mas evite pensar em excesso, isso não resolve nada e só vai te por mais para baixo ainda. – Sua voz murmurada no pé do meu ouvido me faz sentir arrepios, que se intensificam quando ele desce sua cabeça e enterra o seu resto no meu pescoço, para em seguida tragar profundamente meu aroma.

- Por que você decidiu cuidar da gente? Eu não quero parecer ingrata, mas você podia só ter mandado a mim e meus filhos para nossa antiga casa. – Sinto seu corpo colado ao meu ficar tenso, seus braços me puxam mais em sua direção, me fazendo ficar de frente para ele. Sem que eu própria me desse conte minhas mãos estão deslizando pelos relevos do comprimento de seu braço, explorando cada detalhe por curiosidade e afeição.

- Não é nenhum absurdo, percebi que poderia fazer por vocês o que ninguém foi capaz de fazer por mim. – Sua resposta desliza em um rouco timbre, quase que fugindo sem permissão de seus fartos lábios. – Não quero que me interprete errado, eu quero sim que você esteja aqui, exatamente onde está, mas não sabia que seria assim quando decidi recebe-los.

- Aqui... na sua casa? Ou aqui? – Tenho tanto anseio quanto medo pela resposta a ser me dita, mas o anseio se sobrepôs ao medo no instante em que abri meus lábios.

- Na sua chegada, e até antes disso, sabia da sua condição, de toda a sua história, nunca a pressionei para me falar, mas esperei pacientemente você se sentir segura para se abrir comigo, mas o tempo foi passando e vi você se fechando cada vez mais. Eu vi a pequena leoa que conheci na porta de casa simplesmente desaparecer. – Ele para de falar, acho que é a minha vez de dizer algo. Mas o que eu poderia dizer? "Me desculpe, eu morri por dentro. " .

- Eu ignorei meus sentimentos, Christopher, ignorei meu medo, minha dor, minha vergonha, minha incapacidade, ignorei o fato de ter sido violada, ignorei o meu sequestro e dos meus filhos para que eles pudessem ignorar isso também. – Fartas como a noite passada minhas lagrimas escorrem pela lateral do meu rosto em direção ao braço que sustenta minha cabeça. - Mas tudo aconteceu, e eu não tive nenhum luto, ou nenhum preparo para o 360 que minha vida teria. Eu não sou mais criança a muito tempo, mas eu sei que definitivamente estou longe de ser uma adulta capaz de fazer tudo que me é exigido. – Respiro fundo e tento secar algumas das lagrimas, mesmo sendo inútil pois mais deles se unem as anteriores. – Algumas vezes desde que cheguei aqui pensei em fugir, isso foi antes de saber que estou livre aqui dentro, mas desisti da ideia mesmo assim, pois no fundo sabia que parte das coisas ruins que aconteceram tomaram minha força de viver, o resto eu mesma deixei escorrer entre meus dedos como arreia fina, por medo de lutar.

- Se é força que precisa, eu te dou a minha, mas se for paz, sinto lhe informar, mas minha paz quem trouxe foi você. – Sua voz ecoa nos meus ouvidos, então fecho meus olhos, somente para sentir seus lábios beijando minhas lagrimas.



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