Capítulo 1

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Mary Anne

Primeiro dia de trabalho sempre foi de fato cansativo, há muitas coisas para aprender além do estresse de em casos não muito raros, passar por humilhações entre pessoas que se acham superiores por serem clientes.

Pior do que isso era descobrir que meu chefe era um completo babaca, que tratava os funcionários como lixo e mais, que achava que tinha posse sobre cada um de nós por dar-nos um salário que avaliado corretamente não era assim tão bom.

- Mesa 6, croissants e café expresso. - Alice me entregou a bandeja com os pedidos e sorriu. Era uma sorte ter ela como colega de trabalho, ela estava sempre me ajudando a conseguir fazer tudo corretamente e aprender todas as receitas. Sua presença facilitava meu trabalho, quase que 98%. 

Levei até a mesa certa o pedido que o cliente pedira e então me afastei até que estivesse atrás do balcão novamente. O engraçado era que, ali na cafeteria nós não tinhamos uma categoria fixa. Se precisavam de uma pessoa para fazer o café nós deveríamos ser essa pessoa, precisavam de balconistas, nós eramos balconistas, precisavam de garçonete, eramos também. A única coisa entre todas essas que não mudava era o caixa, pois não havia chances de alguém que mexe com dinheiro mexer também em comidas.

O coffee house, local onde eu trabalho, está mais conhecido agora após ter saído em um jornal muito famoso alegando que ali era o  ''Melhor lugar para entretenimento e o melhor café da cidade de Londres''. Desde então, não há um dia que o local dá sossego. Isso pelo que Alice me falou, há minutos atrás quando conseguimos ter uma pausa de uns dez minutos.                              Era um lugar bastante elegante, eu gostava de observá-lo e pensar que um dia eu poderia ser uma cliente ou ter ele como meu. A cor de suas paredes eram enfeitadas em um bege claro o que trazia certo conforto e calma e isso meio que chamava a atenção das pessoas, sejam elas locais ou turistas.

As mesas eram distribuídas algumas entre uma cadeira, duas, três e quatro para assim não ter uma exclusão de meios ou uma inclusão indesejada. Elas eram redondas forradas por um pano branco e as cadeiras eram bege, como as paredes, feitas de um aço bonito com leves desenhos sobre as costas dos mesmos.                                                                                                                                          As paredes, antes citadas carregavam em si também alguns adereços, uma era apenas usada para poder colocar a foto dos famosos que participaram do local, outra tinha uma decoração vintage de imagens dos mais variados países e a outra tinha frases motivacionais. Tudo calculado e pesquisado para que o cliente se sinta bem e acolhido. 

Observei então tudo ao redor para ver se todos os clientes estavam a vontade antes de ir até uma mesa para recolher as xícaras sujas.

- Quero um café expresso sem açúcar. - Me virei rapidamente para ver um homem se sentando em uma mesa de uma cadeira só, ele parecia alguém importante pelo seu blazer escuro e suas calças sociais.

- Apenas isso? - Perguntei olhando o número de sua mesa.

- Sim. - Foi tudo que disse.

''Um por favor seria educado''- Pensei antes de levar as xícaras sujas até a cozinha da cafeteria logo preparando seu pedido.

Voltei até a mesa e deixei a xícara sobre a mesa do homem me virando para pegar outras xícaras e pratos espalhados pelas mesas agora vazias, sequer tive tempo de pensar no que estava acontecendo quando de repente: 

- Eu pedi sem açúcar. - Meu corpo inteiro se arrepiou com o tom usado pelo rapaz 

-Me desculpe.

- É por isso que eu digo para nunca contratar pessoas incompetentes! Tudo que fazem é errado!

Franzi meu cenho enquanto ouvia suas ofensas, eu não podia levantar a minha voz, seria muito arriscado perder esse emprego pois era a única coisa que eu tinha nesse momento.

-Deveriam demitir alguém que não soma para nada para a empresa. - Ele se levantou rápido, provavelmente tendo 1,80 de altura enquanto eu, dificilmente tinha 1,60.

Não pude escutar aquilo calada, era muito pra mim. Levantei a cabeça cruzando os braços.

-Escuta aqui, você está se achando demais! - Disse alto tocando seu peito com meu dedo. - Eu estou trabalhando aqui a menos de um dia, o dia está cheio e as vezes erramos sim os pedidos! Mas isso não significa que eu sou incompetente, significa que sou humana e humanos erram! Abaixa esse tom de voz para falar de mim porque você não é melhor que eu.

- Hey! - Virei meu olhar para ver meu chefe se aproximando. Haviam vários olhares em nós. - Mary, já falamos que o cliente sempre tem razão.

-O cliente tem razão quando age com educação. Quando age como um babaca ele que...

- Mary Anne! - Respirei fundo. - Peço perdão senhor Kimbrough, as coisas não deveriam chegar nesse rumo, prometo que irei tomar as devidas providências!

- Espero realmente Senhor Wilson! - A voz dele saiu grogue, o encarei com raiva antes de me afastar sabendo exatamente para onde eu deveria ir.

Quem esse tal de Kimbrough pensava que era para levantar o tom de voz comigo e me insultar? Eu não deveria e nem iria ficar calada, aquilo ia mais além do que eu tinha que aguentar. Porém, eu precisava mesmo daquele emprego e bateu o arrependimento logo após tudo que falei, se eu fosse demitida tudo daria errado e eu provavelmente iria me foder por completo. Fechei meus olhos e respirei fundo ouvindo os passos se aproximando de mim. 

-Na minha sala, agora! - Assenti com a cabeça e segui Wilson, meu chefe para sua sala. Quando entrei percebi o quanto ele estava bravo.

- O que há de errado contigo? - Ele perguntou. - Você acabou de levantar a voz para um cliente bilionário e muito bem visto na sociedade, ter ele aqui é crucial para todo o movimento! 

- Por ser bilionário ele deve ser bem tratado? Típico. - Queria revirar os olhos ou bufar, mas já estava ultrapassando os limites de uma intimidade que não tinha sido criada. 

- Você quer perder seu emprego no primeiro dia? Se quiser me avise que irei poupar seu tempo! Escuta bem agora, você aprenda a se comportar e conviver com gente, eu não aceitarei mais nenhuma dessa, entendeu?

- Sim. - Abaixei a cabeça.

- Ótimo! Comece a se portar como uma funcionária competente e não como uma caipira, ou voltará de onde veio. 

Suas palavras, embora inofensivas em seu olhar de um homem rico e esnobe, havia cortado um pouco da minha auto confiança criada ao decorrer dos anos. Caipira e incompetente passaram quase o resto do dia inteiro preso em minha cabeça. Não é fácil trabalhar com gente, nunca fora mas qual outra escolha eu teria? 

Capítulo revisado

Temporary Fix [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora