Capítulo 6

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Sebastian

Observei de longe Mary Anne servir as pessoas que estavam na festa da minha família, não sabia o porquê exatamente todos ali a achavam tão simpática sendo que eu discordava totalmente de tal afirmação. Mary era praticamente uma caipira bruta, que tinha seu próprio ego e se achava no direito de tudo. Tudo bem que eu não era alguém de fácil colaboração nunca mas ainda assim aquilo me deixava intrigado...

"Talvez pelo fato de nunca ter sido desafiado como ela fez e agora meu ego esteja ferido" - Pensei jogando a cabeça de lado logo negando rapidamente.

Não era aquilo, a garota era realmente quem estava errada na história.

- Alguma vez na vida vai deixar de ser esse cara que parece estar sempre trabalhando ou preocupado com algo e viver sua vida? - Amber se pôs ao meu lado descruzando meus braços.

- O que quer dizer? Eu não estou nada profissional.

- Ah qual é, Sebastian! Você só não esta com a suas roupas e seu cabelo arrumado! De resto está a mesma coisa. - A garota suspirou. - Não está se divertindo? A festa está tão legal.

- Desculpe Amber. - A trouxe pra mim com cuidado enquanto lhe dava um abraço de urso apertado. - Eu prometo me soltar um pouco, tudo bem?

- Eu duvido muito. - Sua voz saiu abafada por seu rosto se encontrar escondido em meu peito.

- Eu também. - Comentei de volta sem mudar minha expressão embora pudesse escutar uma risada em minha mente. - Acho muito legal o que está fazendo com a irmã da garçonete.

- É Mary! E o que quer dizer com isso?

- Trazendo ela para seu círculo de amigas, a levando em festas e a deixando a vontade, sei que ela provavelmente esteve meio receosa com medo dessa coisa de ser nova em algum lugar. Tenho orgulho de você.

- Ah... bom eu fico feliz e ter dado uma chance de a conhecer melhor, sabia?! Eu a julguei um pouco antes de conhecer mas logo percebi que era besteira da minha cabeça. Você deveria tentar fazer o mesmo com Mary.

- Uh julgou? - Perguntei meio incrédulo porém logo volto a cruzar meus braços a olhando sério. - O quê? Virar amigo de Mary? Não, isso não aconteceria.

Mary era completamente diferente de sua irmã, percebia-se que ela tinha um gênio difícil e a única coisa que eu desejava ter com ela era a distância que nós já estávamos respeitando. Receava que uma aproximação minha e dela pudesse acabar com mais discussões. O clima já estava pesado o suficiente para nós. 

-Está a julgando como eu! Eu te conheço Sebastian, você fica assim pensativo quando começa a ver defeitos nas pessoas.

- Eu não precisei pensar, tem muita coisa que você ainda não sabe. - Pisquei a garota e antes que eu pudesse receber a sua resposta ouvi as suas amigas, Amber olhou para trás e ao voltar seu olhar a mim percebi que ela pensou em me dizer algo, mas ela não o fez apenas se afastando. 

Coloquei a mão no bolso voltando a olhar para a festa, uma música animada começava a tocar e várias adolescentes e alguns adultos foram parar no meio de jogos de luzes alugados por minha mãe para a ocasião e mexeram seus corpos de maneira animada de acordo com a batida da música. 

Duas coisas ali naquele momento certamente me integravam, um era não entender qual graça as pessoas viam em dançar e por qual motivo elas sorriam tanto... eu simplesmente não iria entender aquilo nunca.

- Sebastian! - Olhei para o centro da pista vendo minha irmã me chamar para dançar. Neguei com a cabeça tirando as mãos do bolso para poder cruzar meus braços. Não tinha chance de eu entrar ali e tocar meu corpo em outros corpos suados.

- Vai fazer desfeita na festa da sua irmã. - Alguém ao meu lado interrogou, virei meu rosto e observei Mary olhando a pista de dança com uma bandeja na mão. - Custa deixar seu ego de lado para fazer ela mais feliz?

- Isso se chama profissionalismo! Você não entenderia visto que não tem. - Comentei me defendendo embora quisesse dizer a ela que talvez cuidasse de seus problemas antes de se meter no problema dos outros.

- Deveria entender que profissionalismo você deve ter ao estar trabalhando, se quisesse ser profissional de modo geral não estaria em uma festa, além disso eu sei bem dividir as minhas personalidades bem e sei usar meu profissionalismo e sei me divertir e de vez em quando eu faço ambos.

Arqueei a minha sobrancelha e novamente a olhei sem acreditar que ela não ficaria calada independente da situação.

- Escuta, pelo quê minha irmã me disse você é o queridinho de Amber, use isso ao seu favor pois você tem dois irmãos que estão ao lado dela agora, então seja lá o que for que te impede de ir dançar, deixa de lado e vá se divertir, vale a pena se é por quem amamos.

Era meio difícil admitir que ela estava certa, não tinha chances de eu dizer aquilo em voz alta. Uma coisa era ela estar certa e a outra era eu aumentar seu ego o admitindo, porém eu precisava mostrar para ela que suas palavras não haviam me abalado e então virei meu corpo sua direção.

- Agora pode voltar a trabalhar. - Ordenei para que ela não me visse caminhar até a pista de dança e me apertar entre os corpos que se chocavam ao meu. Era só uma música. Apenas precisava dançar uma música e então poderia sair dali e aproveitar novamente de uma distância social. 

"É diversão, não surte."

- Adoraria saber o que a garota te disse. - Amber gargalhou ao que comecei a mexer meu corpo de forma desengonçada.

- Nada demais. - Revirei os olhos e rodei ali no meio entendendo um pouco do porquê eles amavam fazer aquilo mas foi meus olhos pararem em um lugar que eu vi o sorriso grande de Mary em minha direção. 

[...]

Mary Anne

Já se passavam de três horas da manhã da última vez que olhei no relógio, a festa havia acabado há alguns  40 minutos atrás.

Decidimos então dividir os trabalhos, Alice limpou todo o quintal mais cedo para ir embora e eu lavava toda louça suja além de limpar a cozinha que foi usada no processo de separação e distribuição de alimentos.

Deixei novamente a bandeja sobre a mesa e respirei fundo sentindo meus pés doerem com os movimentos, tinha certeza de que o pequeno machucado que estava em meu pé se transformou em um enorme, isso se não estiver com outras feridas entre eles.

-Ainda aqui? - Virei meu olhar ao Sebastian logo virando novamente terminando de limpar o último balcão.

- Estou terminando aqui e logo estou indo, tenho que chamar Lottie. - Caminhei com certa dificuldade pela cozinha enquanto me segurava para não gemer.

- Espero que seja breve. - Farpou. 

-Eu também. - Suspirei não querendo começar outra troca de farpas, não tinha forças suficientes e nem energia, se pudesse deitar no chão limpo da cozinha e dormir eu o faria.

-Bom... eu acho que sua irmã está dormindo agora, ela e Amber decidiram que iriam deitar mas passei lá na porta e ambas estavam roncando.

- É sério? - Perguntei virando meu olhar ao seu.

-Sério. Deixa ela dormir aí, amanhã eu levo ela.

- Bom, espero que isso não incomode seus pais. - Juntei todas as minhas coisas logo em seguida indo ate a porta.

- Tem alguém para te levar? - Escutei suas palavras um pouco baixas.

- Não, mas eu chego rápido é bem aqui pertinho.

-Insisto em te levar! - Ele apareceu atrás de mim com suas chaves. - Prometo que não irei te matar durante o trajeto.

- Você que deveria ter medo que eu o fizesse, mauricinho.

Eu estaria longe de aceitar a carona de Sebastian se no caso as horas me deixassem ir a pé porém era perigoso ir sozinha naquele momento então apenas adentrei seu carro em silêncio, em pensamentos positivos eu estaria em casa em menos de cinco minutos e isso era o suficiente para deixar a paz reinar em minha alma. 


Temporary Fix [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora