Jade se assusta assim que se dá conta de que seus pais entraram na cozinha. Ofega e se contrai como se sentisse dor física. Eu não duvido que sinta. Sua mãe está pálida, parece que envelheceu anos nos poucos minutos em que estávamos aqui na cozinha, já seu pai parece estar sem folego, mas inesperadamente, vem até nós, tirando Jade das minhas mãos e a puxando para seu abraço paterno quente e acolhedor.
Assim que sua cabeça encosta no ombro do seu pai ela volta a chorar como uma criança ferida, acho que a criança interna dela está realmente ferida.
Sua mãe se mantém firme como uma estátua perto da porta, como se não aguentasse realmente o que está acontecendo ao seu redor e quisesse fugir desse momento, mas se mantem fria e pálida como o mármore da escadaria. Talvez só eu veja e nem mesmo ela perceba suas mãos tremendo.
- Minha menina – A voz de Michel está tremula e rouca das lágrimas de choro que ele derramou por sua filha e neta. – Nós sempre te amaremos. Me perdoe, eu devia ter te falado tudo isso muito antes.
Finalmente vejo uma reação vívida em Lucia, ela caminha lentamente em direção a sua família, e me sinto tão deslocada nesse encontro familiar que tenho o impulso de sair daqui, mas me paraliso ao ouvir a voz de Lucia falar:
- A culpa é minha. – Suas mãos chegam a se levantar, mas caem ao lado do corpo sem tocar na sua família. – Quando eu te tive, eu tive a doença a tristeza do bebê, não tinha conhecimento na época, ninguém sabia o que era, mas eu chorava o dia inteiro, ficava na cama, mão queria ver ninguém. – Sua voz fica embargada. – Eu devia ter te avisado, vindo cuidar de você e da minha neta desde o início.
Sinto uma forte pontada de cólica no útero e me viro para pegar água e finalmente tomar o remédio. Meus sintomas de TPM estão piorado mês a mês. Aproveito que finalmente me mexi e me retiro da cozinha para dar a devida privacidade a família em processo de conciliação. Na saída ainda ouço os soluços emocionados.
***
Sentada ao lado da lareira me encontro de frente para a porta e para o sofá que abriga os convidados do jantar que Chris resolveu fazer de última hora, para o seu amigo e a mãe dele. Sentada na sala como um enfeite estou sendo estudada e analisada assim como sara, mas enquanto a pequena se diverte com os paparicos da divertida senhora Mary North, eu estou sob o escrutínio do perspicaz jovem Sr Héctor North.
Por traz de nossos convidados vejo entrar dona Lucia, trajada no seu uniforme mais formal, com uma calça cinza chumbo e um jaleco na mesma cor com um pequeno emblema dourado bordado, com a gola as mangas e a barra da calça em preto. Observo a sua dificuldade em elevar a voz e assim o faço por ela:
- Sr. North e Sra North? – Chamo os convidados para avisar que a mesa de jantar está posta. Indico erguendo levemente a mão em direção a porta.
- Menina, eu me sinto velha demais quando me chama assim, se dirija a mim exclusivamente por Mary, ou Ms. Mary. Há tempos deixei de ser a Senhora North, estou esperando meu bom filho traze-la para casa, não é mesmo querido? – Ela completa rindo da careta que ele faz.
- Anya, o Sr. North era meu pai e ele faleceu faz muito tempo. Eu já tentei colocar isso na cabeça do Chris, mas parece que impossível faze-lo ceder a certas convenções sociais, espero que você posso me ajudar com isso. – Ele diz com um sorriso nada ingênuo, e é tudo que eu preciso para saber que em algum nível mais profundo ele entende que minha relação com Chris não se resume a Guardião e pupila.
O transcorrer do jantar seguiu uma linha simples com perguntas padrão para se conhecer alguém, mas aparentemente não estar falando comigo inclui me deixar despreparada para possíveis perguntas cujas respostas são extremamente reveladoras e capciosas. Até que Ms. Mary questiona:
- Como veio parar sob a tutela do Christopher? - Eu não me orgulho particularmente do que eu vou fazer, mas calmamente abaixo os olhos para a mesa e me dar tempo de pensar o que falar, e já sei que vou mentir.
- Quando minha vó faleceu, não tinha mais nenhum adulto com parentesco familiar para cuidar de mim e dos meus dois irmãos. – Minha voz baixa indica hesitação, mas ela nunca vai saber se é em falar do meu passado ou contar essa meia verdade.
- De onde seus pais conheceram seu tutor? – Achei que com essa resposta, ela pararia de questionar, mas preciso continuar pensando para que tudo ocorra bem.
- Meu pai garantiu que o velho Sr. White seria a pessoa que teria nossa guarda, porém antes mesmo de nos conhecermos este faleceu, pouco depois chegamos aqui. – Digo com um tom de finalização, para fazê-la entender que não estou mais aberta a questionamentos, e esses dois desatentos estão focados de mais em suas conversas de nerd para verem minha saia justa.
- O que houve com seus pais? – A Ms. North não desiste de me pegar na falha, mas essa é a única pergunta para qual posso dar a inteira verdade.
- Minha mãe faleceu por complicações no pós-parto da minha irmã caçula, e meu pai pode estar em qualquer lugar, em algum estado de consciência entre a embriaguez, a euforia das drogas e a ressaca de ambas. – Meu tom seco finalmente a faz recuar e me deixar quieta pelo resto do jantar.
Fiz uma boa senhora ser enganada por minhas falas falsas, mas o que não a prejudica nem me prejudica não fará nenhum mal. Assim sendo, quando sempre que pude dar uma resposta parcialmente real, eu a dei, ela sabe mais sobre mim do que meus amigos de escola para ser sincera, e nesta noite eu estou sincera, amanhã eu começo meu cronograma de estudos intensivos para entrar na faculdade assim como começo o 3º ano.
⭐ DEIXE SUA ⭐
⭐14/02/22⭐
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Vendida e Herdada
RomansaHistória Original Wattpad https://my.w.tt/HTPiI1AbE6 Capa by: @beatrizmayara5661 Mesmo após ser sequestrada e semi resgata, Anya ainda persiste com a esperança no futuro, não um futuro para si, mas para seus irmãos menores. Anya foi entregue como...